Santeria cubana –
rito ioruba
Abatán
Abatán é o orisha das terras alagadas. Companheiro de Erinle
acredita-se que more nos mangues que precedem o rio em que Erinle é cultuado no
território Ioruba. Em Cuba, Abatán é recebido e propiciado juntamente a Erinle
e não possui um culto que lhe seja próprio. Muitos sacerdotes consideram Erinle
como médico e Abatán, uma espécie de enfermeiro ou ajudante.
Aroní
Aroní é um oricha que trabalha próximo de Osayín e de Ayá. É
descrito como uma criatura fenomenal com cabeça e rabo de cachorro e corpo
humano que se mantém ereto sobre sua única perna. Acredita-se que Aroní instrua
seus discípulos em todos os mistérios da floresta. Quando Aroní escolhe um
estudante, o indivíduo desaparece inexplicavelmente na floresta por um período
indefinido. Depois de ter adquirido o conhecimento necessário, Aroní retorna o
indivíduo ao mundo, provendo-o de um pelo do seu rabo como evidência do seu
treinamento.
Oké
Oké é o oricha da montanha e das colinas. Representa longa
vida ou imortalidade. Oké é um oricha fúnfún e um companheiro inseparável de
Obatalá. Oferendas para este oricha são normalmente postas na base de uma
colina ou montanha. Em casos extremos, sacrifícios devem ser oferecidos a Oké
no topo da montanha. Oké é adorado conjuntamente a Obatalá e não possui omós,
nem qualidades.
Korinkoto
Korinkoto e o irmão de Orishaokó, também relacionado à
agricultura e às colheitas. Acredita-se que Orishaokó cuida dos campos durante
o dia e Korinkoto durante a noite. Junto a uma entidade chamada shigidí, um
tipo de Eshú, Korinkoto representa os mistérios desconhecidos e encravados nas
profundezas da terra. Não possui iniciados diretos, nem qualidades.
Ogé (Ogué)
Ogé é o oricha da direção, guiando as pessoas pelos caminhos
da vida. Representado por um par de chifres de boi ou de búfalo, Ogé é
encontrado nas florestas e savanas. Acredita-se que este oricha tenha sido um
peão de Oyá. Houve uma vez em que Oyá desobedeceu Shangó e incorreu em sua ira.
Como prova de paz, ela lhe ofereceu numerosos presentes, entre os quais estava
incluído Ogé.
Ibejí
Nas terras Iorubas, a adoração de Ibejí foi dedicada a
propiciar o nascimento e a encarnação de espíritos de gêmeos. Ibejí é o oricha
padroeiro dos gêmeos. Ainda, Ibejí é também um culto ao nascimento de gêmeos,
em que se paga tributo à mãe e aos filhos, e especialmente no caso em que um ou
ambos os gêmeos morrem durante ou após o parto. Por razões inexplicáveis, a
maior incidência de nascimentos de gêmeos no mundo inteiro, precisamente ocorre
entre os iorubas.
O primeiro gêmeo nascido chama-se Taiwó â saia e prove o
mundo. O segundo gêmeo chama-se Kehindé â eu seguirei. Se o primeiro indicar ao
último que a vida e uma atividade prazerosa, Kehindé segue o seu exemplo e
nasce. Taiwó é considerado o mais jovem dos Ibejí e Kehindé é o mais velho dos
dois.
A tradição sustenta que o primeiro par de Ibejí a nascer,
foram filhos de Shangó e Oshún, e foram por Yemojá. Ibejí são considerados
seres muito poderosos. Um mito Creole narra com detalhes uma vez em que os
Ibejí fizeram o diabo de tolo. De fato, são orichas que estão vivos.
Costumeiramente, não devem ser ordenados tal como nasceram. Contudo, quando o
são, Taiwó é ordenado para Shangó e Kehindé é ordenado para Yemojá.
Sempre que os Ibejí se apresentam em wemileres ou bembés, os
tocadores de tambor saúdam Ibejí entoando seus cantos e executando seus ritmos
e lhes oferecem presentes ou dinheiro. Acredita-se que Ibejí retribuirá essas
dádivas, multiplicando-as de muitas maneiras.
Ainá
Ainá é a oricha patrona das crianças nascidas com o cordão
umbilical ao redor do pescoço. Em Cuba, ela também é considerada a mãe dos Ibejís
por ser o principal oricha de um panteão que rende homenagem ao fenômeno do
nascimento. Os Lukumis falam acerca de sete Ibejís: Ainá, Taiwó, Kehindé,
Idowú, Olorí, Oroniá, e Alaba. Ainá é a divindade que preside esta legião.
Ainá está também associada ao fogo. Ela permite que Shangó
possa lançar fogo pela boca quando fala. Os devotos de Ainá, crianças nascidas
enroladas pelo cordão umbilical, são ordenadas para Shangó.
Oranyán (Oroiña)Oranyán é um dos filhos de Oduduwá,
considerado o pai de Dadá, Shangó e Aganjú. De acordo com a mitologia, foi o
filho de uma mulher que Ogún trouxe de terra distante onde ele havia lutado.
Quando Oduduwá viu a mulher, imediatamente se sentiu atraído por ela e exigiu
tê-la. Algum tempo depois, nasceu Oranyán. Era metade negro, como Ogún, e
metade branco, como Oduduwá. Na s terras Iorubas, durante o festival de
Oranyán, seus sacerdotes pintam o corpo neste padrão. Oranyán tornou-se um
grande guerreiro. Depois do falecimento de seu pai, ascendeu ao trono. Passado
o tempo, tornou-se tão cansado das lutas que, decidiu retirar-se às profundezas
da terra, donde continua a reinar.
Oranyán é considerado o centro da Terra e a força que a
mantém girando através do espaço. Seus sacrifícios sempre são efetuados em
conjunto aos de Ilé â a Terra. Os Lukumis associam Oranyán com Aganjú. De fato,
muitos Olorishas chamam Aganjú pelo nome do seu pai. Muitos Olorishas não o
reconhecem como um oricha individualizado e insistem em que Oranyán e Aganjú
são o mesmo. Oranyán não possui omós, nem qualidades.
Boromú e Borosiá
Boromú e Borosiá são dois orichas Egbados e formam parte dos
orichas fúnfún ou divindades brancas associadas à Obatalá. Acredita-se que
sejam gêmeos nascidos de Yewá. O pai destes orichas poderia ser Orúnmilá,
porém, em Cuba, os Olorichas sustentam que é Shangó. Estão estreitamente
ligados aos cultos de Oduduwá, Olokún, Erinle, e Yewá. Acredita-se que Yewá, ao
saber de sua gravidez, sentiu-se tão embaraçada que tentou provocar um aborto.
Yemowó (Yembó, Yemó, Yemú)
Yemowó é a esposa de Babá Furúrú (também conhecido como
Alamoreré), o Obatalá escultor creditado como criador da humanidade. Os Olorichas
consideram-na uma qualidade de Yemojá relacionada à Obatalá, e a cultuam
separadamente de Yemojá. Acredita-se ser a mãe de Ogún, e um mito conta que
após o estupro incestuoso de sua mãe, Ogún condenou a si mesmo a viver na
floresta e a trabalhar incessantemente para beneficiar e compensar a
humanidade. Depois do ocorrido, Obatalá recusou-se a ter mais filhos. Logo
depois, quando Orúnmilá nasceu, ele foi imediatamente levado à floresta,
enterrado até a cintura e ali abandonado para que morresse. Mas, quando nasceu
Shangó, Yemowó negou-se a puni-lo da mesma maneira que a Orúnmilá. Ela o
entregou a Dadá para que o criasse e ocultasse aquele nascimento de Obatalá,
contando a este que a criança tinha morrido após o nascimento.
Este mito explica por que Yemowó recusa qualquer associação
com Ogún. Da mesma maneira que Naná Burukú, seus sacrifícios não podem ser
executados com faca de metal. Um pedaço afiado de madeira ou de vidro substitui
a faca.
Ogán
Ogán é um orichas fúnfún, considerado o comandante de
Ajáguna. Muitos Olorichas consideram-no um tipo de Elegbá para Ajáguna. Duas
outras divindades menores, Obón e Oboní, acompanham-no. Não existe iniciação
para Ogán.
Agidaí
Agidaí é outro obscuro orichas do qual muito pouco se
conhece. Com toda probabilidade, devo ter sido o primeiro Oloricha a trazer
esta divindade aos Estados Unidos. Recebi-o de Miguel Villa, Oké Bí, um Oní
Shangó morto no começo dos anos 90. Oké Bí contou-me que este orichas é o
patrono dos Obás Oriatés e que promove o desenvolvimento do afudashé - ashé da
fala, uma habilidade profética indispensável para que o adivinho consiga que
suas predições, efetuadas através de ita, venham a ter propósito. Ademais, Oké
Bí me disse que Agidaí é um importante orichas para combater epidemias, e
descreveu o ebó indicado para Agidaí nessas situações.
Ainda que não se tenha esclarecido donde Oké Bí recebeu este
orichas, é possível que tenha origem Arará, uma vez que há um vodún cultuado
pelos Ararás pertencente à família de Makeno, o equivalente de Obatalá, chamado
Agidaí.
Irokó (Irocó)
Irokó é o orichas da abundância e prosperidade. Acredita-se
que more na árvore irokó, teca, da África Ocidental, mas devido à inexistência
desta árvore em Cuba, foi associado com a Ceiba (Ceiba pentandra, L.). Muitos Olorichas
plantam esta árvore em suas casas por ser considerada uma das árvores mais
respeitadas, com grandes poderes esotéricos. Supõe-se que todos os orichas se
reúnam em suas raízes, ainda que especialmente associada à Shangó, Aganjú,
Oduduwá, Obatalá, e Egúngún. Quando Irokó é cultuado na base da Ceiba, a árvore
é ornamentada com almofadas de diversas cores, com mariwó, folhas do
dendezeiro, e outros objetos. Muitos alimentos cozidos são oferecidos às
divindades na base desta árvore.
Há somente um caso conhecido de ordenação para Irokó em
Cuba. Modesta Morera, Alaraba. Foi ordenada para Irokó através de Yemojá
(Yemojá oro Irokó) pelo falecido Cheo de Shangó, Shangó Larí, em Matanzas, na
década de 1950. Desde então, não houve outra ordenação.
Olosá
Olosá é a esposa de Olokún. É a deusa da lagoa e seus
mensageiros são os crocodilos. Nas terras Iorubas, é adorada nas lagoas de
Lagos que precedem à costa Atlântica. Ali é onde são levadas suas oferendas. Se
os crocodilos as consumirem, o oricha aceitou-as. Olosá não possui qualidades.
Ayarokotó
Esta oricha é filha de Yemojá e outra mensageira de Olokún.
É encontrada no horizonte, onde o mar encontra-se com o céu. Acredita-se ser a
arauto de Olokún que previne a humanidade acerca da ira de Olokún, antes que
uma onda sísmica ocorra. È o som estrondoso que precede a onda sísmica. Parte
dos instrumentos de Ayarokotó é mantida na casa do Oloricha e a outra é
sepultada na praia.
Otín (Oti)
Otín é uma oricha relacionada com Erinle e Yemojá. Um mito
reconta que ela possui quatro seios, e salienta que esse é um grande tabu que
não deve ser mencionado em sua presença, pois representa uma ofensa para ela.
Acredita-se ter sido uma rainha muito poderosa, contudo sensível, que se
desencantou com a falta de respeito de seus serventes, cometendo suicídio no
rio de Erinle. Entre os Lukumis, a talha de uma mulher carregando uma jarra de
barro sobre sua cabeça, é utilizada para representar Otín.
Ibú Ayé (Ayé Ochún)
Ibú Ayé é uma Oshún muito jovem. Considerado um oricha
independente, acredita-se que seja a guardiã das riquezas de Oshún, para
distribuí-las somente quando assim for instruída por Oshún. É representada por
cinco búzios tigrados e é cultuada ao lado de Oshún.
No Odu Ogundá mejí, Ogún deu-lhe os cinco cauris tigrados ayé
como presente para Ibú Apará com o propósito de conquistar o coração de Oshún.
Ele prometeu que aqueles ayés trariam grande prosperidade a Oshún e a
satisfação de todos os seus caprichos e desejos. Oshún aceitou o presente,
morou com Ogún por algum tempo, porém, eventualmente o abandonou por Shangó.
Idowú (Ideú)
Idowú é a criança nascida imediatamente após os gêmeos.
Acredita-se ser o favorito de Oshún. Todas as crianças nascidas imediatamente
depois do nascimento de gêmeos são consagradas para Idowú e devem ser iniciadas
no culto a Oshún. Um patakí do Ejiogbé mejí descreve como ele salvou Oshún da
devastação absoluta. Junto com Ibú Ayé e Logún Edé, Idowú guarda as riquezas de
Oshún.
Este oricha, também está relacionado com desequilíbrios
emocionais. Quando os Olorichas atendem um indivíduo que possa ter problemas
sentimentais, podem lhe prescrever que faça alguma oferenda para Idowú. Seu
eleké é confeccionado curto, de maneira que, usado pelos devotos, alcance
aproximadamente a altura do coração. Idowú, em muitos aspectos pode ser chamado
de Cupido Lukumi. Não possui qualidades.
Ajeshaluga (Kowo, Cobo)
Ajeshaluga é mais conhecida como Kowo, a causa do tipo de concha
utilizada em seu culto, chamada em Cuba de cobo. É a deusa da riqueza, é
cultuada no mercado e é a padroeira de todas as transações comerciais. Em
alguns mitos é descrita como filha de Olokún e em outros, como uma de suas
esposas.
Esta é uma divindade importante, tal como enfatiza o
provérbio Lukumi: kó ajé, kó orisha â sem dinheiro não pode haver orixa. Não
possui qualidades.
Oshumaré
Oshumaré é o oricha do arco-íris. Está especialmente
associado com Shangó, e ajuda-o a manter a harmonia do meio ambiente,
retornando aos céus a chuva que Shangó, Oyá, e Yemojá mandam durante as
tormentas para saciar a sede da terra. Deste modo, Oshumaré representa a
continuidade da vida na Terra, o guardião da vida humana, como se evidencia na
representação do oricha, uma serpente enrolada comendo a própria cauda. Durante
a possessão, Oshumaré aponta seu cetro-serpente ao céu, como se provocasse
Shangó a enviar a chuva.
Um mito do odu Ejiogbé Oyekún relata que uma vez, quando
Olorún ficou doente, Oshumaré foi o único adivinho capaz de curar as moléstias
de Olorún. Desta maneira, Olorún reteve-o em sua companhia, permitindo-lhe
visitar a Terra quantas vezes quisesse, porém, somente sob a condição de algum
dia retornar ao seu lado. Quando o arco-íris visita a Terra, seremos abençoados
e nos apresarmos em interagir com ele, antes que Olorún o chame logo de volta à
casa.
Estes oricha foi perdido em Cuba na primeira metade do
Século XX. Seus instrumentos não foram mais consagrados, e não se possui
conhecimento sobre este oricha, mesmo nas áreas da ilha em que foi conhecido
nos anos 40 e 50. Inexplicavelmente, Oshumaré tal como o arco-íris tem
reaparecido em Cuba nos 90, através da magnífica instituição que rotulei de diplo-santeria,
e que pode ser consagrado a qualquer estrangeiro disposto a pagar em moeda
corrente!
Logún Edé (Laro)
Logún Edé é mais conhecido em Cuba como Laro. Divindade
andrógina, Logún Edé é o filho da qualidade de Oshún chamada Ibú Ipondá, e de
Erinle. Acredita-se que durante os primeiros seis meses do ano, Logún Edé seja
masculino e more nas florestas, caçando junto ao seu pai. Durante os seis meses
restantes, Logún Edé é feminino e mora no rio com Oshún, numa dieta de peixe da
água doce e camarões. Logún Edé significa aquele que caça camarões.
Logún Edé é o guardião das riquezas de Oshún e da abundância
de Erinle. Yemojá é sua protetora. Logún Edé é o protetor dos marinheiros e é
representado por um peixe marinho. Acredita-se que more onde o rio e o mar se
encontram. Os rituais de iniciação e o culto deste oricha foram perdidos em
Cuba. Não há iniciações neste culto.
Um patakí do Odu Odí Otura narra o mito das origens
misteriosas de Logún Edé, descrevendo-o erroneamente como homossexual. O mito
diz que ele foi iniciado no Ifá durante seu semestre masculino, vivendo como
mulher de Orúnmilá durante seus meses femininos. Por causa disto, os Babalawos
mantêm que homossexuais não devem ser iniciados no Ifá. Não possui qualidades.
Este é outro oricha cuja adoração foi perdida em Cuba e que tem reaparecido
recentemente nos mercados da diplo-santeria.
Ayáo (Oyaó)
Oyáo é a irmã mais nova de Oyá, a quem serve de mensageira e
assistente. Foi através de Ayáo que Oyá obteve domínio sobre afefé, o vento.
Ayáo possui o segredo dos ventos e redemoinhos que são sua manifestação
principal. É consagrada exclusivamente para os omós de Oyá e mora junto a esta.
Parece ser que o conhecimento deste oricha está limitado à cidade de
Jovellanos, na Província de Matanzas, onde está associada com Oyá e Olokún.
Nesta cidade, Ayaó é conhecida por ter possuído uma Oloricha chamada Benita
Cartalla. Em outros lugares, Ayaó é desconhecida. Recentemente, tornou-se um
dos orichas vendidos no mercado da diplo-santeria.