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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Caboclo - Valores Éticos, Morais e Religiosos

A concepção que predomina sobre o Caboclo é do gentio adaptado às realidades do branco, desempenhando atitudes coerentes com os dogmas da Igreja Católica.

Essa colocação, à primeira vista, pode parecer difícil de ser aceita, mas, na realidade, os Caboclos que aparecem nos rituais são ditos batizados e representantes das leis de Deus - talvez uma projeção muito forte da imagem da catequese. Isso não quer dizer que não exista Caboclos rebeldes, que fogem às normas comuns. No entanto, é desenvolvida a imagem do caboclo como o impetuoso, bravo e guerreiro.
Ampliando esses conceitos podemos estabelecer estudos sobre os Caboclos, observando as características aliadas às técnicas de subsistência, ou sejam:

Caboclos capangueiros - são aqueles voltados ao pastoreio do gado bovino, desempenhando todas as funções correntes com essa atividade econômica. Sua maneira de ser, seus hábitos e atitudes lembram, realmente, o vaqueiro do Nordeste, trajando sua indumentária em couro, levando chicote, laço e a montaria que é o cavalo. Baseando-se nessas características, vêm aos terreiros os Caboclos boiadeiros e capangueiros que mantém elos comuns. Geralmente esses Caboclos são conhecidos por sua valentia e adestramentos em conduzir boiadas, girando obrigatoriamente, em torno deles, um folclore típico das zonas de pastoreio: vocabulário próprio, lendas, alimentos, músicas e danças.

Caboclos de pena - são ditos mais livres, não estando presos às atividades econômicas padronizadas, desempenhando seus trabalhos nas matas, tendo a caça e a pesca como principais fontes de subsistência. Por isso seus procedimentos diferem dos capangueiros que estão condicionados a normas, regras e valores dos civilizados, procurando adequar as duas modalidades de vida em um todo harmonioso e coerente.

Esses dois tipos distintos de Caboclos são encarados nas práticas dos terreiros como enviados de Zaniapombo, que estão prontos a praticar o bem, desempenhando papéis de curandeiros, conselheiros, além de nortear as vidas de seus seguidores. 
Paralelamente, o culto dos inquices é desenvolvido, havendo correlacionamento entre as divindades africanas e os Caboclos - divindades nacionais - que ocupam, no panorama da mitologia afro-brasileira, papeis de divindades auxiliares, não possuindo o status de um deus.

por Raul Giovanni da Motta Lody

Publicado em 1977, Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Arte, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (Rio, RJ).
Raul Geovanni da Motta Lody (Rio de Janeiro, 1952), é um antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Suas principais pesquisas antropológicas e etnológicas resultaram na publicação do Dicionário de Arte Sacra e Técnicas Afro-Brasileiras.