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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Morte e ressurreição entre os Ndembos - Baixo Congo

Ndembo é uma sociedade secreta antiga que influenciou fortemente o Baixo Congo, especialmente nos territórios ao sul do Rio Congo.
Uma vez por ano, nos dias festivosos membros da comunidade marcham em procissão em meio à alegria presente, carregando as pessoas que caíram num estado que se assemelha a morte.
São os noviços, que se comportam como se estivessem moribundos e que tivessem ido para outro mundo.
Seus corpos são envolvidos numa mortalha e eles são carregados para uma reclusão fora da aldeia chamada Vela onde é anunciada a morte desses "Ndembos".
Na sociedade Ndembo, acredita-se que as pessoas que caem como mortas ficam despojadas de sua personalidade, ate que "sobre apenas osso", e o que sobra é cuidado pelo Nganga.
O processo de iniciação pode variar de três meses a muitos anos, período onde o Nganga os trará de volta à vida através de seus poderes sobrenaturais.
Nessas reclusões ha 20, 30 e até cinquenta pessoas que “caíram como mortas" de uma só vez.
A iniciação dos noviços é feita por um Nganga, no momento em que eles caem como mortos.
Recebem novos nomes e encaram tudo o que vier da esfera terrestre como novidade, desconhecem seus parentes de sangue, e até mesmo desaprendem como comer.
Comportam-se como crianças, desejando tudo aquilo que veem, podendo ate machucar alguém para conseguir o que querem.
Essa sociedade está preparada para assumir que os iniciados são crianças mesmo, e que como tal não podem agir de forma diferente.
Aqueles que já foram iniciados nesse rito chamam-se Nganga, aqueles que sabem, enquanto que os noviços chamam-se Vanga.
Durante a sua reclusão dentro do recinto chamado Vela, eles aprendem a linguagem exotérica, que empregam frequentemente.
O melhor registro desse grupo é talvez aquele feito pelo etnólogo Adolf Bastian (1826-1905), que apontou:
O Grande Nkissi (sacerdote que transmuta o fetiche) vive no interior das florestas onde ninguém tem acesso.
Quando ele morre, o Nganga recolhe seus ossos cuidadosamente para trazê-lo de volta a vida, cuidando para que os ossos possam voltar a ter carne e sangue.
Mas não é bom falar a respeito disso.
Na comunidade Ambamba todos já caíram desfalecidos alguma vez.
Adultos e jovens cujo momento chegou, já caíram nesse estado de torpor quando o Nganga agitou sua cabaça em direção ao vilarejo, e do qual se reergueram após três dias.
Mas aquele noviço que o Nkisi escolhe é levado para a reclusão no mato onde fica por vários anos.
Quando acorda de volta para a vida, recomeça a beber e comer como antes, mas sua mente se foi (simbolicamente) para longe, por isso o Nganga precisa reeduca-lo para que reaprenda cada movimento, tal qual uma criança pequena.
No inicio isso só pode ser guiado por uma vareta, mas quando recobra os sentidos, pode-se falar com ele, e quando sua educação termina o Nganga o devolve para a família.
Os pais estranham o seu filho e mal o reconhecem, mas o Nganga os tranquiliza, e rememora aquilo que ocorreu.
Apenas os iniciados podem fazer parte das danças, e aqueles que nunca experimentaram o Ambamba ficam de lado.
Entre todos os Bantos que vivem abaixo da África Subsaariana, o termo usado para designar essas comunidades religiosas de iniciação e possessão é Ngoma.
E Ngoma significa tambor.
O antropólogo Victor Turner chamou-os de “Tambores da Aflição" porque as pessoas buscam frequentemente a religião para curara seus males e problemas.
Entre os Bakongo havia várias comunidades como essas, Nkita, Ndembo, Kimpasi, Nkimba, Lango, e Lemba.
A maioria delas, exceto a Lemba, que parou de funcionar no inicio do século XX, ainda existem, mas de forma muito mais restrita que no passado.
E todas elas contribuíram para a evolução da religião banta nas Américas.