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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Agboli-Agbo Dedjlani, rei de Abomé, Benim (Fon)

Agboli-Agbo Dedjlani é o atual rei da dinastia Dan-Home - Abomey, Benin (Dahomey), África.
O policial Dedjlani aguardou seis anos para aposentar-se e dar sequencia a sua cerimonia secreta de coroação.
Não ha oficialmente um rei no Benim. Mas a 30 de setembro de 1989, Dedjlani aos 54 anos de idade, calçou os sapatos reais e tornou-se o rei de Abomé.
Mesmo sendo monogâmico foi obrigado a casar-se com mais duas esposas para cuidarem de seu lar real. 
Durante as procissões reais em Abomé, a tradição requer que ele seja abrigado pelo guarda-sol com seu emblema. O tapa nariz é um enfeite usado para proteger as narinas da poeira. Esse protetor de nariz data do século XIX e foi herdado do rei Gbehanzin. 
Uma das esposas tem que estar sempre junto carregando a escarradeira real. O rei também tem que usar seu cetro durante a permanência. segurando-o em sua mão ou apoiado em seu ombro, é mais do que um símbolo, o cetro é o rei.
Como prova de respeito, seus súditos só podem se aproximar do rei descalços e prostrando-se de bruços com o peito nu.
Treze reis sucederam-se no Abomé, cada qual com seu novo nome e seu símbolo emprestados de alguma passagem alegórica que evoca sua carreira, sua visão e seus planos.


Abomé


Abomey (Abomé ou Abomei são formas aportuguesadas também utilizadas) é uma cidade e província do Benim. Tem cerca de 70 mil habitantes. 
Na cidade localizam-se os Palácios Reais de Abomei, monumento classificado como património da humanidade.
Abomey era a capital do antigo reino do Daomé (que era situado onde é agora a nação africana ocidental do Benin). O reino foi estabelecido aproximadamente em 1625.
A capital, que se chamava Abomey, tem hoje o nome de Porto Novo. A palavra deriva de Dã ho mê. Dã seria o nome do chefe da tribo e significa serpente; ho mê significa no ventre. Daomé significa, assim, "no ventre da serpente". 
O império que existiu historicamente do século X até 1897 era governado pelo Oba de Benin, cuja capital se situava na atual Benin City na Nigéria, é facilmente confundido com a república do Benin, anteriormente colônia francesa do Daomé, vizinho a oeste da Nigéria.
O reino foi fundado no século XVII e durou até o final do século XIX, quando foi conquistado com tropas senegalesas pela França e incorporado às colônias francesas da África Ocidental.
As origens do Daomé podem ser traçadas a partir de um grupo Adjá do reino costeiro de Aladá que se deslocou para o norte e estabeleceu-se entre povos fon do interior. 
Por volta de 1650, o adjá conseguiram dominar os fons e o Hwegbajá declarou-se rei de seu território comum. 
Tendo estabelecido sua capital em Agbome, Hwegbajá e seus sucessores conseguiram estabelecer um Estado altamente centralizado com base no culto da realeza estruturado em sacrifícios (incluindo sacrifícios humanos) aos antepassados do monarca. 
Toda a terra era propriedade direta do rei, que coletava tributos de todas as colheitas obtidas.
Economicamente, entretanto, Hwegbajá e seus sucessores lucraram principalmente com o tráfico de escravos e relações com os escravistas estabelecidos na costa. 
Como os reis do Daomé envolveram-se em guerras para expandir seu território, e começaram a utilizar rifles e outras armas de fogo compradas aos Europeus em troca dos prisioneiros, que foram vendidos como escravos nas Américas. 
No reinado de Rei Agadjá (1716-1740) o reino conquistou Aladá, de onde a família governante se originou desse modo ganhando o contato direto com os comerciantes de escravos europeus na costa. 
Não obstante, Agadjá era incapaz de derrotar o reino vizinho de Oió, principal rival do Daomé no comércio de escravos e, em 1730, transformou-se um vassalo de Oió, embora conseguisse ainda manter a independência do Daomé.
Mesmo como um Estado vassalo, o Daomé continuou a expandir e florescer através do comércio escravista e, mais tarde, através da exportação de azeite de dendê produzido em grandes plantações. 
Pela estrutura econômica do reino, a terra pertencia ao rei, que detinha o monopólio de todo o comércio.
O Daomé foi enfim conquistado pela França em 1892-1894. A maioria das tropas que lutaram contra o Daomé eram compostas por africanos nativos, a isto se acrescentou o sentimento de hostilidade contra o reino, particularmente entre os iorubás, levando à sua derrota final.
Em 1960 a região alcançou a independência como a República de Daomé, que mudou mais tarde seu nome para Benin.


O nome Abomey


Para fortificar e proteger a capital de seu reino contra invasões, o rei Hwegbajá decidiu construir fossos que mediam oito metros de profundidade e seis de largura além de erigir altas muralhas em volta de toda a cidade.
Essas trincheiras eram chamadas "agbodo", e o território que elas circunscreviam era chamado "agbodomè" em língua fon ou simplesmente "agbomè" que significa” no interior do fosso". 
Foi a partir desse termo que os franceses começaram a chamar a cidade de "Abomey". 


Voduns


A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é indispensável para compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a migração do Ewe/Fon. 
Alguns estudiosos da cultura africana achavam que todos os Voduns cultuados em Dahomey eram deuses originários dos iorubanos. 
Um equívoco! Trata-se simplesmente de uma troca de atributos culturais de cada região. 
Em todas as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam ancestrais ou vindos de outras regiões, mas preferencialmente cada região cultua seus próprios deuses, os ancestrais.
Os deuses estrangeiros podem ser aceitos inteiramente nos santuários dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como estrangeiros. 
O mesmo tratamento é dado em terras iorubanas aos Voduns originários de outras regiões. 
Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o principal reino da história do atual Benin.
Seu poderio militar formado por bravos guerreiros e amazonas era temido por todos os reinos vizinhos que foram sendo conquistados. 
O exército do rei era dividido em duas partes: o regimento permanente e o regimento das coletas tribais (prisioneiro). 
Esses prisioneiros eram treinados para serem guerreiros do rei e as mulheres, em especial, eram enviadas ao regimento das amazonas onde aprendiam a lutar. 
Os prisioneiros que se negavam a aderir às causas do rei eram sumariamente executados ou vendidos como escravos. 
Os chefes das tribos conquistadas ficavam reservados para serem executados durante o festival anual de ancestrais, em memória dos reis mortos. 
Suas cabeças eram decapitadas e seu sangue oferecido aos falecidos reis. Essa pratica aconteceu do séc. XVI até o séc. XVII. 
O reino de Dahomey foi o maior exportador de escravos para o nome mundo.
Adja-Tado foi quem começou esse grande império de Dahomey. Primeiro conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei, casou e teve três filhos. 
Quando seus filhos já eram guerreiros, Adja-Tado foi a Allada junto com eles e estabeleceu o reino de Allada. Seus filhos se dividiram e estabeleceram reinos separados e tornaram-se reis. 
O primogênito Zozergbe foi rei de Porto Novo, o segundo filho foi sucessor de Adja-Tado no trono de Allada e o terceiro filho, Aklim fundou o que mais tarde seria o principal reino da região. 
Aklin foi para Ghana e Bahicon (agora Benin, sul-central), com seu exército, e estabeleceu outra dinastia, a cidade de Abomey, que foi a capital do império militar, conhecida como Dahomey. 


Dahomey foi governada por um total de treze reis divinizados, por quase dois séculos.


Houégbadja 1645-1685 
Akaba 1685-1708 
Agaja 1708-1732 
Tégbésu 1732-1774 
Kpengla 1774-1789 
Agonglo 1789-1797 
Adandozan 1797-1818 
Gézo 1818-1858 
Glèlè 1858-1889 
Gbèhanzin 1889-1894 
Agoli-Agbo 1894-1900 
Agassu, que era um dos líderes do império, dizia ser filho de um leopardo com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela teria sido encantada por esse leopardo originando o nascimento de Agassou.
Agassou teve três filhos e deu início a uma linhagem de homens leopardo.


Leitura interessante


Título: Os Dois Reis do Danxome: Varíola e Monarquia na África Ocidental 1650-1800
Autora: Claude Lépine


Claude Lépine encarregou-se, nesta obra, da difícil tarefa de desvendar as tensões político-religiosas de uma sociedade distante de nós no tempo e no espaço. 
Para compreender a história do Danxome (ou Dahomé), Lépine, como antropóloga experiente e pesquisadora apaixonada que é se valeu de um levantamento exaustivo das fontes históricas, desde as mais antigas, dos cronistas, até as mais importantes obras recente (como por exemplo, a de Meilassoux sobre a escravidão africana), aliando a isso, além de seus conhecimentos de etnomedicina, o conhecimento profundo que ela tem da mitologia da região. 
O foco de sua análise são os significados e as funções da varíola, doença personificada pelo orixá Sakpata, e a utilização da crença nessa poderosa divindade, pelos sacerdotes representantes da população autóctone do abomey que, no século XVII, acabou sendo dominada por invasores Aja vindos do sul, formando-se nesta superposição o reino de Danxome, governado por um monarca do povo invasor. 
Claude Lépine nos mostra como a luta de resistência a esse rei e seus prepostos tem no culto de Sakpata a sua força ideológica. 
Tal qual os judeus, cativos na África, deram a entender que as sete pragas do Egito eram um castigo de Jeová, assim o povo de Danxome entendeu que a divindade ancestral Sakpata (que corresponde em outras regiões africanas a Omolun, Obaluaiyé, Buruku, Sòpònnà), castigava com as epidemias de varíola o despotismo do rei que não mais representava os interesses das velhas linhagens locais, e os desvios provocados nas tradições pela dominação estrangeira. 
Conseguiu Lépine, assim, fazer uma "História de dentro" desse período, tal qual Marshall Sahlins conseguiu fazer uma história "de dentro" (no caso, do ponto de vista dos ilhéus do pacífico) da tragédia do capitão Cook. Pesquisas como estas representam uma contribuição importante da antropologia, recuperando a investigação diacrônica nesta disciplina. 
Além disso, é importante para um país que tem grande número de descendentes de africanos, também dessa região do golfo de Benin, recuperar aspectos da história pré-colonial da África, como "devolução" de uma memória que a escravidão aqui pagou. 


Resenha de Silvia M. S. Carvalho
Rei fotografado por Daniel Lainé entre 1988 e 1991