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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Museu Etnológico de Berlin-Dahlem

Os principais museus alemães são superlativos, seja pela idade, pelo acervo ou pela sua arquitetura. O Museu Nacional Germânico (Germanisches Nationalmuseum), de Nurembergue, por exemplo, é o maior e mais importante museu de história, cultura e arte da Alemanha.
Não se pode deixar de citar ainda a grande quantidade de museus etnográficos, que refletem as atividades dos diversos descobridores e etnólogos alemães. Neste campo, destacam-se o Museu Etnológico (Ethnologisches Museum) berlinense, com 500 mil peças de todo o mundo, o Museu Linden, de Stuttgart, e o Museu Roemer Pelizaeus, de Hildesheim.
A visita ao museu é parte integrante da vida alemã, seja na fase escolar ou nas horas de lazer dos adultos. Mais de 100 milhões de visitantes são atraídos a cada ano aos museus, que em algumas grandes cidades, como Frankfurt do Meno, Bonn, Berlim e mesmo Munique, estão concentrados numa área.
Com 180 objetos da sua mundialmente famosa coleção, a exposição africana do Museu Etnológico de Berlim se apresenta sob uma luz nova no bairro de Dahlem. A intenção é derrubar as fronteiras entre a História da Arte e a Etnologia.
"O forasteiro tem olhos grandes, mas não vê nada”, afirma um provérbio da África Ocidental, de cuja verdade Berlim se conscientiza autocriticamente nos dias em curso.
Durante décadas, a imagem do “primitivo” enformava o olhar sobre a “arte da África”.
Ocorre que esta é tão heterogênea, que não pode ser apreendida tão-somente com as universalmente apreciadas esculturas que foram recepcionadas pela modernidade ocidental.
Por outro lado, sempre teria havido artistas: “Faço obras de entalhe para que as pessoas digam: ‘Quem fez isso? ’ e para que assim o meu nome se torne conhecido na região”, eis as palavras de um artista da nação Dan.
Isso soa como pedagogia da cultura implementada a marretadas; e apesar disso a exposição apresenta as suas preciosidades com uma clareza que só merece elogios pelo resultado feliz.
O visitante literalmente salta no negrume. Nos espaços escurecidos os 180 objetos reluzem como que de dentro para fora. O fato de que, apesar disso, os objetos não estão envoltos em uma pesada aura de misticismo imperscrutável, deve ser creditado à concepção e seleção bem ponderada a partir do acervo, que com seus 75.000 objetos pertencem às maiores coleções africanas do mundo.
Mas diferentemente da mostra africana no prédio projetado por Walter Gropius, que há nove anos ainda causou sensação na sua intenção de apostar inteiramente no olhar estético, essa exposição é também um ato de esclarecimento no terreno da etnologia.
As quatro áreas são dedicadas à “história da arte africana”, a esculturas figurativas, à “performance”, bem como ao “design”: A África dos séculos anteriores também valorizava a funcionalidade e o prestígio, afirma Peter Junge, diretor da Seção Africana do Museu Etnológico.
Não importa quão purista e simultaneamente sensual a mostra se apresenta na escrita pessoal de Marcello Dantas, o arquiteto da exposição, ela decididamente procura pôr em cheque as ideias de uma “arte”, “religião” e “grande civilização”, bem como o inventário etnológico:
“Tudo o que veio ao museu e tinha duas pernas era um fetiche”, afirma Junge.
Nos anos 2003/2004, o Museu Etnológico apresentou a exposição no Brasil, na sua mostra mais exitosa de todos os tempos no exterior, conforme prova o número de mais de um milhão de visitantes.
Assim temos a ligeira impressão de presenciar uma absolvição multicultural, quando a mostra pode ser vista em Berlim somente depois de um sucesso fora da Europa.
Mas o curador Peter Junge afirma que os visitantes, muito pelo contrário, se veem encorajados a “não esconderem o olhar europeu”. E isso significa aqui: permitir a emergência de perguntas.
Por que foram feitos, para citar um exemplo, rostos femininos com traços individuais durante séculos a fio, até que subitamente as formas abstratas estavam na ordem do dia – essas formas, nas quais o Expressionismo acreditava reconhecer a dimensão originária?
Em Berlin-Dahlem nenhum dos especialistas se comporta como se já tivesse encontrado as respostas a essas perguntas.
Mas também como pendant da exposição “Die Brücke e Berlim” na Nova Galeria Nacional, essa mostra possibilita perspectivas inteiramente novas no rompimento da separação estrita entre a arte e a etnologia.
Com isso o museu de Dahlem aponta na direção correta, pois se for possível transportar essa elegância intelectual na mudança da coleção para a antiga área do castelo, como parte do planejado “Fórum Humboldt de arte e culturas extra-européias”, a coleção poderia ser não apenas um adorno, mas também uma chave para entrar no castelo: um espaço de memória universalmente preservador, mas sempre também dinamizador da cultura mundial.

Berliner Morgenpost
Cosima Lutz

Arte da África

A mostra Arte da África, sob curadoria de Peter Junge, curador-chefe do departamento de África do Museu Etnológico de Berlim, reúne obras, dos séculos 15 ao 20, de 31 países da África subsaariana: África do Sul, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Lesoto, Libéria, Malaui, Mali, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia, República Centro-Africana, Ruanda, Serra Leoa, Somália, Suazilândia, Sudão, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia, Zimbábue, com ênfase no Congo, em Camarões e Angola.

A exposição

Arte da África ocupa todos os espaços expositivos do CCBB-Rio, com esculturas de madeira, de bronze, máscaras, tronos, insígnias e adereços da realeza, objetos de uso pessoal, figuras de ritual, figuras ancestrais e de poder, instrumentos musicais, entre outros.
O acervo foi distribuído nos seguintes eixos temáticos:
A escultura figurativa, subdividida em objetos vinculados ao poder político e objetos cuja função consiste, sobretudo em equilibrar partes da visão de mundo e assegurar a estabilidade;
Máscaras e instrumentos musicais, partes integrantes das artes performáticas;
Objetos de uso que apresentam uma dimensão adicional, estética, em virtude da sua forma específica.

Deuses Negros

Arte fotográfica de cinco décadas: um documento das raízes africanas do Brasil
É a primeira vez que estão sendo mostradas na Alemanha mais de 300 fotografias de Pierre Fatumbi Verger (nascido em 1902 e falecido em 1996, nossas fotos) e as instalações de fotos ”Trance_Territories”, do brasileiro Mario Cravo Neto, nascido em 1947. Com suas obras, os dois fotógrafos mergulham no mundo da crença afro-brasileira, documentando, de maneira maravilhosa, a cultura e os rituais da ”América Negra”.
Verger, que nasceu na França, documentou com sua própria máquina fotográfica a importância desses rituais cotidianos, legando-os à sociedade crioula moderna. As 160 fotos na instalação de fotos e sons ”Trance_Territories”, de Mario Cravo Neto, são uma homenagem a Pierre Verger, transmitindo, ao mesmo tempo, a estética e a onipresença da religião afro-brasileira em Salvador, na Bahia. Verger e Cravo Neto estão entre os mais importantes fotógrafos da América Latina, sendo, todavia, pouco conhecidos na Alemanha.