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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quilombo do Cafundó

A palavra cafundó adquiriu um sentido bastante curioso no português informal. Segundo o dicionário, cafundó significa "lugar de difícil acesso".
De fato, não é fácil chegar a Cafundó.
Localizada no município de Salto de Pirapora, a cerca de 44 quilômetros da cidade de Sorocaba, a comunidade de quilombolas Cafundó é um registro vivo da história da escravidão em São Paulo.
Sua população, predominantemente negra, divide-se em duas parentelas:
A dos Almeida Caetano e a dos Pires Pedroso. Cerca de oitenta pessoas vivem no bairro.
Destas, apenas nove detêm o título de proprietários legais dos 7,75 alqueires de terra que constituem a extensão do Cafundó.
São, conforme voz corrente na comunidade, terras doadas a dois ancestrais escravos de seus habitantes atuais pelo antigo senhor e fazendeiro, pouco antes da Abolição, em 1888.
A doação feita às duas irmãs - Ifigênia e Antônia, que estão na origem das duas parentelas - teria sido muito maior.
A especulação imobiliária, a ambição dos fazendeiros circunvizinhos e a falta de documentação legal por parte de seus legítimos donos foram encolhendo a propriedade para as proporções que hoje tem.
Nela, seus moradores plantam milho, feijão e mandioca principalmente. Nela, criam galinhas e porcos.
Tudo em pequena escala, apenas para atender parte de suas necessidades de subsistência.
Fora dela, trabalham como diaristas, boias-frias e, às vezes, no caso das mulheres, como empregadas domésticas.
Assim, participam de uma economia de mercado. Sua língua materna é o português, uma variação regional que sob muitos aspectos poderia ser identificada ao chamado dialeto caipira, tal como o apresenta, por exemplo, Amadeu Amaral (1976).
Usam, além disso, um léxico de origem banto, quimbundo sobretudo, cujo papel social na comunidade será referido mais adiante.
Cupopiá no Cafundó
Língua de origem africana, a cupópia sobrevive no interior de São Paulo.
"Anguta curimano ovariá." A frase dita pela negra Maria Aparecida Rosa de Aguiar, a Cida, significa literalmente "mulher fazendo comida", mas pode ser traduzida por "eu estou fazendo comida".
Cida, 51 anos, é uma anguta jocoroto do injó do Cafundó. Ou simplesmente uma avó da comunidade do Cafundó, um dos últimos redutos negros de fala africana ainda existentes no Brasil.
Ela é, talvez, a única de sua comunidade que faz questão absoluta de ensinar a seus sete netos, a seus três filhos e até mesmo a seu marido, o paraibano Edvaldo Ferreira de Aguiar, o idioma de seus avós.
"As crianças têm vergonha de falar. Elas acham que não é importante.
Não temos uma pessoa que leve para frente o nosso costume."
Talvez por isso sua língua, a cupópia, esteja desaparecendo.
Hoje seus 160 vocábulos somente são falados e entendidos por 12 das 60 pessoas que compõem a comunidade do Cafundó.
Sintomaticamente todos são adultos ou velhos. Os jovens e as crianças estão se desinteressando pelo idioma.