Seguidores

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A arte do penteado africano

Os africanos criaram formas complexas de penteados indicativas de status.
Algumas consistem em barbear a cabeça, tingir o cabelo com terra vermelha e gordura, clareamentos com amônia, e endurecimento com excremento animal.
Entre os Masai, por exemplo, mulheres e civis barbeiam suas cabeças enquanto os guerreiros amarram três partes de finas tranças na frente e uma longa cauda nas costas ate a cintura.
As mulheres Mangbetu arrumam as finas mechas sobre uma forma cilíndrica com um topo alargado, espetado por agulhas feitas de osso que também se usam para a manicure.
Alguns desses cabelos levam horas para fazer, e duram semanas.
Mais simples do que os penteados das mulheres Miango, que penteiam seu cabelo coberto por lenço, para trás em uma longa cauda, amarrada por ramos de folhas, ou as moças Ibo, que barbeiam suas cabeças e em seguida deixam o cabelo crescer apenas de acordo com um padrão elaborado desenhado em seu crânio.
A importância do cabelo na comunidade africana remonta aos ancestrais.
Apesar das texturas variarem muito, os africanos expressam pontos de vista comuns a respeito do significado cultural e social dos penteados.
Significado social
No principio do século XIV, os penteados eram carregados de simbologias na maioria das sociedades africanas.
Esses africanos, cidadãos Mende, Wolof, Ioruba e Mandingo foram todos transportados para o novo mundo em navios negreiros.
Entre essas comunidades, o cabelo comunicava muitas vezes, o estado civil, a identidade étnica, religião, riqueza, e status na comunidade.
Os penteados também indicavam a região geográfica.
Na cultura Wolof as jovens barbeavam parcialmente seus cabelos para comunicar que não estavam interessadas em cortejar.
E os povos Karamo da Nigéria, por exemplo, eram reconhecidos por seu penteado original, um tufo de cabelo sobre a cabeça raspada.
Da mesma forma as viúvas deixavam de cuidar de seu cabelo no período de luto, para não tornarem-se atraentes para os homens.
As lideres das comunidades usavam penteados elaborados. E a realeza usava muitas vezes perucas ou chapéus como símbolo de sua posição.

O significado estético

A aparência estética era tão importante quanto o significado social.
Nas comunidades oeste africanas as mulheres admiram uma bela cabeça com longos e grossos cabelos.
A mulher de cabelos longos demonstra sua vitalidade, profusão, prosperidade, mão fértil para o plantio e filharada saudável.
Todavia, o sentido estético da beleza sempre prevaleceu sobre o significado.
Antes de tudo o cabelo tinha que ser bonito, limpo e bem penteado.
Esses penteados não estavam limitados apenas em tranças e birotes. Também eram enfeitados por ornamentos como missangas e búzios.

O significado espiritual

Tal como o valor estético e social, motivos espirituais também serviam para elevar seu significado.
Muitos africanos acreditavam que o cabelo servia como um meio de comunicação com as divindades.
O cabelo sendo a parte mais elevada do corpo significa proximidade com o divino.
Por isso, muitos acreditavam que essa comunicação se dava através do cabelo.
Muitos acreditavam que uma pequena mecha de cabelo podia ser usada para encantamentos e bruxaria.
Isso explica porque os cabeleireiros ocupavam e ainda ocupam uma posição privilegiada na comunidade.

Os efeitos devastadores do trafico de escravos

Sabemos que o trafico de escravos não infligiu apenas danos físicos como deixou profundas cicatrizes emocionais.
A cicatriz mais devastadora e que se reflete ainda hoje foi o dano causado na imagem da raça negra.
Essa verdade é muito sentida quando se refere ao cabelo e cor de pele. Por serem os símbolos raciais mais evidentes.
Os escravocratas muitas vezes os descreviam como lanosos, associando-os com animais.
Esses e outros termos seriam usados mais tarde para justificar o tratamento desumano dado aos escravos.
Após anos de repressão, considerando bem apenas aqueles que possuíam cabelos lisos e pele clara obtinham melhores oportunidades, os negros começaram a internalizar essas palavras.
Consequentemente começou o ódio mutuo.

A história

O cabelo trançado é uma arte antiga, passada de geração em geração na África. As origens dessa forma de arte podem ser atribuídas aos egípcios de 3550 AC.
Cada região da África tem seus penteados tradicionais e cada tribo sua estética particular.
Em muitos países oeste africanos, o trançado foi se desenvolvendo em padrões complexos sinalizando o status individual, idade, e filiação étnica.
Alguns penteados eram usados apenas em ocasiões cerimoniosas como casamentos e ritos de passagem.
Por ser uma forma de arte e moda feminina, isso não impediu que em algumas regiões esses penteados também fossem usados pelos homens.
As moças sempre foram cuidadas e penteadas por mulheres mais velhas, como irmãs, mães, avós, primas e tias.
Elas aprendiam primeiramente pela observação e depois pela pratica. Em geral as jovens desenvolvem suas habilidades praticando em seus colegas. ou em moças mais jovens, porque mulheres mais velhas não querem ser penteadas por ninguém mais jovem que elas.

Cachos Rasta ou Dread locks (dread - assustar)

Os Dread locks, algumas vezes chamados de dreads ou locks, são cordas de cabelo que se formam sozinhas, se o cabelo ficar por conta própria, sem escovar, pentear, aparar por um longo período.
Esses locks são um fenômeno universal e que foram usados em varias culturas através dos tempos.
Pode-se dizer que esse foi o mais antigo e universal de todos os penteados.
Tem feito parte da historia de todas as religiões.
Da Cristandade ao hinduísmo, os cachos foram o símbolo da pessoa altamente espiritualizada que tentou chegar mais perto da divindade.
Se pesquisarmos nos livros sagrados a sua historia, veremos que esses cachos são mencionados em varias passagens e culturas (na Bíblia, Sansão usava seu cabelo em cachos, e sua força insuperável foi perdida quando Dalila cortou suas mechas).
As raízes dos Dread Locks datam do período Hinduísta e de seu Deus Shiva.
Ha outras opiniões sobre suas origens africanas, mas não se sabe de que parte, como ou quando. Tal como a maioria das origens africanas os dread locks podem ter surgido em Kemet (África).
Porque o cabelo é tão importante para sacerdotes e templos? O cabelo é um grande receptor e emissor. Mesmo quando o cabelo cai do corpo, não perde suas qualidades, e pode ser um grande perturbador no fluxo da energia.
Antes dos animais serem sacrificados tem seus pelos atentamente observados pelos sacerdotes.
Não é qualquer carneiro ou gado que pode ser usado em uma cerimônia, somente o sacerdote é quem pode determinar essas condições.
Olhos destreinados podem considerar qualquer animal apropriado, mas se alguma parte do pelo estiver com problemas, é improprio para uso.
Sabemos que vários faraós usaram esses cachos, e na múmia de Tutancâmon seus dread locks estão intactos.
Na África pré-colonial, curandeiros e sacerdotes de varias partes, usavam cachos. As religiões que sucederam as tradicionais adotaram essas ideias de usar cachos ou raspar todos os pelos do corpo.
Pela Bíblia, aqueles que não se barbeiam, não bebem álcool ou comem carne são os mais próximos de Deus. Jesus é sempre mostrado com cabelo longo. No Islam, barbear é sinal de limpeza.
Por isso associar esses cachos apenas com o Rasta-farianismo é algo injusto.
Na historia do povo negro, o Rastafarianismo tornou-se um movimento politico-espiritual, desde que a profecia de Marcus Garvey foi cumprida.
Isso trouxe aos negros uma chama de esperança, o que fez os Rastafaris adotarem o estilo dos sacerdotes africanos.