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sábado, 17 de março de 2012

Funfun - a paleta dos brancos, cinzas e prata


Àwọn àwọ - A paleta de cores Ioruba

A cor branca, ou simplesmente o branco, é a junção de todas as cores do espectro de cores. É definida como "a cor da luz", em cores-luz, ou como "a ausência de cor", em cores-pigmento. É a cor que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima.
A cor branca está associada à paz, calma, ordem, limpeza e outras conotações positivas, na cultura ocidental. O mesmo não acontece em algumas culturas orientais, nas quais o branco é a cor do luto.
O prefixo grego para branco é Leuko-. Usado por exemplo em leucócito.
Os iorubas adotam uma gama de cores e formas nos objetos sacros e rituais, bem como nos seus colares de contas e na vida cotidiana.
Nessa cultura as cores estão agrupadas por grupos de acordo com os temperamentos humanos.
A visão das cores evoca uma reação cognitiva assim como de sensações.
A cor para os iorubas faz com que a ação aconteça.
Pintar para os deuses significa explorar o simbolismo da cor conforme o temperamento e as características dos orixás.
As qualidades das cores com as quais se decoram as paredes dos oratórios e templos representam um meio afetivo de veneração e culto para os deuses ancestrais.
As cores empregadas tanto nos murais quanto nas figuras entalhadas, constituem uma forma de analisar e de interpretar outros objetos da arte africana.
Os iorubas classificam as cores em três grupos chamados de funfun, pupa e dudu.
Cada qual representa um temperamento e uma temperatura.
Funfun abrange a paleta dos brancos, pratas, cinzas claros e cromados.
Evoca frio e calma.
Essas cores estão associadas com a maturidade e a sabedoria.

Asé ou Axé (força vital para os iorubás), conforme a classificação encontrada no livro Os Nagôs e a Morte.

Em 1976 foi publicada, pela Editora Vozes, a primeira edição do livro Os Nagôs e a Morte; pàdé, asèsè e o culto ègun no Brasil, de Juana Elbein dos Santos.
Fruto de longos anos de trabalho de campo, na África e no Brasil, o livro continha a tese de doutoramento em Etnologia apresentada pela autora à Sorbonne, quatro anos antes.
E, nele, a doutora Juana Elbein propunha-se a "examinar e desenvolver algumas interpretações sobre a questão da morte, suas instituições e seus mecanismos rituais, tais quais são expressos e elaborados simbolicamente pelos descendentes de populações da África Ocidental no Brasil.
Neste livro Juana faz uma curiosa menção à paleta de cores ioruba.
Na sua classificação, o Axé (força vital) é dividido por reinos e cores.

Asé Funfun - força vital ligada à cor branca

reino animal: sêmem, saliva, emí (hálito, sopro divino), plasma (em especial do igbin - espécie de caracol -), inan (velas)
reino vegetal: favas (sementes), seiva, sumo, álcool, bebidas brancas extraídas das palmeiras, yiérosùn (pó claro, extraído do iròsún) ori (espécie de manteiga vegetal), vegetal, legumes, grãos, frutos, raízes...
reino mineral: sais, giz, prata, chumbo, otás (pedras), areia, barro, terra...

Aso ala - axó alá

O uso do aso ala, a roupa branca usada pelos iniciados de Obatala, significa a necessidade de estar puro nas intenções e atitudes.
Manter limpa a roupa branca no clima tropical e empoeirado da África é uma provação comum para os desajustes sociais entre os africanos.
Obatala representa as ideias de pureza ética e ritual, e por isso a demanda de sanções de sua moralidade.
A brancura imaculada está frequentemente associada com ele.
Isso simboliza pureza e santidade.
Seus devotos estão sempre vestidos de branco, assim como todos os objetos usados no seu templo, incluindo a comida.
O inhame pilado, eko (o mingau congelado), nrí (manteiga de karitê, e o igbín (caracol).

Obàtálá , o grande Òrìsà (orixá) ou rei do pano branco para os iorubas, é o criador do mundo, dos homens, animais e plantas.
Foi o primeiro Orixá criado por Olodumare e é considerado o maior de todos os Orixás.
É o mais velho dos Orixás, o rei de vestes brancas, raiz de todos os outros Òòsààlà.
Representa a massa de ar, as águas frias e imóveis do começo do mundo, controla a formação de novos seres, é o senhor dos vivos e dos mortos, preside o nascimento, a iniciação e a morte.
É o responsável pelos defeitos físicos, ele é corcunda porque recusou-se a fazer uma oferenda de sal numa cabaça e Èsù castigou-o pregando a cabaça nas costas, razão pela qual não come sal, comer sal para êle constitui-se num ato de alto canibalismo.
Êle trouxe a palavra ao homem e durante suas festas não se fala, durante três semanas tudo é silêncio, pois a palavra é dêle.

Por esses motivos é louvado como:

Brtr-banta nínú rlr
Ósun nínú rlr
Ó jí nínú rlr
Ó ti inú rlr dede

Imenso em roupas brancas
Ele dorme vestido de branco
E acorda com roupas brancas.
Ele levanta vestido de branco

Em outro Oriki ha uma passagem que diz:

Obrtálá kn f epo
Obrtálá kn f osun
Obatala abomina o dendê
Obatala abomina o osun

Esses orikis atestam a preferência de Obatalá pela cor branca.