O afoxé é um bloco carnavalesco de comportamento específico pois seus
foliões estão vinculados a diversos terreiros de candomblé.
Por estar diretamente ligado aos atos de devoção para as divindades do
candomblé, o afoxé cumpre rituais propiciatórios, antes de sair na rua.
Entre esses rituais estão a queima de pólvora e o empembamento, oferenda
que se faz para Exu, com o acaçá, a farinha de azeite doce e o mungunzá, na
intenção de pedir luz, paz e energias positivas.
Para quem não conhece o candomblé e suas cantigas, enxerga o afoxé como um
bloco carnavalesco diferente, mas é o candomblé de rua.
Esses afoxés podem ser vistos no Carnaval da Bahia e nas Cidades de
Fortaleza, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
Afoxé - Alguma coisa acontece.
O significado da palavra afoxé vem da língua ioruba:
a, prefixo nominal;
fo, verbo- pronunciar, dizer;
xé realizar-se, verificar-se
Na tradução do antropólogo Antônio Risério afoxé quer dizer: a enunciação
que faz (alguma coisa) acontecer.
Risério cita Olabiyi Yai, para quem afoxé, "em ioruba, significa, pois,
encantamento, palavra eficaz, operante". Propõe Risério uma tradução mais
poética: afoxé seria, então: "a fala que faz".
De forma diversa, o musicólogo e maestro Guerra Peixe, no seu clássico
"Maracatus do Recife", assinala que o vocábulo deriva do sudanês Àfohsheh e lembra que se trata de um "remoto designativo" do
maracatu.
O maestro Guerra Peixe relatou ter ouvido, em um maracatu recifense,
referências à expressão "Afoxé de África" e que, na Bahia, o vocábulo indica a
espécie de Maracatu salvadorense e nomeava, como explicou o antropólogo Arthur
Ramos, "as festas profanas dos terreiros baianos".
Guerra Peixe garantia que "a palavra apareceu no Recife, certamente, em
virtude da influência religiosa que os sudaneses exerceram sobre os
bantos."
Distinguindo os termos Nação, designativo do grupo administrado por
governador negro, e afoxé o afoxé de África, a festa profano-religiosa efetuada
pela nação no momento oportuno.
A expressão afoxé teve uso restrito, apenas entre os seus participantes, já
que os autores dedicados ao estudo do maracatu não a registram.
O termo afoxé possui a mesma raiz etimológica da palavra axé.
Axé - Poder
Axé é uma palavra do dialeto Iorubano (falado na Nigéria, República do
Benin e Togo) que tem um significado muito abrangente. Podemos definir como
energia, poder, força da natureza.
Poder de realização através de força sobrenatural. A palavra Axé também
pode ser usada para se referir ao terreiro, Ilê Axé (Casa de Axé).
Para o ioruba, o verbo mais importante é realizar. Um homem vem a Ilu Aiyê,
(Terra), para realizar, para fazer algo, deixar sua marca e lembrança.
É assim que ele será lembrado por seus descendentes, através de suas
realizações.
Nada é feito sem o apoio dos Orixás, porque é através da força que flui
deles para os humanos que esta realização ocorre.
Ase significa:
Awa - nós, prefixo nominal;
xé - realizar.
Axé, realizamos, com a ajuda, a força e o poder da crença nos Orixá e nos
Ancestrais.
Hoje esta nossa palavra de significado mágico banalizou-se, virou música
chula (axé music), de ritmo agitado e forte apelo sexual.
Instrumentos
Afoxé (ou Agbê) - Cabaça coberta por uma rede formada de sementes ou
contas. O agbê é percutido agitando-se a rede, que fricciona no corpo da
cabaça.
Atabaques - São basicamente de três tipos, com três tamanhos diferentes que
em conjunto traduzem o som do ijexá, tocado no afoxé atualmente.
Agogô - Formado por duas campânulas de metal, com sonoridades diferentes. O
agogô é quem dita o ritmo aos demais instrumentos.
Vocal
As melodias entoadas nos cortejos dos afoxés, conforme afirma o antropólogo
Raul Lody, são praticamente as mesmas cantigas ou orôs entoados nos terreiros
afro-brasileiros que seguem a linha jexá.
Ele acrescenta: os orôs (oro significa acordar orixás) é a cantiga solo
repetida pelo coral e pelos instrumentistas. Geralmente quem puxa a cantiga solo
é uma pessoa de status elevado dentro do grupo.
Afoxé, longe de ser, como muita gente imagina, apenas um bloco
carnavalesco, tem profunda vinculação com as manifestações religiosas dos
terreiros de candomblé, "já que seus praticantes estão fundamentalmente ligados
ao culto dos orixás", como declara o antropólogo Raul Lody. Vem daí o fato de
chamar-se o afoxé, muitas vezes, de "Candomblé de rua".
Inclusive por homenagear um orixá, geralmente, o orixá da casa de candomblé
a que pertence.
Em Pernambuco, o afoxé ressurge com o Movimento Negro Unificado no final da
década de 70, como uma das formas de se fazer chegar à maioria da população, o
debate sobre consciência negra e liberdade, através da música.
Afoxé (instrumento)
Afoxé é um instrumento musical composto de uma cabaça pequena redonda,
recoberta com uma rede de bolinhas de plástico parecido com o Xequerê sendo que
o afoxé é menor.
O afoxé pode ser de madeira e/ou plástico com missangas ou contas ao redor
de seu corpo.
O som é produzido quando se giram as missangas em um sentido, e a
extremidade do instrumento (o cabo) no sentido oposto.
Antigamente era tocado apenas em Centros de umbanda e no samba. Atualmente,
o afoxé ganhou espaço no Reggae e música Pop.
Afoxé (ritmo)
Afoxé é definido popularmente como um ritmo do Candomblé.
Mas, na realidade o ritmo africano utilizado no Candomblé e nos blocos de
Afoxés, tem o nome africano que é Igexá.
A marcação do agogô é sua batida característica, tornando esse ritmo
facilmente identificável.
O Ijexá se tornou popular principalmente pela atuação do grupo baiano
Filhos de Gandhi.
Cantores renomados como Gilberto Gil, Virgínia Rodrigues, Maria Bethânia e
Caetano Veloso também interpretam músicas no ritmo Ijexá, contribuindo também
para a difusão do ritmo.