Arte Têxtil Africana
O povo Mbuti vive nas florestas tropicais de Ituri no
nordeste da Republica Democrática do Congo (antigo Zaire).
São caçadores cujo estilo de vida muda muito pouco, sempre
contando com os recursos da floresta para abrigo, comida e a maior parte do seu
vestuário.
Os Mbuti continuam fazendo seu pano de fibras usando as
antigas técnicas, diferentemente dos outros povos da Africa central e oriental
onde a pratica de fazer tecidos de fibras vegetais já foi largamente difundida.
Os homens limpam pequenos retalhos de fibras de certas
arvores e preparam de modo a torna-los maleáveis.
Dai então são decorados com desenhos pelas mulheres que usam
pigmentos naturais. Os desenhos abstratos são expressões marcantes da sua
antiga cultura.
Uma vez acabados os panos de fibra são usados em uma serie
de cerimônias.
Os panos de fibras pintadas (pongo, murumba) são usados como
trajes para os ritos de passagem e celebrações espontâneas que marcam o ritmo
da vida do povo Mbuti. Casamentos, funerais, o festival sagrado de Nkumbi e Elima,
as iniciações de puberdade.
São usados nas danças sacras dentro da floresta ou para
simples deleite.
Nestas manifestações estão inclusas as danças miméticas como
as da "caçada do elefante" e da abelha, cujo propósito é o de
agradecer pela comida e pelos jogos. Ha também a dança erótica Ekokomea na qual
homens e mulheres se imitam de forma burlesca.
Para os Mbuti, “a floresta é sagrada, é a verdadeira fonte
da existência e da bem-aventurança." É a sua divindade, seu progenitor e
seu santuário.
Os Deuses por sua vez são Bamiki Bandura, “os filhos da
floresta" nascidos de uma árvore e envoltos desde o nascimento numa
tradição rica e simbólica que enfatiza o valor supremo de Ndura, ou "vida
silvestre".
As canções entoadas pelos Mbuti sempre se referem à
floresta, repletas de amor, bom humor e reverência.
Roupas de fibras que envolvem uma criança Mbuti no
nascimento, assim como o túnel de cortiça usado pelos adolescentes durante os
rituais de puberdade nos quais eles "renascem", são considerados o
ventre gerador, Ndu, assim como a floresta.
Os amuletos que se fazem para proteger as crianças e
iniciados, assim como "água de cipó" na qual banham os recém-nascidos,
estão imbuídos dessa energia nutritiva e protetora.
Essa energia também é emanada dos elementos naturais como a
fumaça do fogo, usada para purificação dos altares, e o vento, que é o sopro da
floresta e de seus espíritos.
As pinturas Mbuti concebem o mundo transmutando a
extraordinária capacidade de leitura dos símbolos por seus criadores. Tanto no
reino visível (a geometria fractal das árvores) como no invisível (o som das
folhas pisadas e as modulações dos zumbidos de insetos), numa linguagem visual
muito particular.
Muitas formas de sua padronagem são efêmeras. As mulheres
pintam linhas sinuosas e marcas de animais em suas crianças e nelas mesmas.
Muitas delas brincam de cama de gato, usando cordas.
Os homens usam desenhos assimétricos barbeados em seus
cabelos nos emblemas de clãs e nos signos de folhas. Brincam com efeitos de luz
pela disposição da lenha no fogo. Os Mbuti se expressam artisticamente da mesma
maneira como cantam, conforme seus impulsos e seus momentos de jubilo, sempre
reverenciando a floresta.
Nesses panos de fibras, os artesãos combinam um vocabulário
biomórfico com uma geometria curvilínea de formas, para criar sombras e
espirais de luz, insetos que zumbem alto, e o emaranhado dos cipós.
Ha um extenso repertório de ideogramas e motivos com nome abstraídos
da natureza e do cotidiano.
A silhueta de uma borboleta nas pinturas pode ser
identificada como um pássaro ou um inseto em outra circunstancia. Ou ainda por
aquilo que faz como voar, não importando aquilo que esta desenhado.
Xadrezes podem representar tartaruga, crocodilo, serpente,
expressões do ambiente talvez para essas texturas de repteis.
Enxames e círculos aglomerados, crescentes e pintas evocam
as manchas do leopardo totêmico (com suas conotações sobrenaturais).
Também representam grupos de insetos, trilhas de formigas ou
padrões celestiais.
Mas composições Mbuti as linhas ondulantes e curvas, se
interceptam , recuam, e divergem criando um desenho intrincado.
O continuo jogo de linhas reforçam as alusões botânicas, os
cipós que escondem a flor da trombeteira, ou os brotos de arvore que indicam a
presença de jovens iniciadas.
Mas os cipós também se metamorfoseiam em cobras,
ziguezagues, e losangos, que capturam os movimentos e aparências entrecortados.
Alguns motivos dispensam legendas: a tartaruga e o leopardo,
emblemas de truculência e esperteza.
Ha também ressonâncias do mundo sobrenatural, com seu imaginário
cosmogônico de água, animais e arco-íris, de riachos onde acontecem coisas do
outro mundo, de pássaros e cipós oscilando.
Todavia, as implicações da narrativa simbólica desses
trabalhos anônimos permanecem ambíguas, e pouco documentadas, só pode
inferir-se significados por analogias e contexto...
O processo de criação dos panos de fibras Mbuti.
Os panos de fibras Mbuti são extraídos da camada interna da
casca da arvore. Um material fibroso e forte, que se amacia com golpes
sucessivos.
O Mbuti usam a fibra das cascas de umas seis espécies de
árvores. A extração é feita por homens que sobem nelas e cortam uma faixa larga
dessa fibra com um facão.
A fibra extraída é limpa de qualquer resquício de madeira e
rugosidade para que não haja problemas quanto à aderência de tintas e pinturas.
Em seguida a fibra é amaciada, tanto pela água na qual é mergulhada
como pela fumigação sobre o fogo.
A fibra é esticada em seguida sobre um tronco liso e
martelada com um pedaço de madeira grossa ou uma presa de elefante fixa em um
galho como uma machadinha.
Muitas vezes esses martelos são gravados com desenhos o que
adiciona mais textura na cortiça.
A fibra se expande com as marteladas. Apos a secagem a
cortiça é novamente molhada e martelada. Esse processo leva mais ou menos umas
duas horas, ate atingir a maciez necessária.
As mulheres preparam as tintas de uma grande variedade de raízes,
frutos e de folhas.
Elas usam os dedos e palitos para pintar. Por vezes dobram
os panos em pedaços para trabalhar separadamente.