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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Olga do Alaketu - Minha mãe vai à África

Muitas viagens para a África

Filha de Iansã e Iroko, Olga de Alaketo foi homenageada na oitava edição do Alaiandê Xirê - Festival Internacional de Alabês, Xicarangomas e Runtós, realizado no final de agosto.
"Ela foi uma pessoa que levou o nome do Brasil muito ao exterior. Em todos os continentes ela já esteve. Minha mãe vai à África desde 1966. Foi para o primeiro festival quando a Nigéria foi emancipada. Ela foi convidada", conta Joselita.
São esperados amigos de mais de 40 anos e admiradores da ialorixá como o artista plástico Emanuel Araújo e o diretor do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (Ipac), Júlio Braga.
Perguntado às filhas o que a mãe gostaria de comemorar amanhã, Joselita fala emocionada.
"A saúde, o vigor que ela tinha como matriarca, líder de uma seita. Minha mãe é uma das mães-de-santo que dançava de forma muito bonita, como se estivesse bailando para santos muito bonitos, que fizeram muita caridade. Muita gente que hoje esqueceu que ela existe aprendeu muito com ela", conta.
O que ela gostaria de ver realizado continua as filhas, é o terreiro arrumado, organizado, sem esquecer, jamais, da união.
A mãe-de-santo representa a quinta geração da princesa Otampê Ojarô e é herdeira da família real Arô, da região de Keto (África Ocidental), de onde foram trazidos os fundamentos dos terreiros baianos mais tradicionais.
No final do século XVIII, durante a expansão do Daomé sobre o reino de Keto, no reinado de Akibiohu, duas netas do rei foram seqüestradas e vendidas como escravas na Bahia.
Uma delas era Otampê Ojarô, que, após nove anos trabalhando como empregada doméstica teria fundado já livre, o terreiro de Alaketo, em Salvador, no bairro de Matatu de Brotas.
Com a morte de mãe Olga quem assume o terreiro é sua filha mais velha, Joselita Francisca Barbosa, que estava muito emocionada durante o enterro e não quis dar entrevistas.
Para Janivaldo Barbosa, um dos seis filhos, a perda da mãe significa, além da ausência de alguém muito querido, a abertura de uma grande lacuna na cultura baiana.
"Dizem que ninguém é insubstituível, mas ela é. Ela esteve ao lado de figuras como Senhora e Menininha. Fez muito e vai continuar fazendo", afirmou o antropólogo Vivaldo da Costa Lima.
Orfandade - O diretor do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (Ipac), o antropólogo Júlio Braga, se referiu à grande filha de Iansã como um mito africano.
"Hoje (ontem) ficamos um pouco órfãos. Ela leva consigo uma biblioteca de conhecimento religioso e cultural, além de muitos ensinamentos de vida", disse. O presidente do Conselho Estadual da Cultura, Waldir Freitas Oliveira, também prestou solidariedade aos parentes no enterro.
"Só posso dizer que hoje é um dia de tristeza", resumiu.
A agbeni Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá, a advogada Cléo Martins, amiga de mãe Olga, não pôde comparecer à cerimonia, por estar em São Paulo acometida por uma bronquite.
Mas, em entrevista concedida por telefone, falou sobre o amor e a admiração que sente pela ialorixá. Ela não fazia questão de ser simpática e sim de ser ela, ser autêntica", acrescentou à amiga. Cléo confessa que não sabe como será o candomblé daqui para frente.
"Não perdemos uma pessoa que representa a religião, agora estamos sem parte do candomblé, estamos com um buraco na história", enfatizou.

Reportagem do Correio da Bahia - sem data