Esse nome deriva da palavra osso ou esqueleto, mas também pode significar a cerimonia fúnebre de acordo com a pronuncia.
As roupas podem variar muito conforme a região. Em alguns lugares são de palha, enquanto que nos outros são de pano.
A primeira camada, a que fica junto ao corpo é um camisolão, feito de aso oke, que é um tecido tinto a índigo com listras.
Esse camisolão é uma espécie de mortalha, como aquela que se usa para envolver os mortos. O rosto é coberto com uma tela e as mãos por luvas. Essa camada serve para disfarçar completamente a silhueta do corpo.
A segunda camada é feita de retalhos de tecidos bem compridos, fixos em uma plataforma nos ombros. São brocados e veludos, os tecidos mais caros que a família pode comprar.
Novos tecidos vão sendo acrescentados ao longo do tempo e sobrepondo-se aos existentes. O forro desses brocados é bem colorido e aparece conforme o Egungun se move.
Uma pequena cabeça prende-se a plataforma do ombro, e sobre essa, um vistoso adorno.
As mascaras podem ser entalhadas em madeira ou feitas com materiais contemporâneos, compostas de objetos achados, caveiras, ou até mesmo mascaras anti-gases.
Em algumas regiões é comum cobrir o rosto com panos ao invés de usar mascaras.
Esse traje é geralmente complementado por uma grande cauda que se arrasta atrás do Egungun.
Quanto mais elaborada for a cauda, mais rica a família.
Para completar o efeito, o Egungun precisa disfarçar sua voz, que geralmente sai num falseta.
O traje Egungun, é meramente uma casca, pois seu poder é ativado quando vestido pela pessoa, transformando-se na figura do ancestral durante a cerimonia.
O ancestral pode solicitar uma nova roupa através da adivinhação. O patrono, o sacerdote da adivinhação, o herbalista e o alfaiate irão colaborar com toda a linhagem de seus descendentes na produção de um novo traje.
Nas constantes transformações do mundo Ioruba do sudoeste da Nigéria, ha algo que permanece imutável, o contato direto com os ancestrais.
Esses espíritos são muito mais do que parentes mortos, eles tem um papel importante na vida cotidiana dos vivos. São procurados para proteger e guiar, e para punir aqueles que se esqueceram dos laços familiares.
Uma das formas mais singulares dos ancestrais comunicar-se com os vivos é sua manifestação na terra conhecida por Egungun.
Egungun celebra-se em festivais (Odun Egungun) e rituais familiares, através de cerimonias de trajes e mascaras. Em família, o membro mais velho ou Alagba pode presidir os ritos, mesmo não sendo iniciado na sociedade dos mortos.
Mas dentro da comunidade, são os sacerdotes e os iniciados treinados na comunicação com os ancestrais que comandam esse ritual, para invocar e trazer os ancestrais.
Durante as cerimonias Egungun os iniciados são possuídos pelos espíritos ancestrais, através da dança e percussão.
O Egungun purifica espiritualmente o grupo através de uma atuação expansiva de mimica mostrando o que sucedeu nesta comunidade desde sua ultima visita.
Expondo a fraqueza e a forças desse grupo, trazendo esperança e estimulando-o a ter um comportamento apropriado digno de seus descendentes.
Durante essa cerimonia, distribuem-se bênçãos, mensagens e advertências aos espectadores.
O culto aos ancestrais nos lembra de que não somos indivíduos soltos nesse mundo, mas uma parte de um legado compreensivo e coerente que reúne todas as almas, tanto na rua, no mercado, como em seu reino a que chamamos de lar.
Apesar da dor da perda estar sempre acompanha a chegada do Orisa Iku (morte), o ancestral nos propicia a compreensão essencial para acalmarmos a dor e celebrar a beleza da vida.
Ha vários mitos que explicam as origens desses espíritos vestidos. Um deles diz que quando um homem morre seu espirito se junta aos ancestrais para tornar-se Egungun.
Quando seu corpo esta inteiramente coberto para o enterro, assim também está o Egungun no além, razão pela qual aparecem cobertos quando vem a terra.
Outro mito conta a historia de um rei que não tinha sido enterrado apropriadamente. Seus três filhos não tinham dinheiro para dar-lhe um enterro digno. O primeiro filho viu o cadáver de seu pai e fugiu. O segundo vestiu o cadáver apenas para esconder terceiro tentou vender o cadáver no mercado (como remédio), e finalmente abandonou-o no mato.
Muitos anos depois , quando o filho mais velho tornou-se rei, sua mulher não conseguiu dar-lhe herdeiros.
Ao consultarem um adivinho, os três chegaram à mesma conclusão, que estavam sendo punidos pela falta de enterro de seu pai.
Para piorar a situação, sua mulher foi estuprada por um gorila, e envergonhada fugiu gravida.
Deu a luz a uma criança que era metade macaco e metade humana, e abandonou a no mato.
Ela teve que voltar e contar a historia para o rei.
Consultando um adivinho, ele revelou que a criança não morreu no mato, mas tornou-se um Amu'ludun, aquele que traz doçura para o reino.
O adivinho aconselhou o rei a voltar no local onde seu pai morreu e concluir os ritos apropriados. E disse que seu pai iria se materializar dentro de um traje.
Essa é apenas uma das muitas historias que explicam as origens do Egungun.
O Egungun pode representar uma pessoa, uma linhagem familiar, ou ainda um amplo conceito de ancestrais.
Ao ser contatado num altar familiar, o Egungun que aparece é geralmente aquele que representa o ancestral que esta sendo invocado.
Antigamente um Egungun era requisitado pelos chefes da tribo para disciplinar e mesmo executar os malfeitores. Alguns deles também foram chamados para guiar comunidades inteiras nas guerras.
Nos momentos de celebração eles representam frequentemente a linhagem ancestral. Aparecem a qualquer hora do dia e da noite, e sempre presentes nos festivais.
Os festivais duram de sete a vinte e um dias, e sua data é determinada pelo adivinho. Durante o festival, os espíritos dos egungun vêm do além para compartilhar com seus parentes na terra.
Cada um deles aparece em um momento determinado, e num esforço para apresentar um espetáculo memorável, havendo um grande empenho das famílias para reservar a data em que seus ancestrais irão aparecer.
Nesse dia os percussionistas dessa linhagem reúnem-se cedo no agrupamento de casas da família e começam a bater seus tambores, chamando os nomes e invocando os espíritos dos mortos mais importantes da família.
Quando eles estão para sair em publico, os músicos e as mulheres da família começam a cantar conforme a musica se torna mais alta.
Quando finalmente aparece, ele se detém diante dos túmulos dos homens da família. Após um pequeno ritual, vão até as casas dos parentes para abençoar os vivos e receber os agradecimentos.
Só então é que se dirigem até a cidade, aonde param de quando em quando para demonstrar suas habilidades de dança e abençoar aqueles que vieram assistir.
A organização dos festivais fica a cargo das sociedades Egungun.
Pouco se sabe sobre essas sociedades secretas, mesmo porque seu conhecimento é cuidadosamente protegido e raramente escrito.
A morte de um iniciado nesse culto é celebrada com muita cerimonia.
O sepultamento e a preparação do corpo são supervisionados antes do caixão ser enterrado no solo da família.
Antes de o corpo ser enterrado, é visitado por um ou dois dias podendo ser levado em procissão antes do adeus.
Cantos, danças e felicitações fazem parte dos procedimentos e a família toda estará presente quando finalmente o caixão for depositado no tumulo, conforme os ritos finais são executados.
Um galo e uma cabra são sacrificados e seu sangue derramado sobre o caixão, a cabeça e o corpo do cadáver.
Alguns rituais prosseguem nos dias seguintes para assegurar que esse espirito encontre seu caminho no reino dos ancestrais.