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sábado, 20 de novembro de 2010

Na Agontimé


O relatório final do Colóquio da Unesco sobre as Sobrevivências das Tradições Africanas no Caribe e na América Latina, realizado em julho de 1985, em São Luís do Maranhão declara:

A Casa das Minas foi fundada em São Luís do Maranhão, no Brasil, pela rainha Na Agontimé, mãe do rei Guezo do Daomé (atual Benin), condenada à deportação num acerto de contas no seio da família real antes que seu filho ascendesse ao trono em 1819â.
A confirmação destes fatos foi feita por Pierre Verger, pesquisador da tradição religiosa africana no Brasil, que em 1948, teve acesso aos nomes de certos vodus do culto daomeano, através da Mãe Andresa, da Casa das Minas, em São Luís do Maranhão.
Ainda no mesmo ano, realizando pesquisa na Costa da África, Verger descobriu que os nomes dos vodus da Casa das Minas eram conhecidos como sendo da família real do Daomé
Alguns dos nomes são conhecidos apenas pelos sacerdotes de Abomé (capital do Daomé/Benin). O fato de Verger ter encontrado esses nomes no Brasil, foi para os sacerdotes a prova de que existiam no Brasil descendentes de membros da família real.
A história começa com a luta pela sucessão ao trono de Daomé: O rei Agonglo do Daomé tinha como sucessor legítimo um dos seus filhos, o príncipe Adanzan (ou Adandozan), mas o caráter sanguinário deste fazia temer sua chegada ao trono, levando o pai (rei Agonglo) a consultar o oráculo (Fa) para saber se haveria uma escolha melhor.
O oráculo designou Guezo, um dos filhos mais jovens de Agonglo. Guezo foi então apresentado como sucessor, ficando Adanzan, como regente durante a menoridade do irmão. Ele governou 22 anos anos e Guezo teve que lutar para assumir o trono. Adanzan, que era filho de outra mulher do rei Agonglo, havia vendido aos mercadores de escravos da Costa, Na Agontimé, mãe de Guezo e uma parte de sua família.
Quando o rei Guezo quis encontrar sua mãe, encarregou Francisco de Souza (o Xaxá do forte Ajudá), o maior traficante de escravos, de intermediar essa busca. Dois enviados do rei levavam cartas de recomendação para os grandes plantadores dos países para onde eram levados os escravos comprados do Daomé.
Os enviados fizeram diversas viagens para as Antilhas e para o Brasil.
Uma outra pesquisadora, Judith Gleason, escreve que quando os emissários chegaram à Casa das Minas, à procura da rainha Na Agontimé para levá-la de volta a Abomé, explicaram-lhe que o seu filho, Guezo, havia apagado a memória de Adanzan da memória do reino. O próprio trono de Adanzan havia sido expedido para o Brasil, oferecido como presente do rei Guezo para a coroação do imperador Dom Pedro I. Pode ser esse o trono exposto atualmente no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Fonte: Anais do Colóquio da Unesco sobre as Sobrevivências das Tradições Africanas no Caribe e na América Latina; Verger, Pierre em âOs libertos - Sete caminhos na liberdade de escravos da Bahia no século XIX Ed. Corrupio; Sérgio Ferretti âQuerebentan de Zomadonu:Etnografia da Casa das Minas.