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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Mãe Stella do Opo Afonjá



Stella de Oxóssi foi a primeira mãe-de-santo a combater o sincretismo
Completando 80 anos, Maria Stella de Azevedo dos Santos, ou mãe Stella de Oxóssi, é uma dessas poucas pessoas que tiveram a importância reconhecida ainda em vida.
Mais que uma mãe-de-santo, destacou-se como intelectual - também foi a primeira ialorixá a combater publicamente o sincretismo religioso, ajudando na preservação da cultura negra. Por tudo isso, de hoje até domingo, a ialorixá receberá todas as honrarias merecidas com o Faraimará: mãe Stella - 80 anos.
Mãe Stella nasceu em 1924, em Salvador. Ainda adolescente, aos 13 anos, iniciou-se no candomblé. Tornou-se mãe-de-santo do Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais do estado, quando tinha 49 anos.
Contrariando a média das mães-de-santo do estado, terminou o curso universitário - é formada em enfermagem pela antiga Escola de Saúde Pública da Bahia.
Foi em 1980 que ela iniciou o seu movimento contra o sincretismo religioso. Fora sua participação no cenário do candomblé, mãe Stella também se destaca por sua atuação nos arredores do terreiro, com a ajuda diversas pessoas carentes da região.
Há 29 anos, Mãe Stella está à frente do Ilê Axé Opô Afonjá. Enfrentou o racismo de forma aberta nas suas formas mais disfarçadas, representando o Brasil na Conferência Mundial contra o Racismo ocorrida na África do Sul.
A Yalorixá também luta pelos símbolos e representação da religião afro-brasileira, colocando o "Candomblé" na qualidade de uma religião real.
Então, parabéns para nossa Odé Kaiodé, "o caçador que traz a alegria". Okê Aro!
Uma das mais importantes mulheres brasileiras é Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kaiodê, nome pelo qual atende Maria Stella de Azevedo, ialorixá do Ilê Axé Opo Afonjá, em Salvador.
Mãe Stella recebeu da Câmara de Vereadores da cidade a mais alta comenda para mulheres de destaque na Bahia: a Medalha Maria Quitéria.
Tal honraria e as inúmeras manifestações de carinho surgiram na vida de Mãe Stella por ser uma das mulheres batalhadoras, que lutam com todas as suas forças em defesa da especificidade cultural do candomblé, assumindo posições firmes contra o sincretismo religioso, servindo assim de bandeira para os demais terreiros do país, sendo, segundo Ildásio Tavares, Ogan Omi l'Arê (Ogan de Oxum mais velho da casa) a primeira ialorixá a combater publicamente o sincretismo.
Mãe Stella foi a primeira ialorixá a escrever sobre sua tradição religiosa e a vida nas comunidades-terreiro, em seu livro Meu tempo é Agora de 1993, atualmente esgotado.
Representando toda a força, dignidade e capacidade de criação das Iyá-mi(mães ancestrais), desfaz completamente a imagem criada em nosso meio, da mulher negra desprovida de valores, objeto sexual e incapaz de refletir ou participar da sociedade, que na verdade, ajudou a construir!
Em 1983, durante a II Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura, em Salvador, bem como em 1986 em Nova Iorque, na III Conferência, Mãe Stella manifestou-se contra a fusão dos orixás africanos com os santos católicos, afirmando:
"Nos tempos atuais, de total liberação, é bom lembrar que estas manobras devem ser abandonadas, assumindo cada um sua religião de raiz!"
Ao se falar de Mãe Stellla levanta-se o véu que encobria a mulher negra plena de dignidade e identidade, como se pode deduzir das afirmações de uma de suas filhas mais diletas, a Agbeni Cleofe Martins:
“Mãe Stella é a coragem do bem”! É uma transgressora pela vida, o que a aproxima muito do orixá Iansã. É a suma sacerdotisa que continua desenvolvendo o trabalho da Mãe Aninha (Oba Biyi) na religião dos orixás!
Num clássico artigo intitulado “Iansã não é Santa Bárbara” largamente difundido na INTERNET, várias Iyalorixás da Bahia reivindicam a pureza da tradição.
“As iyás e babalorixás da Bahia não querem também permitir mais que sua religião seja tratada como folclore, seita, animismo ou religião primitiva como sempre vem ocorrendo nesta cidade”.
Odé Kayode - Mãe Stella de Oxóssi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo.
A terra tremeu; algumas pessoas falavam:
"- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso".
Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão. A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da sobrevivência.
O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual a qualquer outra e ainda, não é politeísta, é monoteísta: acima de todos os Orixás está Olorum.
Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".