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sábado, 22 de outubro de 2011

Biblioteca Alexandrina - Egito

Alexandria, ou Iskanderiya em árabe, foi fundada por Alexandre Magno, rei da Macedônia há mais de 2.300 anos. Ela foi, na Antiguidade, um polo florescente onde se destacava um planejamento urbano muito original feito pelo arquiteto Dinócrates.
Inicialmente, sua localização era em uma ilha, que gradativamente transformou-se em uma península, ligada ao delta do Nilo por um estreito istmo.
Alexandria na Antiguidade mais rica e importante que Atenas e Antioquia - foi cosmopolita, culta e tolerante. Nela viviam egípcios, gregos, macedônios e romanos.
O grego era então a língua dominante. Os gregos edificaram na cidade um fascinante microcosmo de sabedoria, dando a sua gente um caráter saudavelmente inquieto.
A capital mediterrânea era o símbolo da cultura, com um complexo científico que foi um polo difusor do saber e, talvez, o primeiro centro formal de pesquisa da humanidade.
Essa concepção de produção organizada do saber pode ser considerada como embrião da cultura monástica medieval e também das universidades, que surgiram no mundo ocidental 15 séculos depois.
Hoje, Alexandria – a segunda cidade do Egito tem cerca de quatro milhões de habitantes.
Ao longo do extenso passeio que margeia as duas lindas baías mediterrâneas, existem edifícios modernos e imponentes.
O mar verde-azulado é coalhado de embarcações de passeio que se misturam com pequenos barcos pesqueiros. Revoadas de aves marítimas enfeitam a paisagem.
Mas, parece que se sente ainda forte o magnetismo daquilo que a cidade representou no passado nas muitas imponentes mesquitas, na catedral copta e nas edificações greco-romanas.
Ao passear pela orla, logo aparece, imponente, a Biblioteca Alexandrina, que ressurge qual Fênix, quase 1.400 anos depois.
A nova biblioteca

Inaugurada em 2002 em Alexandria, a Biblioteca Alexandrina é uma dessas raras cooperações internacionais que merecem aplauso:
UNESCO, Estados Unidos, países árabes e mediterrâneos se juntaram ao Egito para essa obra que homenageia um dos mais importantes centros do conhecimento da antiguidade.
O primeiro destaque é um brilhante telhado circular, de 160 metros de diâmetro.
O telhado de aço e alumínio parece estar pronunciadamente inclinado sobre o Mediterrâneo, como um manto protetor contra o vento e a umidade, também contra o fogo, já que na primeira destruição esse veio do mar. Esse disco está parcialmente submergido em um magnífico espelho d’água, que parece não ter limites.
O disco recorda o deus solar Rá, lembrando que uma biblioteca deve iluminar, como o Sol, toda a humanidade.
Um alto muro, revestido de granito cinza de Assuã, com quatro mil caracteres em baixo-relevo com notas musicais, símbolos matemáticos e letras de línguas que existiram e existem em todo o mundo, recorda a outra biblioteca, que foi o farol cultural da Antiguidade.
Se uma das faces da moderna Biblioteca Alexandrina está voltada para o Mediterrâneo, aquela que lhe é oposta está junto ao campus da Universidade de Alexandria, que tem cerca de 70 mil estudantes, os maiores beneficiados com a riqueza que passam a ter à disposição.
A propósito, há a intenção de envolver fortemente a população alexandrina no uso do acervo, sendo que existem setores especializados por faixas etárias e o público jovem é uma população para a qual estão dirigidas muitas promoções na Biblioteca.
Não é fácil fazer uma descrição do imponente complexo arquitetônico, que tem uma área total de 84.405 m2.
Destes, 37 mil são exclusivos para a Biblioteca; os demais se destinam a Centro Cultural, Museu de Ciências, Museu Arqueológico e Museu de Manuscritos com mais de oito mil documentos de grande valor, laboratórios de restauração, um moderno planetário construído pela França e outros serviços técnicos.
Há uma grande sala de leitura, com cerca de 20 mil m2, distribuídos em 11 níveis distintos; destes, sete estão acima da superfície e quatro são subterrâneos, todos dotados de ar condicionado e de uma alta tecnologia relacionada à informática.
Nesses pavimentos, o acervo bibliográfico (hoje são 200 mil livros, mas há capacidade para oito milhões) está distribuído por temas, em função da classificação internacional.
Cerca de dois mil leitores podem usar simultaneamente as salas. Também são possíveis consultas pela Internet.
Algo que chama a atenção é a segurança. São particularmente impressionantes as preocupações com o fogo: as tragédias anteriores não podem ser repetidas.
Há inúmeros chuveiros, que serão acionados automaticamente caso haja elevação súbita de temperatura ou sinais de fumaças. Há também uma série de cortinas corta-fogo, que podem isolar instantaneamente diferentes setores.
Há, porém, aqueles que criticam a nova Alexandria, dizendo que a renovação da cidade é apenas cosmética, com as fachadas pintadas externamente, o lixo recolhido apenas nas ruas centrais e as praias limpas apenas para impressionar aos turistas.
Até os anos 70 do século passado, a Biblioteca Alexandrina era apenas uma reminiscência de passado distante, com marcas dolorosas de destruição devida às discórdias entre povos e religiões.
A publicação do livro "A antiga Biblioteca Alexandrina: vida e destino”, pelo historiador egípcio Mustafá El-Abadi, revolucionou a consciência e trouxe à cidade e ao país o desejo de recuperar para Alexandria aquilo que ela uma vez significou.
Com a liderança da Universidade de Alexandria, em 1974, desencadeou-se um processo internacional.
Em 1989, a UNESCO lançou um concurso público internacional para a concepção do projeto e a construção da Biblioteca. Em 1990, foi assinada a Declaração de Assuã para a recuperação da instituição.
O arquiteto norueguês Ktejil Thorsen, do prestigiado escritório Snohetta, com sede na Noruega, obteve o primeiro lugar, competindo com 524 propostas de 52 países.
Em 1995, foi colocada a primeira pedra da imponente construção. Uma vez mais, trabalhadores anônimos, como ocorrera há mais de quatro mil anos com a construção das pirâmides, fizeram algo monumental.
O custo total da obra foi de algo em torno de US$ 220 milhões. O Egito pagou US$ 120 milhões e outros países doaram cerca de US$ 100 milhões, dos quais 65 milhões vieram de países árabes (os grandes produtores de petróleo do Golfo) e o restante de 27 outros países.
É importante referir que houve muita polêmica interna acerca de um investimento tão vultoso, especialmente se considerada a miséria que há no país.
Outra vez parece que são os governantes que querem deixar nas obras imponentes seu nome. O personalismo do presidente Mubarak e de sua mulher Suzanne foram decisivos nesta obra, para a qual, com adequação, cabe o adjetivo faraônica, especialmente em um Egito onde a grande maioria da população luta para conseguir um prato de comida.
Hoje, a Biblioteca Alexandrina é ainda uma imensa casca vazia, ou semivazia.
Ela está recebendo doações de todas as partes do mundo. Há muitas críticas por uma falta de critérios para receber as doações, chegando assim muito material de valor discutível.
Parece que, inicialmente, o único critério era que os livros não ofendessem a sensibilidade dos fanáticos islamitas egípcios.
Assim, era fácil imaginar a recusa em aceitar as obras da história da humanidade que falassem em sexo ou que duvidassem da existência e da unicidade de Deus. Poderá ser muito difícil encher as imensas prateleiras.
Todavia, na grande sala de leituras já se exibe, entre outros, um papiro do Museu Egípcio de Turim, uma coleção de livros em miniatura de grandes autores russos editada em Moscou, um fac-símile de manuscritos da Bíblia do século IV e duas cópias do Corão: uma de 1212, originária do Marrocos, e outra de 1238.
Ismail Sarageldin, um ex-vice-presidente do Banco Mundial e atual diretor da Biblioteca, nomeado, em função das críticas que se fazia à acumulação de livros sem critérios, pelo presidente Mubarak, a quem funcionalmente está ligado diretamente, diz:
“Temos a máxima liberdade para colecionar livros, do mesmo modo que o Vaticano guarda textos que foram queimados pela Igreja Católica. Se os fundamentalistas condenam os Versos satânicos de Salmon Rushdie, qual o melhor lugar para encontrar, ler e julgar este texto que a Biblioteca Alexandrina?”.
Há quatro grandes metas almejadas para a Biblioteca Alexandrina:

a) Uma janela do Egito no mundo - para ensejar que se conheça a muito rica e vasta história do Egito durante diferentes eras, disponibilizando grande quantidade de materiais por meio de modernos meios para acessá-los;
b) Uma janela do mundo no Egito - a biblioteca quer ser a oportunidade dos egípcios conhecerem outras civilizações do mundo;
c) Uma biblioteca na idade digital - que deseja integrar-se com a revolução das informações, associando-se a diferentes agências internacionais congêneres; e
d) Um centro de diálogo e debate onde ocorram de maneira permanente seminários para celebrar o diálogo entre civilizações.
Estas são metas oficiais, que uma vez mais recebem muitas críticas internas, centradas em uma pergunta:
Poderá a nova Biblioteca Alexandrina mudar o curso da história egípcia?
Sonha-se que ela possa recriar o espírito e revitalizar uma das funções da velha Biblioteca, como ponte de diálogo entre o Norte e o Sul e entre o Oriente e o Ocidente.
O objetivo cada vez mais vital é realmente restabelecer o fragilizado diálogo entre duas culturas, nas quais existem segmentos que se votam ódios figadais.
Este diálogo, às vezes, parece muito distante, pois até houve necessidade, por uma questão de segurança, de postergar a inauguração da Biblioteca, prevista para 23 de abril, Dia Internacional do Livro.
Parece importante referir que a construção da nova Biblioteca ocorreu em um momento em que a censura à criação literária e artística no Egito se acentua.
São constantes os processos contra jornalistas e cineastas.
Um dos exemplos mais sangrentos foi a perseguição, na primavera de 2000, ao escritor sírio Hayder Hayder, em função da publicação do livro Banquete de algas.
Não é sem razão que o mais importante escritor egípcio atual, Naguib Mahfuz, tem de viver os últimos dias de sua vida encerrado em casa, para não ser objeto de um novo atentado de fanáticos islâmicos.
Há mais de 20 séculos o clima era mais liberal no vale do Nilo e especialmente Alexandria era, então, apontada como exemplo de experiências multiculturais, pela convivência muito pacífica de raças e credos.
É bem possível que, Hipátia, cujo martírio esteve ligado à própria destruição de seu local de trabalho, ficaria feliz em ver - como hoje nós vemos - sua biblioteca, agora tão imponente.

História da famosa biblioteca

A biblioteca fundada por Ptolomeu I, chamado Soter (o Protetor), em 288 a.C. foi organizada sob decisiva influência de Aristóteles, tendo como modelo o clássico gymnasium.
O bibliotecário encarregado de sua direção era escolhido diretamente pelo rei a partir de uma lista de nomes proeminentes nas Artes, Ciências, Filosofia e Literatura e era um dos postos mais altos e honoríficos do reino.
O primeiro bibliotecário foi Demétrio de Falera.
A Biblioteca possuía dez grandes salas de pesquisa e leitura, vários jardins, horto, zoológico, salas de dissecações e observatório astronômico.
Era formada por dois edifícios, o bruchium e o serapium (Serapis era o deus da fertilidade), nos quais se encontravam estantes, com nichos para guardar os papiros.
Há informações de que chegou a reunir 700 mil rolos de papiro, o que equivale a aproximadamente 100-125 mil livros impressos de hoje.
Havia no corpo da Biblioteca habitações ocupadas por escribas que copiavam caprichosamente os manuscritos, cobrando segundo o número de linhas produzidas a cada dia.
O trabalho dos copistas era então muito valorizado e havia aqueles especializados em línguas das mais distantes regiões da Terra.
Ptolomeu III Eugertes (o Benfeitor), em função de necessidades de espaço, construiu uma segunda biblioteca, chamada a Biblioteca Filha, no templo de Serapis.
Os faraós Ptolomeus tiveram sempre especial atenção em enriquecer a Biblioteca, adquirindo trabalhos originais e valiosas coleções através de compras ou de cópias.
Cada navio que atracava no porto de Alexandria era pesquisado e, se fosse encontrado um livro, este era levado à Biblioteca para ser copiado, sendo que a cópia retornava ao proprietário, sendo seu nome inscrito em um registro, como proprietário do original, que permanecia na Biblioteca.
O mesmo ocorria com qualquer viajante que chegasse à Biblioteca com manuscritos originais.
De 30 a.C. até o ano 64 houve também uma florescente escola judaica de língua grega que realizava uma simbiose da cultura hebraica com o neoplatonismo e com o gnosticismo
oriental.
Os judeus alexandrinos traduziram seus livros sagrados para o grego, constituindo a chamada Tradução dos Setenta.
Organizar uma lista de intelectuais que legaram importantes contribuições à humanidade a partir de trabalhos e teorizações no complexo científico que existiu junto à Biblioteca é algo extenso.
Eis alguns exemplos: Aristarco de Samos, o primeiro a anunciar que a Terra gira ao redor do Sol; Hiparco de Nicéia, o primeiro a medir o ano solar com uma precisão de 6,5 minutos; Erastóstenes, que primeiro mediu a circunferência da Terra e como matemático é conhecido pelo crivo de Erastótenes; Euclides, que escreveu a geometria que ainda usamos hoje; Arquimedes, um dos maiores matemáticos da Antiguidade; Heron, engenheiro mecânico, criador, como Arquimedes, de vários instrumentos revolucionários; Hierófilo, médico e professor, estudioso da anatomia, tendo investigado o cérebro e os sistemas nervoso e circulatório; Galeno, cirurgião grego; Calímaco, poeta que primeiro escreveu um catálogo de livros classificando-os por assuntos e por autor.
A esses nomes junta-se o da grande matemática e astrônoma Hipátia (370-415), última bibliotecária da Biblioteca de Alexandria.
Ela foi assassinada quando a Biblioteca foi queimada por instigação de monges cristãos, que a identificavam como um centro herético.
A Biblioteca e seu complexo de pesquisa foram destruídos parcial ou totalmente em diferentes momentos devido às guerras, à negligência e, especialmente, devido ao medo que têm os poderosos e os déspotas de que o saber, quando extensamente socializado e essa é a função de uma Biblioteca possa fazê-los perder o poder.
Sua decadência iniciou-se com o domínio romano.
O primeiro grande incêndio ocorreu sob o domínio de Júlio César (47 a.C.), durante uma ação militar, na qual os romanos queimaram navios egípcios que estavam atracados próximos e o fogo atingiu a Biblioteca;
Acredita-se que então tenham se perdido 40 mil obras acumuladas pelos quase três séculos da dinastia ptolomáica.
Na era cristã, os imperadores Domiciano, Caracala, Valeriano e Aureliano danificaram o grande patrimônio cultural diversas vezes.
A segunda grande destruição foi ordenada pelo imperador cristão Teodósio I (391) e, 150 anos depois, Teodora, esposa de Justiniano, ordenou nova destruição em Alexandria.
Em 619, os persas fizeram de Alexandria terra arrasada.
Em 641, a capital do Egito é transferida para onde hoje é a cidade do Cairo; termina o prestígio político de Alexandria.
Cada navio que atracava no porto de Alexandria era pesquisado e, se fosse encontrado um livro, este era levado à Biblioteca para ser copiado, sendo que a cópia retornava ao proprietário, sendo seu nome inscrito em um registro, como proprietário do original, que permanecia na Biblioteca.
O mesmo ocorria com qualquer viajante que chegasse à Biblioteca com manuscritos originais.
De 30 a.C. até o ano 64 houve também uma florescente escola judaica de língua grega que realizava uma simbiose da cultura hebraica com o neoplatonismo e com o gnosticismo oriental.
Os judeus alexandrinos traduziram seus livros sagrados para o grego, constituindo a chamada Tradução dos Setenta.
A Biblioteca e seu complexo de pesquisa foram destruídos parcial ou totalmente em diferentes momentos devido às guerras, à negligência e, especialmente, devido ao medo que têm os poderosos e os déspotas de que o saber, quando extensamente socializado e essa é a função de uma Biblioteca possa fazê-los perder o poder.
Sua decadência iniciou-se com o domínio romano. O primeiro grande incêndio ocorreu sob o domínio de Júlio César (47 a.C.), durante uma ação militar, na qual os romanos queimaram navios egípcios que estavam atracados próximos e o fogo atingiu a Biblioteca; acredita-se que então tenham se perdido 40 mil obras acumuladas pelos quase três séculos da dinastia ptolomáica.
Na era cristã, os imperadores Domiciano, Caracala, Valeriano e Aureliano danificaram o grande patrimônio cultural diversas vezes.
A segunda grande destruição foi ordenada pelo imperador cristão Teodósio I (391) e, 150 anos depois, Teodora, esposa de Justiniano, ordenou nova destruição em Alexandria. Em 619, os persas fizeram de Alexandria terra arrasada. Em 641, a capital do Egito é transferida para onde hoje é a cidade