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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Patakis ou Itans - As Fábulas de Orunmila

Patakis ou As historias dos signos de Ifa

Chamamos de patakis ou itans ao conjunto de historias que formam cada "Odu", o signo do oráculo de Ifá.
Geralmente esses signos se apresentam como parábolas, ou seja, forma de metafórica.
O ensinamento deste sistema religioso iorubá se transfere de pessoa para pessoa através dos Itans ou Patakis, constituindo relatos na forma de contos oraculares.
No Brasil, essas histórias ou "ese", integram o sistema erindilogun, (jogo de búzios) ligado ao oraculo de Ifá.
Os contos possibilitam a atualização de aspectos sócio históricos e cosmogônicos do universo nagô.
Isso ocorre através de recitações, cânticos, instrumentos musicais, dramatizações, mobilizadas a partir do rito ou da transmissão viva e participante, permitindo a expansão de todo um complexo sistema de conhecimentos civilizatório.
A palavra emanada nesse contexto detém muito poder de ação e realização, assim “... a transmissão simbólica, a mensagem, se realiza conjuntamente com gestos, com movimentos corporais.
A palavra é vivida, pronunciada, está carregada com modulações, com emoção, com história pessoal, o poder e a experiência de quem a profere.
Outro aspecto que é fundamental considerar é que a maioria dos contos é originária dos itans.
Todas as histórias representam os diversos “caminhos” do odú, e apresentam uma fórmula, cantiga e versos que nas suas inter-relações são capazes de expressar o sentido da história.
Os contos são narrados na língua portuguesa, predominando o português falado pelos velhos africanos.
Mas a língua nagô resiste nas cantigas, fórmulas, parábolas e versos, bem como se rememoram os espaços geográficos e históricos, personagens, modos de sociabilidade comunal, entidades sobrenaturais, a estrutura e conteúdo simbólico, todo um sistema de valores revivido e reatualizados num aqui e agora.
Esse riquíssimo acervo literário vivo, se expande e se consolida devido ao princípio básico de comunicação exigido que seja a relação interpessoal, caracterizada por “... uma pedagogia negra iniciática.
Os contos revelam um aspecto da maneira negra de ensinar, de transmitir o acervo de sabedoria da cultura...
Eles ilustram a maneira de como o nagô procuram promover a adaptação ou socialização de seus integrantes, através do aspecto pedagógico de seu rico sistema simbólico, assegurando assim uma forma própria de obter a coesão social.”
Os contos reúnem a riqueza própria do patrimônio civilizatório milenar africano, e esse é um fator muito significativo e exemplar para os educadores baianos que tendem a ser seduzidos pela proposta evolucionista/etnocêntrica dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
É significativo de um lado, porque face à ideologia do recalque que sobre determina o currículo das escolas brasileiras, os contos podem e devem ser utilizados como recurso didático-pedagógico que tendem a abordar a presença africana, e a tratar os seus descendentes como capazes de civilização; de outro, contextualizam formas de insurgência aos valores coloniais e neocoloniais, expandindo e legitimando o modo de vida e sociabilidade africana.
É necessário enfatizar que as palavras emanadas através dos contos, têm muito poder de realização, isto porque, mobilizam, encantam, fascinam, exploram o imaginário da comunidade africano-brasileira recriando e reatualizando todo o sistema simbólico e conhecimentos éticos e estéticos que os integra, e “... antes de serem formas de arte, (os textos) são formas que levam a carga de significar as múltiplas relações do homem com seu meio técnico e ético. ”(Luz,1977:66)