No século XIV, um comerciante de ouro era uma das pessoas mais ricas do mundo. O africano Mansa Musa, líder de uma nação onde se localiza o atual Mali, era uma delas.
Herdou a riqueza do avô, que incluía terras situadas entre a costa norte do continente africano, onde os comerciantes europeus e africanos faziam trocas comerciais, e o Sudão, que ficava a mais de 1600 quilómetros a sul, onde se encontravam minas de ouro de onde se extraíam pepitas do tamanho de abacaxis.
Nada seria tão catastrófico para os europeus quanto à redução dos fornecimentos de ouro, sem o qual não poderiam suportar os enormes exércitos e o nível de vida de luxo.
E nada seria tão dramático para os mineiros do Sudão quanto à redução das remessas de sal. O ponto de encontro entre os comerciantes de ambos os bens era o Mali e os intermediários eram as pessoas mais importantes.
Entre eles estava Mansa Musa, que, em 1307, se tornou o homem mais poderoso do país e o maior intermediário de África.
Os territórios africanos eram demasiado vastos e Mansa Musa fazia a «ponte» entre as culturas e línguas dos comerciantes africanos, árabes e europeus.
Adicionalmente, garantia a sua proteção no percurso de três meses pelo deserto do Saara.
Um bom intermediário assegurava que as caravanas chegassem ao destino com as vidas e as mercadorias intactas... e esse serviço valia uma fortuna.
Líder extravagante e uma figura do mundo, Mansa Mussa distinguiu-se como um homem que fazia tudo em uma grande escala.
Foi um homem estudioso, que procurando melhorar o nível cultural de seu povo, convidou os melhores artistas de todas as partes para trabalhar e ensinar no seu reino.
Em 1324 ele conduziu seu povo numa caravana 72,000 pessoas pelo Deserto do Saara numa distância total de 6,496 milhas para uma peregrinação santa de Timbuktu para Meca, o Hadj.
Este evento foi tão espetacular que Mansa Mussa ganhou o respeito de estudantes e comerciantes ao longo da Europa, fazendo com que o Mali obtivesse o reconhecimento internacional.
Artigo: Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Na África ocidental, o sal e a comida dominavam o comércio no deserto de Saara (sahr, em árabe significa deserto), e incluía também ouro, marfim, penas de avestruz, casco de tartaruga e peles. Quando os árabes chegaram à África, o comércio aumentou por causa do camelo.
Os camelos eram vitais porque eles podiam viajar mais de 100 km por dia, isto é, duas vezes mais do que os bois de carga ou os cavalos, e também podiam resistir ao calor do dia e ao frio da noite.
Os berberes estavam envolvidos no comércio de longa distância. Os comerciantes árabes compravam o ouro da antiga Gana - a terra do ouro, e financiavam as caravanas berberes.
Desta forma, o Islão se espalhou muito rapidamente e as transações comerciais ficaram bem mais fáceis.
A expansão do comércio muçulmano pelo deserto depois de 750 d.C deu um novo e maior incremento à região.
Em 1067, o cronista andaluz AL-Bakri, escrevendo na então famosa cidade andaluza de Córdoba, no sul da Espanha, mas passando as primeiras informações sobre os viajantes e comerciantes trans-saarianos, descreveu Gana como um estado grande e poderoso.
Ao escrever sobre a corte do rei normando, Roger II da Sicília, AL-Idrisi relatou como os governantes de Gana passavam o tempo, recepcionando com os mais pródigos banquetes que alguém jamais tinha visto antes.
No entanto, foi o Mali, na África ocidental, que chamou a atenção para o mundo muçulmano, por causa de seu governante, Mansa Mussa, irmão de Abu Bukhari (famoso por ter enviado milhares de navios cargueiros para as Américas em 1330), com sua famosa peregrinação a Meca, em 1324-1325, chegando ao Cairo com uma enorme caravana que incluía 100 camelos carregados de ouro.
Mussa demonstrou sua generosidade distribuindo grandes quantidades de ouro no Egito, abalando, assim, a moeda local.
Este fato criou o mito europeu da África ocidental como um lugar de imensas riquezas, onde até os escravos vestiam ouro.
Ao completar o Atlas Mundial em 1375, o cartógrafo Cresques, de Maiorca, mostrava o rei do Mali sentado num trono, segurando um globo (uma imensa pepita de ouro) e o cetro, no centro da África ocidental, enquanto os comerciantes de toda a África do Norte marcham vigorosamente para seus mercados.
O ouro transformou-se no produto básico de exportação para a Europa, sendo que pelo menos 2/3 do suprimento mundial de ouro vinha da África ocidental.
Monarcas dos mais distantes países, como a Inglaterra, cunhavam suas moedas com o precioso metal africano.
Mansa Mussa incentivou o desenvolvimento do ensino e da expansão do Islam.
Nos primeiros anos de seu reinado, Mussa enviou sábios sudaneses para a universidade marroquina de Fez.
No final de seu reinado, esses sábios fundaram seus próprios centros de ensino e de estudo corânico, principalmente em Timbuktu, que mais tarde transformou-se em um importante centro para os comerciantes e estudiosos muçulmanos, tanto sudaneses como berberes.
Menos de 20 anos depois da morte de Mussa, o viajante berbere, Ibn Batuta, depois de trinta anos de observação acurada, ainda viajava incansavelmente para cima e para baixo pelo mundo muçulmano, esteve no Mali.
Escreveu: "Os negros possuem algumas qualidades admiráveis. Raras vezes são injustos e têm mais horror à injustiça do qualquer outro povo... Há uma segurança total neste país. Nem o viajante nem o seu habitante temem ladrões ou homens violentos." (E.W.Bovill, 'The Golden Trade of the Moors).
Timbuktu alcançou o seu auge em fama e fortuna no século XVI. Falando para uma plateia italiana, no início do século XVI, Leo Africanus descreveu Timbuktu como a cidade do ensino e das letras, onde o rei, além de dispor de um exército de 3000 cavaleiros e uma infantaria enorme, financiava de seu próprio tesouro "muitos magistrados, doutores e religiosos".
"Aqui em Timbuktu", assinalou ele, "existe um grande mercado de livros dos países berberes e ganham muito mais com a venda dos livros do que com qualquer outra mercadoria.".
A reputação de suas escolas de teologia e direito espalhou-se até a Ásia muçulmana. Esta época do Mali seria mais tarde lembrada como a idade de ouro da prosperidade e da paz.
No final dos Anos Negros, com a Europa ocidental em crise, começaram a surgir pequenos reinos no Sudão ocidental e central.
Inúmeros reis africanos, entre eles Mansa Mussa e Sonni Ali, gozavam de fama no Islão e na cristandade, por causa de sua riqueza, brilhantismo e conquistas artísticas para seus vassalos.
Suas capitais eram grandes cidades muradas, com muitas mesquitas e, pelo menos duas, Timbuktu e Jenne, tinham universidades que atraíam estudiosos e poetas de muito longe.
Seu poder vinha de uma combinação de força militar e alianças diplomáticas com os líderes locais; seus juízes praticavam a justiça; seus burocratas administravam os impostos e controlavam o comércio, a viga mestra daqueles estados.