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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Elmina, O Castelo de São Jorge da Mina - Gana

O Castelo de São Jorge da Mina, também designado por Castelo da Mina, Feitoria da Mina, e posteriormente por Fortaleza de São Jorge da Mina, Fortaleza da Mina, ou simplesmente "Mina", localiza-se na atual cidade de Elmina, no Gana, no litoral da África Ocidental. Após a sua ocupação pelos holandeses em 1637, o nome foi castelhanizado para Elmina. 
A Feitoria da Mina sucedeu, em importância militar e econômica, à Feitoria de Arguim, em funcionamento desde 1461 quando a sua capitania-mor foi concedida. Se a ilha de Arguim marcava geograficamente a extrema da África arabizada, a Feitoria de São Jorge da Mina é considerada a mais antiga fortificação europeia ao Sul do deserto do Saara (a mais antiga ainda existente). Como tal, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e tem sido objeto de sucessivos trabalhos de restauro pelo Governo do Gana. A Mina teve primitivamente a função de assegurar a soberania e o comércio de Portugal no Golfo da Guiné, constituindo-se no principal estabelecimento luso na costa africana, fonte da riqueza que alimentou a economia portuguesa até se iniciar o ciclo da Índia, após 1498. 
Posteriormente, com o aumento do tráfico Atlântico de escravos, o forte readquiriu importância como um entreposto, onde os cativos eram mantidos à espera de transporte para o Novo Mundo. 


Antecedentes 


Ainda em vida do Infante D. Henrique (1394-1460), a exploração da costa africana começou a render frutos. Nas décadas seguintes, a Coroa portuguesa empreendeu a construção de feitorias, entrepostos comerciais fortificados, de modo a intensificar o comércio de produtos europeus por gêneros como o ouro, especiarias e escravos, principalmente. Adicionalmente, estas estruturas proporcionavam segurança e apoio às atividades de navegação e descobrimentos na costa ocidental africana. 
A mais antiga de todas foi a feitoria da ilha de Arguim (o Castelo de Arguim), na altura do cabo Branco, fundada em 1448, sob as instruções do próprio Infante. A fortificação de Arguim serviu como modelo para as que se lhe seguiram na região, como o Castelo da Mina, ainda no século XV, e o de Axim (ou de Axém), no alvorecer do século seguinte. 
Após a morte do Infante, o seu sobrinho, D. Afonso V (1438-1481), arrendou a exploração da costa da Guiné, na forma de monopólio comercial, em 1469, por cinco anos (mais um ao fim do contrato). O primeiro arrematante foi um comerciante lisboeta, Fernão Gomes, que, além da renda, ficava obrigado à descoberta anual de 100 léguas da costa, a partir da serra Leoa. Foi durante a vigência desse contrato, que se alcançou a região da Mina. Por essa razão, aquele trecho do litoral passou a ser designado como Costa do Ouro nos mapas da época, despertando a cobiça internacional. 


O Castelo de São Jorge da Mina 


Com a subida ao trono de D. João II (1481-1495), foi determinada a construção de um novo entreposto, visando proteger o comércio do ouro naquele litoral. Para esse fim, nos primeiros meses de 1482 uma expedição de onze navios partiu de Lisboa, sob o comando de Diogo de Azambuja, transportando uma tropa de 600 homens e material pré-fabricado como lastro nos navios. A sua missão era a de erguer uma fortificação com funções de feitoria, o chamado Castelo de São Jorge da Mina, posteriormente denominado como Castelo Velho da Mina. Ali passaram a ser trocados trigo, tecidos, cavalos e búzios (“zimbo”), por ouro (até 400 kg/ano) e escravos, estes com intensidade crescente a partir do século XVI. Nessa fortificação-feitoria desenvolveu-se um núcleo urbano  denominado como “Duas Partes”, uma parte habitada por europeus e outra pelos africanos cativos. 


Uma fortaleza de aprisionamento sem igual


O centro de reclusão de milhões de escravos negros que foram enviados à América entre 1540 e 1850, chamado Elmina, continua em pé como uma lembrança de um dos episódios mais tristes e vergonhosos para a humanidade.
Ingressar em Elmina, o primeiro forte construído pelos portugueses em 1482 no litoral de Gana, a 200 km de Acra, é defrontar-se com uma história de horror, similar ao aniquilamento dos aborígenes na América, ou até mesmo com o holocausto de judeus nos campos de concentração nazistas.
A cada ano mais de 400 mil pessoas de todo o mundo, em especial afro-norte-americanos, vêm em busca de suas raízes e para recordar uma parte injuriosa da história da humanidade.
Nesses três séculos, a África perdeu 60 milhões de habitantes devido ao tráfico de escravos. Violentamente arrancados de suas terras, separados de seus familiares, milhões de homens e mulheres passaram pelos calabouços de Elmina, da Costa Cabo e outros centros de reclusão construídos ou adquiridos pelas potências coloniais da época - primeiro Portugal, depois Holanda e finalmente Inglaterra.
Dos 60 milhões de pessoas capturadas, somente 15 milhões chegaram ao destino. Muitos morreram nas tétricas celas e outros tanto em alto-mar, acossados por enfermidades e os brutais castigos. Milhões de africanos foram tratados como meras mercadorias.
Em Elmina permaneciam reclusos em grupos de mil escravos, durante três meses, antes de serem vendidos à América ou à Europa. Em cada cela se aglomeravam até 150 escravos ou escravas; ali comiam e faziam suas necessidades fisiológicas.
Os capturados tinham que passar várias semanas neste lugar e terminavam por caminhar entre seus próprios excrementos.
Os que se atreviam a resistir eram submetidos a cruéis torturas. Os escravos eram acorrentados e abandonados, expostos ao sol abrasador e sem possibilidades de obter água e comida. Morriam literalmente de fome e sede. Os doentes eram jogados ao mar e as mulheres, frequentemente, violadas pelos soldados. As mais belas eram levadas ao recinto do governador.

Os negros Mina

O significado do termo Mina deriva da feitoria e forte de El-Mina, no atual Ghana
Negros Minas eram todos os escravos embarcados nesse porto, independentemente de sua real origem étnica.
Podia incluir negros oriundos de centenas de quilômetro mais ao Leste, do litoral da atual Nigéria e do Benin, como também de regiões situadas mais ao interior, incluindo a zona subsaariana do Sahel, residência dos fulas e peuls.
Não é de se estranhar, portanto, que estudiosos que trataram do assunto tenham incluído, debaixo do termo genérico Mina, grupos étnicos na circunferência do famigerado forte.
Nina Rodrigues foi o primeiro a sugerir que muitos negros Mina fossem originários dos reinos Fante e Axante, no atual Gana, devido à sua proximidade geográfica.
Nisso foi seguido por Artur Ramos, que dedicou uma seção aos Fante-Ashante na sua discussão das culturas negras no Brasil, apesar de constatar que da cultura espiritual e material dos Fante-Axante "nada ficou entre nós", com a exceção do termo Bosum.