Seguidores

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A pujança nagô na negra Bahia

Introduzidas no Brasil com a escravidão, as culturas negras imprimiram, cada uma com suas peculiaridades e em diferentes graus, marcas profundas em quase toda a extensão da alma e do território brasileiras.
E na Bahia essa presença - que se recria hoje em importantes instituições como as comunidades terreiro - é devida basicamente à cultura dos nagôs, não que, vinda da África Ocidental, foi, entre o fim do século XVIII e o fim do século XIX, das últimas a serem escravizadas no Brasil.
Kêtu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos nagôs que vieram para a Bahia provenientes da grande área ioruba que compreende sul e centro da atual República de Benin, ex-Daomé; parte da República do Togo: e todo sudoeste da Nigéria.
E todos eles - com destaque para os Kêtu contribuíram decisivamente para e implantação da cultura nagô naquele Estado, reconstituindo suas instituições e procurando adaptá-las ao novo meio, com o máximo de fidelidade aos padrões básicos de origem, fidelidade essa em parte facilitada pelo intenso comércio que se desenvolveu entre a Bahia e a costa ocidental da África durante todo o século XIX até os primeiros anos que se seguirem à Abolição.
Dentre as instituições dos nagôs que floresceram na Bahia, certamente uma das mais fortes é a tradição dos Orixás. Com efeito, desde princípios do século XIX, apesar de a única religião autorizada no Brasil ser a católica, as casas de culto dedicadas à adoração dos orixás já eram bem conhecidas. Por essa época, os cultos protestantes só eram permitidos quando realizados por europeus, e a religião tradicional africana era reprimida inclusive através da violência policial.
Durante o cativeiro, uma das únicas coisas que não se pôde roubar ao negro foi a fé religiosa. E essa fé foi sempre um fator de aglutinação à continuidade. Assim, a religião impregnou todas as atividades nagô brasileiro influenciando até a sua vida profana. Recriando, então, aqui, nas comunidades-terreiro, o espaço geográfico da África e sua herança cultura, foi justamente através da religião que o nagô conservou um profundo sentido de comunidade e transmitiu de geração a geração as raízes de sua cultura.
Além dos orixás, entidades divinas, poderes e patronos de forças puras da natureza emanadas da entidade suprema Olorum, os nagôs e seus descendentes sempre cultuaram também os antepassados, os Egun - aqueles espíritos de indivíduos que depois se converteram em ancestrais, em "pais" (Baba Egun). O culto aos antepassados, entretanto, não pode em hipótese alguma se confundir com o culto aos orixás, já que cada um deles tem doutrina e liturgia próprias.
Nos terreiros onde se renova a tradição dos orixás se cultuam também os mortos da casa e os grandes fundadores e fixadores da religião. Esses mortos ilustres são invocados no Padê, uma cerimônia propiciatória, assentados e consagrados no Ilê Ibô Aku, a casa de adoração aos mortos, situada num espaço separado do templo dos orixás.
Mas o culto a esses mortos, repetimos não se confunde nunca com o culto aos orixás. E nem se confunde também com o culto aos Eguns, que são aqueles antepassados que tiveram o merecimento de ser preparados para sua invocação em forma corporizada.
O culto aos Eguns se realiza em terreiros específicos. O espaço onde se reverencia a memória dos antepassados é o Ilê Igbalé - representação de uma antiga clareira existente no amago da floresta africana e consagrada aos Egun. Nestes terreiros, a invocação dos ancestrais é a própria essência e a razão maior do culto. 


fonte: Projeto Egungun
http://orixas.sites.uol.com.br/agboula/egungun.html#agboula