Vodu haitiano
Dois de novembro, Dia dos Mortos, normalmente chamado de Fet
Ghede (pronuncia-se guêdei) é um feriado nacional no Haiti.
A Fet, Festa dos Ancestrais, representa o encerramento do
velho ano e o começo do novo.
Quaisquer débitos com Baron, Maman Brigitte ou Ghede devem
ser pagos nesta ocasião.
Católicos assistem missa de manhã e então vão para o
cemitério, onde eles rezam e fazem reparos nas tumbas de seus familiares.
A maioria dos católicos haitianos também são voduistas, e
vice-versa, de modo que no caminho para o cemitério muitas pessoas mudam de
roupas, do branco que eles vestem para ir à igreja para o púrpura e negro dos
loas Ghede, os espíritos de antepassados.
No meio da manhã as ruas de Port Au Prince estão atulhadas
de milhares de pessoas.
Dúzias de médiuns já estão possuídos por um Ghede com suas
vozes nasais, piadas obscenas e rodopios que os tornam inconfundíveis.
Grand Cemetiere, o cemitério principal de Port Au Prince, é
lotado por pessoas.
Multidões apertam-se ao redor da cruz cerimonial de 8 metros
do Baron e da cruz menor de Maman Brigitte.
Muitos trazem oferendas de café e rum que eles vertem ao pé
das cruzes.
Eles também oferecem pão, amendoim grelhado, milho assado e
às vezes comida apimentada.
Ocasionalmente uma pessoa, normalmente um Houngan ou Mambo,
sacrificam uma galinha ou um par de pombos.
As oferendas são rapidamente consumidas pelos mendigos que
se amontoam pelo cemitério.
Algumas pessoas vendem velas, fitas de cera de abelha e
imagens religiosas de santos para representar o Baron, Maman Brigitte e os
Ghedes.
Uma Mambo em saias volumosas de negro e lavanda, um babado
das mesmas cores, vários lenços de seda amarrados ao redor de sua cabeça e fios
de contas ao seu pescoço aproxima-se da cruz de Maman Brigitte com seus hounsis
(os que receberam a primeira iniciação.).
Ela leva fitas de cera de abelha pegajosa que afixa em cada
braço da cruz e ao centro.
Retira uma galinha preta de seu saco de palha e a passa
sobre os corpos dos hounsis, removendo todas as más influências.
Depois da oração, mata essa galinha do mesmo modo que faria
para preparar uma refeição comum.
O sangue jorra na cruz e ela doa a galinha a uma mendiga
faminta que aguarda.
A Mambo é possuída por Maman Brigitte que profetiza os
eventos do próximo ano.
Um do hounsis que se comportou mal é castigado com alguns
leves tapas e outro que está doente recebe uma receita para preparar um tônico
de ervas.
Então Maman Brigitte encharca sua cruz com rum, canta e
dança a banda com grande virtuosismo para alegria dos presentes.
Alguns momentos depois deixa a cabeça da Mambo, que, novamente
consciente, recompõe-se a e sai do cemitério com toda compostura.
Pela cidade, no cemitério de Drouillard, onde os habitantes
do bairro Cite de Soleil, enterram as pessoas mais pobres, a adoração é ainda
mais intensa.
Filas de voduistas de vários peristilos (terreiros)
marchando e cantando atrás de dos percussionistas, enquanto mais e mais pessoas
sofrem possessões conforme se aproximam do cemitério.
Os que permanecem conscientes visitam os sepulcros de amigos
e parentes e falam a eles como se pudessem ouvir debaixo do solo.
“Olhe Papai,” diz uma mulher, eu trouxe comida para você”.
Irmão mais velho lamenta um homem jovem, “o Exército o
matou, nós achamos seu corpo em pedaços, mas todos eles estão aí, irmão, não
estão”?
Você não tocará os tambores novamente para nós, querido
irmão...
Mamãe sente saudades, ela quis vir, mas ela está doente. “Veja
o rum que eu trouxe para você”!
Os loas Ghedes varrem o cemitério gritando piadas obscenas e
cantando canções obscenas com todo o ar de seus pulmões. Aqui está uma cantiga
popular entre os Ghedes ano passado no cemitério de Drouillard:
Zozo, tone! A la yon bagay ingra
Koko malad kouche, zozo pa bouyi te ba l bwe
Koko malad kouche, zozo pa vine we l
Pênis, pelo trovão! Que coisa ingrata
Vagina está doente e cansada
pênis não ferve chá para ela
Vagina doente e cansada
pênis não vem a ver
À noite, cada peristilo faz uma dança em honra de Baron,
Maman Brigitte, e dos Ghedes.
As pessoas que vêm devem estar todas alimentadas e os loas
que aparecem também são festejados com caldeiras de comida especialmente
preparadas para eles.
A dança segue ao longo na noite, mesmo até a alvorada.
O talento artístico dos loas é incomparável e até mesmo não-voduistas
vêm assistir.
Então os adoradores exaustos voltam para casa, esperar o
próximo Fet Ghede do ano seguinte.
Os Loa Ghedes
Os loa Ghede constituem uma família enorme de espíritos, tão
numerosos e variados quanto às almas de cujas famílias se originaram.
Por serem todos membros da mesma família, ou "as
crianças espirituais" de Baron e Maman Brigitte, todos levam o mesmo
sobrenome - La Croix, a cruz.
Não importa quais outros nomes possam vir a carregar, sua
assinatura é sempre é La Croix:
Ghede Arapice la Croix
Brav Ghede de la Croix
Ghede Secretaire de la Croix
Ghede Ti-Charles la Croix
Makaya Moscosso de la Croix
E alguns nomes degradantes tais como:
Ghede Ti-Mopyon Deye la Croix (pequena larva de piolho atrás
da cruz)
Ghede Fatra de la Croix (Ghede lixo atrás da cruz),
Ghede Gwo Zozo nan Crek Tone de la Croix (Ghede pênis grande
na vagina pelo trovão da cruz)
A vasta maioria de Ghedes é masculina.
Ghede pode possuir qualquer um, a qualquer hora, até mesmo
os protestantes (para enorme vergonha deles.).
São os antepassados da Guiné e os seres vivos do Haiti que
transitam naturalmente entre a vida e a morte.
Vestem-se quase sempre como seu pai, o Baron, roupas negras
ou púrpuras, chapéus elaborados, óculos escuros, às vezes sem uma lente, um
cajado ou baton (bastão).
A família de Ghede, incluindo o Baron e Maman Brigitte, são
absolutamente notórios no uso de baixezas e termos sexuais.
Há uma razão para isto, os Ghede estão mortos, e além de
quaisquer castigos.
Nada mais pode lhes ser feito, portanto, o uso de
profanidades normalmente entre os haitianos um pouco formais, é um modo de
afirmar seu descaso em relação à vida dura que levam.