Tradição religiosa do povo Fon
Sakpata é a denominação Fon do Vodun da terra.
É o grande Ayi-vodun dos Ewe-Fon, por isso intitulado Ayinon
(o dono da terra).
Considerado filho mais velho de Mawu ele é enfim, o Rei do
Mundo, originariamente vodun senhor da varíola e, por extensão, de inúmeras
enfermidades contagiosas que deformam o corpo.
Todo o povo Fon o teme enormemente e cultua fervorosamente.
Sakpata possui uma grande variedade de atributos cada qual
representando um aspecto de doenças e infecções.
A tradição Fon aponta a origem do culto de Sakpatá na
localidade de Kpeyin Vedji, um enclave ioruba dentro do território Mahi a
noroeste de Abomé.
Por essa dupla procedência permanece a duvida de que Sakpatá
é considerado uma divindade ioruba (nagô) pelos Fon e Gun (Jêje) pelos iorubas.
Origem
Para os Fon, Sakpatá foi trazido para o Daomé, pelo rei
Agajá, no século XVIII, vindo da cidade de Dassa Zoumé, da aldeia de Pingine
Vedji.
O culto de Sakpatá era olhado com suspeita, por vezes banido
(e o foi, definitivamente, de Abomé).
Uma vodunsi de Sakpatá não pode ser dada como esposa para o
rei, e havia sempre a suspeita maior de que seus sacerdotes espalhavam
deliberadamente a doença para aumentar seu poder.
Outro aspecto importante é o fato de que Sakpatá desafiava
abertamente o poder real usando os mesmos títulos do rei, como Ayinon e Jeholú.
Atributos de Sakpatá
Kohossú significa "Rei da Lama" pai de todos os
Sakpatás;
Nyohwe Ananú, dona da água parada que mata de repente é a
mãe, e são ambos os filhos de Nà Buùku.
Da Zodji, envia a disenteria e os vômitos, considerado o
mais velho de todos.
Ele não tem braços ou pernas e é carregado numa padiola, mas
tem o poder da invisibilidade e, apesar do defeito físico, comanda todos os
Sakpatás.
Da Langan come a carne das pessoas ainda vivas.
Da Sinji traz as inchações e tromboses.
Aglossuntó é responsável pelas feridas e chagas que nunca
cicatrizam.
Adohwan castiga perfurando os intestinos.
Avimadjé é o que leva as almas dos que morreram punidos por
Sakpatá.
Bossu-Zohon é o grande feiticeiro.
Alogbê possui cinco braços e é ligado aos Tohossús (espíritos
de crianças com defeito).
Adan Tanyi é filho de Da Zodji, e traz a lepra.
Suvinengué um abutre com cabeça humana e é filho de Da
Langan.
Existem várias outras designações: Agbologbodji, Tonekpó,
Gbazu, Ahossú Ganhwa, Kpadadadaligbo (que é fêmea) etc., cujos nomes,
atribuições e lugar dentro da "família" variam de região para região.
Aspectos do Deus
Outra tradição conta que Sakpatá é uma divindade dupla,
tanto macho como fêmea.
O macho sendo Da Zodji e a fêmea sua irmã Nyohwe Ananu,
gêmeos nascidos do primeiro parto da entidade andrógina Mawu-Lissá.
Culto
Sakpatá é cultuado em seus templos sob um aspecto duplo.
Possui o aspecto Jeholú ("Rei das Jóias", que seriam as pústulas
trazidas pela varíola) que é tratado internamente e não recebe sacrifícios de
sangue diretamente, mas é lustrado com uma mistura de sangue e azeite de dendê
e envolto por panos.
O aspecto Zun-holú ("Rei da Floresta") fica do
lado de fora, recebe os sacrifícios de sangue diretamente sobre ele e é coberto
por rodilhas de ramos secos da palmeira de ráfia (Raffia vinifera) palha-da-costa,
e é um montículo que pode ser mais alto do que um homem.
Os sacerdotes e fiéis o tratam como um ente vivo, o
reverenciam, abraçam, etc. Zun-holú de tamanhos mais modestos podem ser vistos
diante dos hunkpame de outros voduns, sobretudo nos de Heviossô.
A iniciação de Sakpatá entre os Fon consiste em duas partes.
Na primeira e mais longa, os iniciados permanecem no hunkpame vários meses
submetendo-se a disciplina rígida de silêncios, jejuns, aprendizagem de
cânticos e danças rituais e nesta eles são chamados de Agamassi.
No final desta fase, as famílias juntam dinheiro para
realizar um grande ritual, no qual os neófitos morrem simbolicamente e ficam
escondidos por três dias dos olhos de todos, e depois são trazidos para fora
enrolados em mortalhas e são publicamente "ressuscitados" pelo
Aklunon (ministro do culto). A partir daí eles recebem seus nomes de iniciação
e passam a ser chamados de Anagonu, por causa da acreditada origem nagô do
vodun; ou "Azonsi", que em francês se escreve Azonsu.
As cores de contas e roupas usadas por seus vodunsis podem
variar de acordo com o gosto de cada um.
Sakpatá usa todas as cores e os estampados tem sempre cores
escuras.
No Brasil
Na Diáspora, o culto de Sakpatá foi usualmente misturado ao
de sua versão ioruba, Obaluaiyê.
No Candomblé Jeje, ele é conhecido como Azonsu
("O" Doença), grafado no Brasil como "Azunsu" ou Ajunsun e
Azonwanu (o que tem o cheiro da doença), grafado no Brasil como
"Azoani" ou Azauani, sendo este segundo nome também conhecido na
Santeria cubana como "Asojano".
Em Cuba
Na santeria cubana é conhecido como "Asojano".