Seguidores

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Amma, Deus supremo da etnia Dogon, Mali

Entre os Dogon, o ponto de partida da criação é a estrela que gira ao redor de Sirius.
Os Dogon acreditam que ela seja a menor e mais pesada de todas as estrelas, contendo os germes de todas as coisas.
Seu movimento ao redor de Sirius e de si mesma sustenta a criação no espaço.
Da mesma maneira como no mundo vegetal uma única semente se divide em outras sete, ocorre no plano do universo: da primeira estrela provêm outras sete.
Porém, desde o momento em que os seres humanos chegaram a ser conscientes de si mesmos e capazes de uma ação intencional, o curso da criação se desenrolou de maneira menos simples.
Os acontecimentos da criação da humanidade tiveram lugar no interior de um ovo, um mundo situado num espaço infinito e contendo o modelo da criação - Nommo, o filho de Deus (Amma).
Esse ovo estava divido em duas placentas iguais, cada uma contendo um par de gêmeos Nommo, emanações diretas de Deus e prefigurações do homem.
Como todas as outras criaturas, aqueles dois pares de gêmeos estavam dotados de dois princípios espirituais de sexo oposto.
Cada um deles era em si mesmo um par. Em uma das placentas o gêmeo masculino não esperou o período usual de gestação assinalado por Amma, emergindo prematuramente do ovo.
Além do mais, arrancou um pedaço de sua placenta, que se converteu na Terra.
Esse ser, Yurugu, teve a intenção de fazer um mundo só para ele, baseado no primeiro, mas o superando.
Esse procedimento irregular, no começo, desorganizou a ordem da criação estabelecida por Amma; assim, a Terra foi provida de uma alma masculina somente, já que o ser que a fez era imperfeito.
De tal imperfeição surgiu a noção de impureza.
A Terra e Yurugu ficaram, desde o princípio, solitários e impuros.
Yurugu, compreendendo que esta situação o impediria de concluir sua obra na Terra, voltou ao céu a fim de buscar sua alma gêmea restante na outra parte do ovo.
Yurugu não pôde recupera-la, estando a partir desse momento em uma busca perpétua e inútil.
Voltando a Terra, começaram a surgir seres simples, incompletos, frutos de incesto.
Ele mesmo procriou em sua própria placenta, com sua mãe.
Vendo isso, Amma decidiu enviar a Terra os Nommos da outra metade do ovo, constituindo uma nova terra imaculada.
Os quatro antepassados homens foram chamados Amma Seru, Lébé Seru, Binu Seru e Dyongu Seru.
Seus descendentes coincidiram com o surgimento da luz na Terra, que até então havia estado nas trevas.
A água, em forma de chuva, purificou e fecundou o solo, no qual brotaram as oito sementes que os antepassados míticos haviam trazido consigo: seres humanos, animais de plantas imediatamente surgiram.

Povo

Os Dogons são uma tribo, ao que se acredita, de ascendência egípcia.
Após seu êxodo da Líbia, há muitos séculos atrás, fixaram-se em Mali, África Ocidental, levando consigo as tradições astronômicas, que remontam ao Egito pré-dinástico, anterior a 3200 AC.
A denominada "Terra Dogon" é uma área geográfica situada a noroeste de Djenné, tendo como polo principal de atração o escarpado de Bandiagara, habitado em épocas remotas por tribos pertencentes à misteriosa cultura Tellem, hoje extinta, e retomado na ocupação do território pela também remota e animista cultura Dogon.
Atribuída a razões estratégicas defensivas, se inseriu em terreno tão inacessível um excepcional conjunto de habitações e de celeiros construídos com barro sobre a rocha local, aonde ainda são visíveis as antigas ruínas.

Arquitetura e simbologia dos vilarejos Dogon

Não bastasse a complexidade dos mitos e seus rituais minuciosos, a arquitetura Dogon nos sinaliza que, na falésia, tudo pertence ao universo de seus símbolos, mitos e lendas.
E, portanto, não foge a tais preceitos.
Neste sentido, cada vila Dogon é construída como se representasse o corpo humano.
A cabeça é a casa do Hogon:
Chefe religioso e membro mais ancião da tribo, o Hogon vive recluso (apenas uma menina que ainda não atingiu a puberdade pode aproximar-se dele para trazer-lhe água e comida), sendo o responsável pelo Altar do Lebé, o mítico progenitor dos Dogon, ressuscitado sob a forma de serpente.
O Hogon recebe a sabedoria da serpente sagrada, dirimindo as controvérsias sobre as cerimônias religiosas nas ocasiões de severidade da seca, doenças, entre outras dificuldades.
O coração é a Togu-na:
Essa genuína casa da palavra é um abrigo para as intempéries. É formada por oito pilares de madeira entalhada, que representam os oito místicos progenitores dos Dogon, criados por Ann, Deus do universo.
O teto não chega a um metro de altura, sendo pensado e construído para que seus membros, durante uma controvérsia, não se levantem em um rompante durante a discussão, retirando-se do recinto.
As mãos são representadas pela casa onde as mulheres ficam reclusas durante o ciclo menstrual.
Veias e artérias são representadas pelas ginnas, conhecidas como as habitações estendidas por grupos, dentro de um marco de linhagem patriarcal.
A cerca destas habitações estão igualmente estruturadas como representação dos membros do corpo humano.
Sua área de respiro equivale ao busto
Sua cozinha circular, à testa.
Construídas para armazenar grãos, as várias unidades retangulares com o teto plano e outras de forma cilíndrica com um teto pontiagudo representam, enfim, os órgãos genitais.

A estrela Sirius - A Mistificação de um Mito

"Sobre uma falsa noção pode se construir uma grande doutrina."
Nietzsche

Na década de 1940, dois antropólogos franceses descobriram um achado surpreendente enquanto estudavam a tribo Dogon da África Ocidental.
Eles descobriram que os Dogon tinham conhecimento de que uma pequena estrela orbitava ao redor de outra, da estrela Sirius.
Essa estrela menor, impossível de ser observada a olho nu, era desconhecida dos astrônomos ocidentais até 1862.
A única fonte a respeito do conhecimento astronômico do povo Dogon é o trabalho do antropólogo Marcel Griaule.
Ele afirmou inadvertidamente que o conhecimento da estrela menor pelos Dogons precede a descoberta dos astrônomos por centenas de anos.
E esse assunto acabou sendo deturpado e solidificado através de sucessivos erros de comunicação e interpretação.
Mas essa teoria sofreu um revés, quando pesquisas posteriores feitas por outros antropólogos revelaram que somente alguns anciões da tribo que haviam sido mencionados por Griaule é que tinham conhecimento da estrela.
Isso levou outros pesquisadores a crer que a pesquisa feita pelos dois antropólogos franceses tivesse sido inventada. E a teoria foi refutada.
A verdade simples é que os Dogon não têm, até hoje, nenhum conhecimento astronômico surpreendente.
Mas o estrago já estava feito, e os mistificadores de plantão resolveram adotar essa historia como prova da existência de óvnis.
Principalmente ao lerem best-sellers como "The Sirius Mistery”, de Robert K. G. Temple.
Sagan atentou para este fato, mas como Griaule é extremamente respeitado, sua credibilidade não foi posta à prova.
Porém, estudos antropológicos mais recentes revelaram que de fato, a tribo não possui mitos sobre uma companheira invisível de Sirius.
O que parece ter ocorrido foi que Griaule atribuiu conhecimentos indevidos aos Dogon.
Conhecimentos que nem mesmo ele possuía e que interessavam o mundo acadêmico na época de suas pesquisas.
Os Dogon têm a estrela Sirius como parte importante de seus ritos, até mesmo porque Sirius é a estrela mais brilhante do céu.
Porém realmente não sabem nada a respeito de Sirius fazer parte de um sistema binário ou mesmo triplo.
Estas reavaliações dos mitos Dogon estão presentes no trabalho do antropólogo Walter van Beek, Dogon Restudies. A Field Evaluation of the Work of Marcel Griaule de 1991.
Elas também são confirmadas pelos trabalhos de outros antropólogos, como Jacky Boujou e Paul Lane.
A explicação para os incríveis conhecimentos astronômicos Dogon é a mais decepcionante fraude.
Não há nada a explicar, exceto um grande mal-entendido por parte de nossa civilização.
Griaule passou à história da antropologia devido a várias obras, sendo Dieu d' Eau a mais conhecida e que exaltam a sabedoria do povo Dogon.
Raramente lido, Dieu d'Eau é um texto sacro cujo original foi obliterado pois a tradução de Griaule nunca seguiu o original.
Essas historias como a existência de uma companheira de Sírio invisível a olho nu, foram transmitidas por um oráculo através do caçador Ogotemmêli.
Pouco sabemos de Ogotemmêli, seus motivos, sua sociedade, suas peculiaridades.
O etnógrafo francês foi eficaz em fixar uma tradição plural através de um conceito linguístico bastante vago baseado no modelo do povoado de Sanga, onde Griaule desenvolveu sua pesquisa.
O que não impediu que sua obra fosse citada por autores ilustres, nem que o seu exemplo fosse seguido por gerações antropólogos.
Antropólogos menos expedicionários e menos expeditivos do que Griaule, mas igualmente seduzidos pelo eldorado de um esoterismo nativo.
Por trás de discursos sobre a negritude, ou da transformação da sabedoria Dogon num patrimônio da humanidade, está a base de uma indústria turística que até hoje perpetua uma dogonidade que se acreditava estar à beira da extinção.
Afinal, a obra de Griaule se insere no ponto onde interesses coloniais e anticoloniais se encontram:
A triste percepção da cultura como um tesouro onde só cabe roubar ou proteger.



Fonte: 
God Chequer . Com
African Mythology
The Gods and Spirits of Africa
http://www.godchecker.com/pantheon/african-mythology.php