Seguidores

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TEN - Teatro Experimental do Negro



Ao fundar o TEN – Teatro Experimental do Negro, em 1944, Abdias do Nascimento tinha por objetivo primordial inserir o negro no teatro brasileiro enquanto temática e, sobretudo, como criador cênico e intérprete dramático.
Mais tarde, Abdias lembrou em um ensaio (“Teatro Negro no Brasil – Uma Experiência Sócio Racial”, Caderno Especial 2 da Revista Civilização Brasileira, 1968) que no século 18 a profissão do ator era considerada “desprezível, a mais vergonhosa de todas, abaixo das mais infames e criminosas”, sendo então permitido aos negros – e praticamente só aos negros – se dedicarem ao teatro.
Consolidada a atividade teatral após a vinda da família real, no início do século 19, inverteu-se a situação: rapidamente o negro foi excluído da cena. Nas peças em que havia algum personagem negro, aparecia um branco com o rosto pintado, para interpreta-lo.
Aos raros atores negros eram destinados papéis caricatos, de empregadinhos malandros, engraçados, inconseqüentes. Lembrou, também, a escassa presença de personagens negros na dramaturgia, a despeito da grande população negra e da sua importância no desenvolvimento sócio-cultural do país.
O TEN estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a 8 de maio de 1945, com a peça de Eugene O´Neill "O Imperador Jones", direção de Abdias do Nascimento, cenários de Enrico Bianco e elenco encabeçado por Aguinaldo de Oliveira Camargo, cujo desempenho foi saudado pela crítica como excepcional.
A falta de dramas nacionais adequados aos propósitos do grupo, levou à escolha de outra peça de O´Neill na temporada seguinte: "Todos os Filhos de Deus Têm Asas", apresentada no Teatro Fênix, em 1946, com direção de Aguinaldo Camargo, cenários de Mário de Murtas, lançando uma atriz que se firmaria entre as maiores do nosso teatro: Ruth de Souza.
Ano seguinte, encenou o primeiro original brasileiro do seu repertório: "O Filho Pródigo", de Lúcio Cardoso, com cenários de Santa Rosa. Seguiu-se "Aruanda", de Joaquim Ribeiro, sinalizando um veio dramatúrgico de temática negro-africana no Brasil.
Estes e os espetáculos que o Teatro Experimental do Negro produziu nos anos 50 e 60 marcaram pelo rigor estético e vigor dramático, constituindo um dado relevante não apenas à discussão das questões do negro brasileiro, mas à própria estética do teatro nacional.
Além das produções cênicas, o Teatro Experimental do Negro promoveu seminários, encontros e publicações sobre o tema. No referido artigo publicado no Caderno Especial 2 da Civilização Brasileira, Abdias do Nascimento concluiu:
“O Teatro Experimental do Negro é um processo. A Negritude é um processo. Projetou-se a aventura teatral afro-brasileira na forma de uma antecipação, uma queima de etapas na marcha da História. Enquanto o negro não desperta completamente do torpor em que o envolveram. Na aurora do seu destino, o Teatro Negro do Brasil ainda não disse tudo ao que veio”.
fonte:
Com o TEN Abdias Nascimento buscou a inclusão do negro na esfera de criador cênico.
por Sebastião Milaré
de sua revista eletrônica Anta Profana
http://www.antaprofana.com.br/
materia_atual.asp?mat=175