Seguidores

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Jongo, o pai do Samba

Dança de roda, com homens e mulheres dançando em um grande círculo girando no sentido lunar, ou seja, ao contrário dos ponteiros de um relógio.
O acompanhamento musical é feito exclusivamente por pequenos instrumentos de precursão, como os tamboretes de jongo. 
O cantador, que já fica no centro da roda, traz, às vezes, um chocalho nas mãos.
Também é comum o uso da puita ou angola, que consiste num pequeno cesto de vime ou taquara de caroços ou seixos, continuamente agitado, acompanhando o ritmo da dança.
Enquanto vão respondendo ao solista, às vezes dois, que está dançando no centro da roda, os dançarinos vão girando sobre si mesmos, ficando de frente para outro participante, executando uma coreografia de passos deslizantes, com movimentos alternados dos pés e, finalmente dando um pequeno pulo, reiniciando os passos deslizantes.
Uma característica especial do jongo é que só é dançado à noite.
O jongo é uma dança de origem banto da qual participam homens e mulheres, ambos ancestrais do samba e do pagode.
Originário dos batuques e danças de roda trazidos do Congo e de Angola pelos negros da nação banto, o jongo é uma dança comunitária de origem rural que data da época da escravidão.
Estruturado em roda, em torno de uma fogueira que ajuda a manter a afinação dos tambores, acontece hoje em praças públicas, da mesma forma que, outrora, acontecia nos terreiros.
Com ela, os participantes homenageiam São Benedito e os nossos antepassados negros.
Diz-se que antigamente só os mais velhos podiam dançar o jongo, pois eram os únicos que conheciam os fundamentos contidos em seus pontos.
Nos dias de festa, os jongueiros acendiam uma fogueira e iluminavam o terreiro com tochas.
Do outro lado, montavam uma barraca para dançar o «calango», arrasta-pé ao som de sanfona e pandeiro.
Os tambores eram postos junto ao fogo, que aquecia os couros, dando-lhes a afinação necessária para ecoar.
Durante a noite, a dança era interrompida quantas vezes fossem necessárias para que os tambores, roucos, fossem novamente aquecidos.
Os tambores do jongo, feitos de um único tronco de árvore escavado, são chamados de caxambu.
O de som mais grave é também chamado de tambu, e o de som mais agudo, candongueiro.
A dança do jongo é de roda e costuma ser dançada com os pés descalços.
Um casal por vez se dirige ao centro, girando no sentido anti-horário e às vezes ensaiando uma umbigada no jongo, a umbigada é de longe.
A música tematiza situações do cotidiano, cantadas de improviso em relação com pontos tradicionais que são respondidos em coro pelos participantes, numa combinação empolgante de batuque, canto, dança, religiosidade e brincadeira.
Pontos de demanda e visaria, muitos deles centenários, além de improvisos e disputas entre os cantadores, compõem o repertório dos jongueiros, que se alternam com os casais no centro da roda formada a partir da disposição dos tambores.
O jongo foi trazido para o Brasil pelos negros de origem banto e se estabeleceu, na região do Vale do Paraíba, como uma forma dos escravos se alienarem de sua condição.
Por não possuir um caráter totalmente religioso, o ritmo era tolerado pelos senhores, sendo praticado dentro das senzalas regularmente.
O fim da escravidão trouxe um grande contingente de ex-escravos para a capital do país, o Rio de Janeiro.
Sem quaisquer perspectivas, a população pobre se viu obrigada, no bojo da especulação imobiliária, a rumar para o alto dos morros.
Nasciam as primeiras favelas da cidade, bem como se delineavam os primeiros redutos de jongueiros:

São Carlos, Mangueira, Salgueiro e Serrinha.

A partir do advento da vida moderna, a existência do jongo ficou severamente comprometida.
Aquela espécie de ritmo, dançado em roda nos quintais das casas, cedia espaço para os novos hábitos de convivência, e o encontro entre as pessoas, elemento primordial do jongo, se tornava cada vez mais raro.
Além disso, por ser praticado apenas por velhos, era natural que, com o passar dos tempos, o rito desaparecesse, pois não havia como deixá-lo aos mais novos ou assegurar a sua preservação.
O Jongo é considerado o pai do samba, já que o samba também foi se desenvolvendo nessas comunidades.
Alguns teóricos dizem que ele é uma junção da herança europeia, que são as harmonias, o violão e o cavaquinho, com o batuque, com a coisa do escravo, do terreiro, da roda, da palma.
Quando surgiu, o samba passou a dominar, a se popularizar. Isso, porque o chorinho e o samba penetravam tanto na alta sociedade quanto nos bairros mais populares.

Instrumentos

1 cantador ou 2 (alternando), com o chocalho na mão.
3 tambores.
1 puita ad libitum; mas de grande importância para o sucesso do jongo.
O tambor do jongo é diferente.
É feito com a decima parte de um barril de pinga, medindo mais ou menos 1 metro de altura, por 1 palmo e meio de largura.
Conserva o fundo de madeira; a extremidade superior é coberta com pele de gado.
Às vezes a pele de boi é substituída por pele de porco do mato, ou de tamanduá.
O executante bate com as duas mãos sobre o tambor, cujo fundo repousa no chão.
A puita é deitada no chão, com a frente (a pele) para a dança.
O executante (maquinista, era chamado) fica de joelhos no chão, com a abertura dela junto às pernas. Junto dele uma vasilha com água.
A execução
Com a mão molhada, o batuqueiro aperta a cana, e escorrega a mão fechada sobre ela de junto da pele para a abertura do tambor.
Enquanto uma das mãos faz o percurso, a outra fica se molhando, e assim alternadamente.
O contato da mão molhada, que escorrega sobre o bambu, que por sua vez está fixado junto à pele, produz uma vibração rouca, uma espécie de ronco ritmado pela habilidade do executante.

Os figurantes do jongo

Uma grande roda de 20, 40 ou mais indivíduos dos dois sexos.
Ao lado da roda, os tocadores.

A dança

1. O cantador, de chocalho na mão, pula para o meio da roda, e canta o verso (A).
2. O coro responde (B). Enquanto isto, o cantador sapateia.
3. Quase no fim do coro, o cantador entra para o meio do círculo.
4. Um dos assistentes (homem ou mulher) cai para o centro.
5. O cantador fica no círculo cantando, alternando com outro se quiser, enquanto prossegue a dança. 
O verso (A) é repetido ou não conforme o interesse que despertar o dançador; e o coro repete ou não o estribilho, conforme as mostras de habilidade do sapateador.
6. Às vezes um homem é provocado por uma mulher que dança e vem para o centro da roda, travando-se então verdadeiros duelos de dança e sapateio entre os dois, sublinhados com o interesse da assistência que bate as palmas enquanto o cantador sustenta a dança e entoa o coro na hora do sapateio; e tudo isso envolvido nos ritmos dos tambores, da puita e do chocalho do cantador.

O Jongo da Serrinha

A figura emblemática do Mestre Darcy do Jongo, morador da Serrinha e filho da Vovó Maria Joana Rezadeira, célebre mãe de santo da época, percebendo que toda uma cultura poderia se perder, tratou rapidamente de colocar o trem daquele belo legado nos eixos.
O mestre Darcy do Jongo era um músico genial, talentosíssimo.
Ele entendeu que uma forma do jongo continuar sendo preservado e divulgado seria ensiná-lo para as crianças, incluindo-as nas rodas, transformando, em seguida, aquela roda num show.
Assim, ele transformou a prática que acontecia informalmente nos quintais e nos terreiros num espetáculo.

Jongo de Taubaté

A pessoa que dirige a dança é popularmente chamada o dono do jongo, e em geral ela é a proprietária dos instrumentos.
O senhor Leôncio e mais um pretinho sorridente batem o tambu e o candongueiro animadamente.
Um negro já idoso grita ostensivamente:

O povaria...
(Sem com passo e com muito portamento):
Ouve-se uma voz gritar fortemente:
me dá licência... me dá licência... é meio cantado, havendo um portamento, a voz começa alta e vai abaixando como que arrastando as sílabas finais.
O dono do jongo balança a angóia e se aproxima dos instrumentos.
Canta um ponto, e todos eles são improvisados, tanto a música como as palavras.
Ao repetir o ponto, os instrumentos acompanham-no dando o ritmo.
Dança e canto são acompanhados com a seguinte batida:
Na segunda repetição, e às vezes já na primeira, os demais cantam fazendo coro.
É admirável o senso musical dos jongueiros. Canta sozinho aquele que lançou o ponto e a seguir os demais jongueiros cantam com ele em coro.
Assim vão alternando até o final. 
O lançador do ponto é o solista, e ao repetir o seu canto, fazendo a primeira voz, os demais cantam harmonizando.
Alguns cantam em falsete.
Mulheres cantam preferindo a dissonância.
Vão cantando, cantando e, às vezes, quase chegam ao êxtase. A monotonia é convidativa.
Uma vez afirmado o canto, iniciam a dança que somente para quando a pessoa que lançou o ponto se aproxima do tambu e coloca a mão sobre ele e grita: cachoeira.
Também quando outra pessoa deseja cantar, pede licença ao que lançou o “ponto” que estão cantando, gritando cachoera!
Todos param e se aproximam dos instrumentos.
Assim, noite adentro, até o dealbar do dia.
Pequeno é o intervalo entre um canto e outro.
A música, quase sempre improvisada, tem, ora acentos de cunho religioso, ora profano.
Pode-se observar que os jongueiros mais velhos têm melodias mais agrestes, e as dos mais moços são mais adocicadas.
Talvez alguns jongueiros sejam passíveis da influência destradicionalizadora do rádio.
A dança é realizada no centro do círculo. Homens e mulheres dançam.
Aproximam-se, afastam-se, balanceando o corpo, fazem o gesto de dar uma umbigada, tão característica do Batuque, porém, apenas aproximam o corpo.
O homem balanceia para a direita e se aproxima da mulher, esta por sua vez balanceia também para sua direita, aproximando-se do homem, portanto não se defrontam perfeitamente, ficam um pouco de lado.
Agora repetem o mesmo movimento para a esquerda.
Vão dando voltas em sentido contrário às do ponteiro do relógio, direção característica que temos encontrado nas danças de roda de origem africana.
Os jongueiros ora estão dançando no centro, ora na periferia, os pares se movimentam balanceantemente.
Alguns homens sem parceira, porque são poucas as mulheres, ficam dançando sozinhos, e o fazem mais na periferia que no centro da jongada.
O Jongo não é sapateado, mas sim balanceado, os pés são movimentados para frente e para trás, um pouco de lado, são quase que arrastados, não os batem no solo, pisam com o pé inteiro, ao executar o movimento.
As mulheres flexionam os braços quando dançam, mantendo as mãos na altura do peito.
Quando estão dançando, todos os jongueiros cantam, fazendo coro.
Em Taubaté, ponto é o texto-melodia, de caráter improvisado, usado para a dança.
Pode ser de uma, de duas ou mais voltas. Compreende-se por uma volta uma estância que é cantada e não tem mais que dois versos; por duas voltas, quando há quatro versos.
Antigamente era costume cantar ponto de duas ou mais voltas, e hoje somente cantam pontos de uma ou duas.
Exemplo de um ponto de uma volta:

Eu saí lá di casa prá birinca,
eu cheguei topei carranca, eu vorto já.