A oeste de Djenné, no povoado de KougKoun, se situa esta curiosa edificação construída, aparentemente, com propósito de culto.
Em muitos lugares do mundo a arquitetura de terra marca a paisagem, como uma verdadeira testemunha da história e cultura.
Recentemente a terra tem conhecido uma nova estação de glória como material "natural" e econômico, com bom desempenho como isolamento térmico.
Se o nascimento do estilo "sudan-saheliano" tinha gerado, no período colonial, curiosidade pelas formas de terra crua, o recente interesse em tecnologias apropriadas a redescobriu, fazendo um uso sempre maior da terra "estabilizada".
O ato de construir com a terra requer uma magia particular, derivada do fato de trabalhar o elemento mais essencial e fecundo do nosso planeta.
A fertilidade desse material parece gerar, em quem faz uso dele, uma criatividade especial, que os leva a se demorar no prazer de modelá-lo até fazer nascer, de suas próprias mãos, suaves formas redondas, gostosas de serem acariciadas.
Mesmo a arquitetura revela um profundo sentido criativo e, ao mesmo tempo, o espetáculo de um prazer.
Prazer dos sentidos, que contamina o espaço doméstico e comunitário de uma dimensão erótica, tamanha é a intensidade de expressão provocada pela liberdade de conceber formas nascidas do ventre da terra.
Na maioria das casas de terra predomina uma harmonia singular, devido ao uso de um material único, combinado à qualidade dos espaços e dos ritmos determinados pelas tradições construtivas dessa pratica arquitetônica.
Dos interiores, modestos ou suntuosos, emana quase sempre uma excitante espiritualidade e uma sensualidade tonificante.
Além dessas características de caráter espiritual, as arquiteturas de terra detêm também consideráveis qualidades de bem-estar térmico: são frescas no verão e quentes no inverno.
Os espessos muros de terra constituem uma eficaz proteção contra os excessos climáticos externos, contribuindo com a regulagem térmica natural que, inclusive, garante uma relevante economia energética.
São conhecidas pelo menos doze formas de uso da terra para construção. Sete estão entre os mais utilizados e que constituem os modos principais:
Adobe, Pisé (taipa de pilão), Terra palha, Torchis, Façonnage, Blocos compactados e Bauge.
Hoje em dia as mais utilizadas são as técnicas do adobe, do pisé e dos blocos compactados, todos eles objeto de pesquisas cientificas e tecnológicas.
O nome adobe, muito conhecido no Brasil graças às técnicas construtivas trazidas das Américas pelos portugueses e espanhóis, vem da palavra árabe el toub, que designa um bloco de terra (de preferência argilosa) e água, seco ao sol, às vezes com palha.
Antigamente esses blocos eram formados a mão (na África, o processo é todo manual até hoje); depois passaram a ser fabricados com moldes de diversas formas prismáticas, em madeira ou metal.
fonte:
Arquitetura da terra
Luciano Devià