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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Os Obás de Xangô

O candomblé reproduziu na religião os postos de comando dos governos das cidades. O conselho do rei de Oyó, cidade de Xangô, inspirou a criação do conselho dos obás ou mogbás nos terreiros desse orixá.
Obás de Xangô é uma espécie de colegiado superior dos velhos do candomblé da Bahia.

Ministros de Xangô

Os obás, os ministros de Xangô, são os olhos e ouvidos do rei africano, o monarca da cidade africana de Oyó.
No Brasil, no culto ao orixá da justiça, desempenham papel fundamental ajudando de forma efetiva as ialorixás.
O cargo, ocupado por gente ilustre como Jorge Amado, Caymmi, Gilberto Gil, Verger e Carybé, continua presente no Ilê Axé Opô Afonjá, terreiro responsável pelo resgate, nos anos 30 do século XX, da figura do obá.

Deus da justiça

Há centenas de anos, o povo nagô habitava uma planície na África sob o governo do rei Abiodum.
A capital desse reino iorubá era Oyó, antigo acampamento usado pelos nagôs para domar búfalos.
Nessa terra, a sobrevivência era um contínuo desafio e o solo inóspito, séculos depois disputado por sua riqueza mineral, ainda não conhecia técnicas para domesticá-lo.
O rei Awolé, sucessor de Abiodum, não consegue melhorar a vida de seu povo e abdica em favor de Arôgangan, um grande caçador, que também não aplaca as revoltas de sua gente.
Em meio à crise, Oyó é invadida pelo valente Bêri, mais tarde denominado de Xangô.
O implacável guerreiro rapidamente domina a região e faz com que o rei ceda ao seu mando. Revoltados com o sinal de subserviência de Arôgangan, os nagôs surpreendentemente passam a obedecer ao novo líder. Um rei é aquele que nunca se curva.
Arôgangan, tentando resgatar a estima do seu povo, ecoa os dizeres: "Só as montanhas são comparáveis a Arôgangan, diante de quem todos deveriam baixar a cabeça, reconhecendo nele um grande potentado".
Numa inteligente estratégia, Xangô conserva o antigo rei no trono, mas toma conta do governo. Com o poder em suas mãos, ele abre guerra com tribos vizinhas e conquista inúmeros territórios para o povo iorubá.
Cada vez mais implacável e fortalecido, Xangô se torna o mais poderoso obá (rei em iorubá) dos nagôs.
É nesta época que aparecem Timim e Gbonká, dois grandes guerreiros de cidades sitiadas por Xangô, querendo aprender mais sobre a arte da guerra.
Timim é um lançador de flechas incandescentes e, por isso, o chamam de Agbalê Olofa Inan (o guerreiro que desprende flechas de fogo).
Já Gbonká, por ser um negro alto e forte, é denominado de Ébiri.
O rei Xangô ensina aos jovens inúmeras técnicas de combate, mas não todas, já que teme uma retomada do poder pelos próprios guerreiros que alicia.
Percebendo a crescente admiração do povo por eles, Xangô não hesita em mandá-los para uma batalha suicida.
Mas Timim e Gbonká conseguem escapar e, no retorno, desafiam o rei: se for para os matar que, então, os queimem vivos.
E é isso que Xangô faz. Manda construir uma fogueira, que arde sem destruir os guerreiros intrépidos. Desmoralizado, Xangô desaparece diante das tribos.
Logo depois, ouvem-se grandes trovoadas, tempestades e raios desabam sobre Oyó.
Os homens da nação nagô têm medo e dizem:
"Xangô se tornou um orixá". O maior guerreiro iorubá desaparece e, com ele, suas esposas favoritas: Oxum e Oyá (Iansã).
Timim e Gbonká voltam às suas terras de origem. Tempos depois, os ministros de Xangô (ou mangbás), antigos reis e soberanos de terras conquistadas, instituem um culto para reverenciar a memória do poderoso obá desaparecido.
Os mangbás atribuem a Xangô, no céu, os mesmos desejos que tinha na terra, como carne de carneiro e preparados com quiabo. Desta maneira, os doze ministros "não deixaram que a lembrança do herói se apagasse na memória das gerações".

Esta lenda, contada pelo professor Martiniano Eliseu do Bonfim, em 1937, no encerramento do II Congresso Afro-brasileiro, marcou sensivelmente os rumos do candomblé na Bahia.
O evento foi realizado no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Foi graças a essa narrativa sobre a divinização do homem Xangô que, no ano anterior, Eugênia Anna dos Santos, a Mãe Aninha, recriara no Centro Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá os 12 ministros ou obás de Xangô.

Nos dizeres de Martiniano, registrado no texto apresentado durante o evento: "Este candomblé, erigido em honra de Xangô, é o único na Bahia - e talvez no Brasil - a realizar essa festa, que tanta recordação boa trás para os filhos espirituais do povo africano".
Naquela época, a África começava a ser redescoberta pela Bahia e Martiniano seria um dos seus principais exploradores. Antigo colaborador de Nina Rodrigues e Edson Carneiro, Martiniano era filho de africanos e viveu 11 anos na Nigéria, país que atualmente detém o antigo território iorubá.
O velho negro era ajimuda do Opô Afonjá (importante cargo na hierarquia do candomblé) e conselheiro dos maiores terreiros do seu tempo, tendo inspirado o personagem Jubiabá do romance de Jorge Amado.
É inegável a influência que ele, grande conhecedor da história do povo nagô, exerceu na recriação desse verdadeiro ministério iorubá em plena roça de São Gonçalo do Retiro.
No Ilê Axé Opô Afonjá, ainda hoje os obás formam uma seleta hierarquia, abaixo somente da ialorixá e da iyá kekerê, mãe pequena e eventual substituta da mãe-de-santo.
A palavra obá tanto pode derivar do vocábulo iorubá, que significa rei, ou de mangbá, que são os sacerdotes do culto a Xangô. Obá também é o nome de uma das três esposas de Xangô.
Na Bahia, a criação dos obás trouxe ao culto de Xangô um importante exército de reforço. Reforço ainda maior quando listamos os nomes que, nestes quase 70 anos, ocuparam o importante posto: os escritores Jorge Amado e Antônio Olinto, os compositores Gilberto Gil e Dorival Caymmi, o artista plástico Carybé, os pesquisadores Vivaldo da Costa Lima e Muniz Sodré, o poeta Ildásio Tavares, o lendário Miguel Sant'Anna e seu filho Antônio Albérico de Sant'Anna e muitos outros.
Ao conselho inicial de 12 obás, mãe Senhora, sucessora de Aninha, ampliou para mais dois substitutos, os otuns e ossis, podendo-se chegar a um total de 36 homens escolhidos entre personalidades da vida intelectual, social e econômica de Salvador.
A importância do corpo de obás, assim como os principais episódios a eles relacionados, são temas que você vai conhecer nesta viagem pelo reino de Oyó recriado na Bahia.

Séquito de Xangô

Balbino de Paula fundou, junto com Verger, o Ilê Axé Opô Aganju, onde houve uma retomada da homenagem aos ministros do orixá.
Xangô é o orixá da justiça, da continuidade histórica e representa a força da vida e a luta pelo poder. Todos os mantenedores de Xangô, de alguma maneira, sustentam também essa energia.
É pela conservação da lei que Xangô carrega o oxê, um machado de dois gumes, que corta e decide com justiça implacável.
Aos obás de Xangô, do mesmo modo, cabe fazer justiça no Axé, ajudando a ialorixá nas obrigações religiosas e financeiras da casa ou em qualquer outra decisão importante.
O Ilê Axé Opô Afonjá foi criado por mãe Aninha, Eugênia Anna dos Santos, em 1910, como uma réplica do reino de Oyó, o reino de Xangô, dilacerado na Nigéria pelos árabes e hauçás numa guerra ocorrida 70 anos antes.
Após a débâcle, as tribos nagôs foram divididas, escravizadas e vendidas para países da América. O último Xangô encarnado, descendente do homem Xangô, era Afonjá, o alafin (chefe religioso e político) de Oyó durante a destruição do reino. E foi a Xangô Afonjá, seu orixá, que Aninha prestou homenagem na criação da nova casa.
Mais do que a recriação da corte de Oyó na Bahia, Aninha estava, simbolicamente, retomando a história nagô do ponto em que ela havia parado na África.
Porém, se no continente ancestral cada orixá era cultuado apenas em sua própria cidade, no Brasil, por conta da mistura de diferentes tribos, um terreiro reverencia vários orixás, apesar de ser regido por apenas um deles.
O xirê, ou roda dos orixás, é o poderoso "acordo diplomático" que marca a convivência entre deuses de povos distintos.
Inventado na Barroquinha, no xirê dançam juntos a Oxum e Logunedé dos ijexás, Xangô e Iansã dos oyós, Oxóssi dos ketos, Oxalá, Oxalufã e Oxaguiã dos aon efan. Alguns pesquisadores chegam a afirmar que existiam mais de 600 orixás na África pré-Imperialista, mas apenas duas dezenas deles sobrevivem hoje no Brasil.
Na opinião do poeta e otun obá Aré Ildásio Tavares, mãe Aninha também recriou a corte dos obás para solucionar o conflito entre o poder masculino e feminino no terreiro, então polarizado entre ela, a primeira ialorixá, e Teodoro Pimentel, Balé Xangô e figura influente na casa.
Desta maneira, ela "reconhece o poder masculino, mas também o desconcentra", acredita. A atual ialorixá do Afonjá, mãe Stella de Oxóssi, que mantém com pulso firme a soberania das mães-de-santo, afirma de modo sereno que o "charme" está exatamente na divisão entre os poderes.
"Os sexos têm funções determinadas e, nesta casa, homem nunca é babalorixá, mas tem os obás que fazem parte do importante séquito de Xangô", afirma categórica.

Função litúrgica

Para além das diferenças, tanto na Bahia quanto na África, os obás, sempre homens, devem ser divididos em dois grupos de seis.
Os obás da direita, que têm poder de voz e voto, e os da esquerda, que só podem ser consultados, mas não determinam os rumos do terreiro.
Nas cerimônias, os obás da direita também possuem uma distinção extra que é portar o xeré, o chocalho ritual de invocação e saudação a Xangô.
Todos eles, porém, possuem função litúrgica, não apenas no ciclo de festas dedicado a Xangô (que tem início no dia 29 de junho e dura 12 dias), como nas demais cerimônias da casa.
Eles têm ascendência sobre os ogãs, que são os servidores dos orixás de cada iniciado. Ao ogã do Xangô de Aninha, Arquelau Manuel de Abreu, coube o primeiro posto de obá Abiodum e a presidência perpétua da sociedade civil.
O comerciante Miguel Sant'Anna, primeiro obá Aré, foi encarregado pela ialorixá, em seu leito de morte, a ficar "aos pés do santo", como um dos mais próximos e fundamentais do Afonjá.
O tributo à história de Oyó fica ainda mais evidente durante a cerimônia de confirmação dos novos membros. Quando são confirmados, os obás recebem nomes alusivos às personalidades da cultura e da sociedade iorubá.
O obá Abiodum, por exemplo, evoca o alafin Abiodum, um dos últimos reis de Oyó. Já obá Aré é um título oficial, indicando preeminência sobre os demais, e Kankanfô o primeiro dos títulos na organização militar.
Arolu e Odofin muito certamente significam títulos da sociedade secreta dos ogboni, enquanto um nome próprio da família real de Oyó é recordado através do obá Telá.
O primeiro dos obás da esquerda, Anaxocum, rememora um dos Baba Obá (pai do Rei), enquanto obá Areçá e obá Elerim foram dirigentes de cidades iorubanas.
Os primeiros chefes das províncias metropolitanas de Oyó, Onicoí e Olugbom, também são lembrados em nomes de obás da mão esquerda.
Quanto a Xorum é o título de Basorum, que em Oyó denominava o responsável pela abertura do obi, um fruto divinatório ainda hoje usado no candomblé.
Essa lista de obás difere um pouco da apresentada por Martiniano à época do Congresso Afro-Brasileiro, porém, é a confirmada atualmente.
No Ilê Axé Opô Aganju, criado em honra a Xangô pelo babalorixá Balbino de Paula, um dos primeiros filhos-de-santo de mãe Senhora, e pelo fotógrafo Pierre Verger, também houve uma retomada da homenagem aos ministros do orixá.
Neste terreiro, localizado em Lauro de Freitas, o corpo de servidores de Xangô foi recriado com diversas modificações, entre elas, o próprio nome, já que aí eles são chamados de mangbás.

fonte:
artigos do Jornal Correio da Bahia

O conselho de Obás

O Ilê Axé Opô Afonjá foi criado por mãe Aninha, Eugênia Anna dos Santos, em 1910, como uma réplica do reino de Oyó, o reino de Xangô, dilacerado na Nigéria pelos árabes e hauçás numa guerra ocorrida 70 anos antes.
Após a débâcle, as tribos nagôs foram divididas, escravizadas e vendidas para países da América. O último Xangô encarnado, descendente do homem Xangô, era Afonjá, o alafin (chefe religioso e político) de Oyó durante a destruição do reino. E foi a Xangô Afonjá, seu orixá, que Aninha prestou homenagem na criação da nova casa.
Mais do que a recriação da corte de Oyó na Bahia, Aninha estava, simbolicamente, retomando a história nagô do ponto em que ela havia parado na África. Porém, se no continente ancestral cada orixá era cultuado apenas em sua própria cidade, no Brasil, por conta da mistura de diferentes tribos, um terreiro reverencia vários orixás, apesar de ser regido por apenas um deles.
O xirê, ou roda dos orixás, é o poderoso "acordo diplomático" que marca a convivência entre deuses de povos distintos. Inventado na Barroquinha, no xirê dançam juntos a Oxum e Logunedé dos ijexás, Xangô e Iansã dos oyós, Oxóssi dos ketos, Oxalá, Oxalufã e Oxaguiã dos aon efan. Alguns pesquisadores chegam a afirmar que existiam mais de 600 orixás na África pré-Imperialista, mas apenas duas dezenas deles sobrevivem hoje no Brasil.
Na opinião do poeta e otun obá Aré Ildásio Tavares, mãe Aninha também recriou a corte dos obás para solucionar o conflito entre o poder masculino e feminino no terreiro, então polarizado entre ela, a primeira ialorixá, e Teodoro Pimentel, Balé Xangô e figura influente na casa.
Desta maneira, ela "reconhece o poder masculino, mas também o desconcentra", acredita. A atual ialorixá do Afonjá, mãe Stella de Oxóssi, que mantém com pulso firme a soberania das mães-de-santo, afirma de modo sereno que o "charme" está exatamente na divisão entre os poderes.
"Os sexos têm funções determinadas e, nesta casa, homem nunca é babalorixá, mas tem os obás que fazem parte do importante séqüito de Xangô", afirma categórica.

Obas de Xangô

Luís Domingos de Souza
Manoel Rodrigues Carrera
Marco Aurélio Luz
Mario Bastos
Mário Cravo
Miguel Franco
Miguel Santana
Muniz Sodré
Santiago Codes
Sinval da Costa Lima
Tadeu Alves de Souza
Ubirajara
Vivaldo da Costa Lima