Seguidores

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mito da criação Iorubá - Nigéria, Benim, Togo e Diáspora

No inicio só havia o firmamento acima, agua e pântanos abaixo.
O deus supremo Olorun governava o céu, e a deusa Olokun tudo o que havia abaixo.
Obatala, outro deus, refletindo sobre esse estado de coisas, pediu a Olorun a permissão para drenar a terra e criar um ambiente onde seres vivos pudessem habitar.
Ao obter a permissão procurou o conselho de Orunmila, o filho mais velho de Olorun e deus das profecias, para realizar seu projeto.
Orunmila aconselhou-o a conseguir uma corrente de ouro suficientemente comprida para atingir a superfície abaixo, a concha de um caramujo cheia de areia, uma galinha branca, uma noz de palma e carregar tudo isso numa sacola.
Todos os deuses contribuíram com o ouro que possuíam, e Orunmila então colocou todos esses itens na sua sacola.
Quando tudo estava pronto, Obatala pendurou a corrente num canto do céu, a sacola sobre o ombro, e iniciou sua escalada para baixo.
Ao atingir o final da corrente ele percebeu que ainda havia uma longa distancia a percorrer.
La de cima ouviu Orunmila dizer que despejasse a areia de dentro do caramujo e em seguida soltasse a galinha.
Ele fez tudo de acordo, e viu a galinha aterrizar sobre a areia e ciscar, espalhando a areia em torno dela.
Conforme a areia ia caindo na superfície formava-se a Terra.
As pilhas maiores tornavam-se montanhas e colinas, e as menores transformavam-se em vales.
Então Obatala pulou sobre uma colina e batizou esse lugar de Ifé.
Agora a terra drenada já se estendia ate o horizonte.
Então ele cavou um buraco onde plantou uma noz de palma, e viu a palmeira crescer imediatamente.
A palmeira madura soltou mais nozes sobre o chão, e cada broto cresceu imediatamente, atingindo a maturidade nesse processo sucessivo.
Passaram-se muitos meses até Ele aborrecer-se dessa rotina.
Então resolveu criar seres a sua semelhança para ter companhia.
Cavando mais fundo sob a areia encontrou argila com a qual moldou umas figuras que pareciam consigo.
Apos algum tempo dedicado a essa tarefa ficou cansado, resolvendo parar um pouco.
Então fez vinho com os cocos de uma palmeira, e bebeu tudo.
Não percebendo seu estado de bebedeira, Obatala voltou para sua tarefa de confeccionar os novos seres, e por causa de seu estado fez muitas figuras imperfeitas.
Sem realizar o que fazia chamou Olorun para soprar vida nessas criaturas.
No dia seguinte ele percebeu o que havia feito.
Arrependido, jurou nunca mais beber.
E também cuidar dos deformados, tornando-se então o seu protetor. (Obatala é o protetor dos albinos).
Os novos seres construíram cabanas iguais as que Obatala havia feito antes e logo Ife prosperou ate tornar-se uma cidade.
Todos os deuses festejaram o que Obatala havia feito, e foram visitando a Terra com frequência, com exceção de Olokun, que já governava tudo aquilo que havia sob o céu.
Ela não havia sido consultada por Obatala e ficou furiosa por ele ter usurpado parte de seu reino.
Quando Obatala voltou para sua casa no céu para fazer uma visita, Olokun aproveitou sua ausência na Terra e formou grandes ondas em seu oceano e atirando-as contra a sua obra.
Enviou onda após onda até que grande parte da terra ficou submersa e muitas pessoas se afogaram.
Aqueles que escaparam para as partes mais altas procuraram pelo deus Exu, que estava de visita na Terra, para que ele voltasse para o céu e contasse o que havia acontecido com eles.
Exu pediu sacrifícios para si e para Obatala antes de entregar a mensagem.
Eles sacrificaram umas cabras e Exu voltou para o céu.
Quando Orunmila ouviu as novas ele desceu pela corrente de ouro até a terra, e lançou vários feitiços sobre o oceano para que as águas voltassem e a terra reaparecesse.
Assim acabou a grande inundação.
Essa corrente de ouro tem a conotação de cordão umbilical.

Iorubas

Os Iorubas constituem o segundo maior grupo étnico da Nigéria.
Vivem em grande parte no sudoeste do pais em Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo.
Ha também número considerável de iorubas vivendo na República do Benin, e em pequenas comunidades no Togo, Serra Leoa.

Deuses Iorubas

Orixá é o nome das divindades iorubas.
Na África cada Orixá é cultuado em uma determinada região.
Xangô em Oyó
Iemanjá em Egbá
Ewa em Egbado
Ogum em Ekiti e Ondô
Oxum em Ijexá e Ijebu
Erinle em Ilobu
Logum Ede em Ilexá
Otin em Inixá
Oxalá em Ifé

A Presença da sabedoria africana no Novo Mundo

Os egípcios nos deixaram seus mitos gravados nas pirâmides dos desertos.
Os gregos, na maestria de suas esculturas e de sua produção teatral.
Os iorubás por sua vez, tiveram seus registros parcialmente destruídos pelas sucessivas guerras internas, pelo excesso de umidade das florestas tropicais, pelos saques dos invasores pela escravidão imposta ao seu povo.
Entretanto, numa visita ao Egito atual, percebemos que, além dos guias e dos estudiosos, ninguém mais fala de deuses como Íris e Osíris.
Na Atenas atual, Dionísio ou Apolo, além de peças de museus, são nomes de restaurantes e pousadas.
Essas duas tradições, tão estudadas e catalogadas como as verdadeiras heranças da cultura ocidental, não são mais professadas como fé.
Mas em Benim, como em Salvador, Havana ou mesmo Nova York, os Orixás como Xangô, Exu, Ogum entre outras divindades iorubás, quase tão antigas quanto os deuses egípcios ou gregos, são cultuados até hoje por um grande número de fiéis.
Por que a tradição dos Orixás permaneceu tão forte tanto na África como no Novo Mundo, mesmo tendo sofrido tantas perseguições por parte dos colonizadores europeus?
Quais as razões dessa incrível resistência?
Primeiro, temos que nos debruçar um pouco sobre a sociedade iorubá, na África, antes do processo de escravização.
Robert Farris Thompson, na abertura do seu livro Flash of Spirit, nos dá uma ideia bastante interessante a respeito do mundo iorubano.
Ele conta a primeira visão que R. H. Stone, um missionário americano, teve da cidade de Abeokuta, em meados do século XIX:
"O que eu vi desengana a minha mente dos muitos erros cometidos a respeito da África.
A cidade se estende ao longo das margens do rio Ogum, por aproximadamente seis milhas, e tem uma população de cerca de 200.000... em vez de preguiçosos selvagens nus, vivendo da produção espontânea da terra, eles eram vestidos e trabalhadores... providenciando tudo que o conforto exigia.
Os homens são construtores, ferreiros, fundidores de minério, carpinteiros, entalhadores de cabaças, tecelões, artesãos de cestos e esteiras, chapeleiros, comerciantes, barbeiros, curtidores de couro, alfaiates e sapateiros.
Eles fazem tesouras, espadas, facas, enxadas, anzóis, machados, pontas de flechas, estribos...
Mulheres... bastante cuidadosas seguem as ocupações de acordo com o costume permitido a elas.
Elas fiam, tecem, comerciam, cozinham e tingem tecidos de algodão.
Elas também fazem sabão, tinturas, azeite-de-dendê, óleo-de-castanha, todos os produtos nativos e muitas outras coisas usadas no país."
A civilização iorubana teve um urbanismo dos mais desenvolvidos da África negra.
O antigo urbanismo iorubá data da época da Idade Média, entre os séculos XII e XIII, quando a cidade sagrada de IIe-Ifé fervilhava com a força artística que mais tarde provocaria um verdadeiro assombro no Ocidente.
Escultores de Ile-Ifé estavam produzindo esplendidas obras de arte em terracota, bem como em bronze.
Nada comparável em qualidade estava sendo produzido na Europa nesta época.
Os primeiros missionários que penetraram na cidade de Abeokuta, em 1840, ficaram abismados não somente com a produção artística, mas com o prestígio de que os escultores gozavam entre os seus, exercendo liderança comunitária.
O que só mais tarde pôde ser percebido é que os conceitos de beleza, grandeza interior e riqueza, elegância, manifestados nas obras de arte iorubanas, estão amalgamados com os princípios religiosos que regiam a vida daqueles cidadãos.
John Mason, babalaô em Nova York, nos dá uma excelente definição do conceito de "arte" dos iorubás no livro Orin Orisa, Songs for Selected Heads:
"O iorubá usa a palavra Ogbon para significar arte, inteligência, sabedoria, perspicácia e invenção.
Esta ideia casa--se com o termo Iton para conto ou história e Ton para diáspora, propagar, investigar, irradiar, instigar.
Isto ajuda-nos a entender que para o Iorubá, Arte é a propagação e investigação da sabedoria.
É feita para brilhar, ser vista, ser ouvida, instigar e causar o duplo sentido do significado, uma reinvestigação.
O papel da arte é Rù: transportar você.
Rù: despertar as coisas, incitar você.
Rù: conduzir você tanto para a raiva como para a tristeza.
Por esta definição, arte iorubá significa viajar, espalhar todas as notícias sobre as coisas sagradas e mundanas.
Todas as artes começam com Deus, o Ideal."
Portanto, observamos que a civilização iorubá, cujo apogeu artístico foi ainda durante a Idade Média, continuou o seu desenvolvimento urbano até metade do século XIX.