Cultura do povo Fon no Brasil
O Maranhão foi importante núcleo atração de mão de obra
africana, sobretudo durante o último século do tráfico de escravos para o
Brasil (1750-1850), e que se concentrou na Capital, no Vale do Itapecuru e na
Baixada Maranhense, regiões onde havia grandes plantações de algodão e
cana-de-açúcar, que contribuíram para tornar São Luís e Alcântara cidades
famosas entre outros aspectos, pela grandiosidade dos sobradões coloniais,
construídos com mão de obra escrava e pela harmonia, beleza e coreografia das
musicas de origem africana.
Como as demais religiões de origem africana no Brasil
(Candomblé, Umbanda, Xangô, Xambá, Batuque, Toré, Jarê e outras), o tambor de
mina se caracteriza por ser religião iniciática e de transe ou possessão.
No tambor de mina mais tradicional a iniciação é demorada,
não havendo cerimônias públicas de saída, sendo realizada com grande discrição
no recinto dos terreiros e poucas pessoas recebem os graus mais elevados ou a
iniciação completa.
A discrição no transe e no comportamento em geral é uma
característica marcante do tambor de mina, considerado por muitos como uma
maçonaria de negros, pois apresenta características de sociedades secretas. Nos
recintos mais sagrados do culto (peji em nagô, ou côme em jeje), penetram
apenas os iniciados mais graduados.
O transe no tambor de mina é muito discreto e às vezes
percebível apenas por pequenos detalhes da vestimenta.
Em muitas casas, no início do transe, a entidade dá muitas
voltas ao redor de si mesmo, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio,
talvez para firmar o transe, numa dança de bonito efeito visual.
Normalmente a pessoa quando entra em transe recebe um
símbolo, como uma toalha branca amarrada na cintura ou um lenço, denominado
pana, enrolado na mão ou no braço.
No Tambor de Mina cerca de noventa por cento dos
participantes do culto são do sexo feminino e por isso, alguns falam num matriarcado
nesta religião.
Os homens desempenham principalmente a função de tocadores
de tambores, isto é, abatás, daí a definição abatazeiros, também se encarregam
de certas atividades do culto, como matança de animais de quatro patas e do
transporte de certas obrigações para o local em que devem ser depositados.
Algumas casas são dirigidas por homens e possuem maior
presença de homens, que podem ser encontrados inclusive na roda de dançantes.
Existem dois modelos principais de tambor de mina no
Maranhão: mina jeje e mina nagô.
O primeiro parece ser o mais antigo e se estabeleceu em
torno da Casa grande das Minas Jeje (Querebentan de Zomadônu), o terreiro mais
antigo, que deve ter sido fundado em São Luís na década de 1840.
O outro, que lhe é quase contemporâneo e que também se
continua até hoje é o da Casa de Nagô, localizada no mesmo bairro (São
Pantaleão) a uma quadra de distância.
Casas de Culto em São Luís
Casa das Minas ou Querebentã de Toy Zomadonu - fundada em
meados do século XIX, e segundo Pierre Verger, por Nã Agotimé, da família real
de Abomé, esposa do rei Agonglô, mãe do rei Guezô do Daomé, trazida como
escrava para o Brasil, e aqui conhecida pelo nome de Maria Jesuína.
A casa dedica-se ao culto jeje dos voduns, que estão
organizados por famílias, a saber:
Davice que é a principal, hospedando as demais: Dambirá
(Damballah), Quevioçô (Heviossô), Aladanu e Savalunu.
É considerada a mais antiga casa de tambor de mina no
Maranhão, localizada à rua de São Pantaleão, no centro histórico de São Luís.
Casa de Nagô (Nagon Abioton) - fundada por africanos de
tradição ioruba, mais precisamente, de Abeokuta, deu origem a outros terreiros
de São Luís, em que são cultuadas:
Entidades africanas jeje-nagôs ou (iorubas):
Doçu, Averequete, Ewá, Aziri, Acóssi, Sakpatá, Nanã Buruku,
Xapanã, Ogum, Xangô, Badé, Locô, Iemanjá (Abê), Lissá, Naeté, Sogbô, Avó Missã
dentre outros.
Gentis de origem europeia ou caboclas de origem nativa:
Dom Luís Rei de França, Dom João, Dom Floriano, Dom
Sebastião, Toy Zezinho de Amaramadã, Rei da Turquia, S. Ricardino, S. Caboclo
Velho, Princesa DâÔro, S. Guerreiro, D. Mariana, S. Légua Boji, S. João da Mata
e muitos outros.
Segundo relatos, foi fundada à época de D. Pedro II por
malungos africanos "de Nação", ajudados pela fundadora da Casa das
Minas.
Localizada na Rua Cândido Ribeiro no centro histórico de São
Luís, a Casa de Nagô é considerada irmã da Casa das Minas, que juntamente com
esta influenciou os demais terreiros de São Luís.
Outros dois terreiros antigos merecem ser lembrados:
O Terreiro do Egito (Ilê Axé Niamê) e o Terreiro da Turquia
(Ilê Nifé Olorum) (já extintos) que originaram vários outros terreiros, com
destaque para a Casa Fanti Ashanti, de Pai Euclides Ferreira sendo a única com
espaço dedicado ao candomblé;
Casa de Iemanjá (Ylê Ashé Yemowa), de Jorge Itaci (falecido
em 2003);
Terreiro Fé em Deus, de mãe Elzita.
Merece destaque o Ylê
Axé de Otá Olé (Terreiro de Mina Pedra de Encantaria, de Pai José Itaparandi.
Alguns terreiros dedicam-se ao Tambor de Mina, mas também a
algumas sessões de Umbanda, como por exemplo,
o Terreiro de Pai Oxalá e Mamãe Oxum de Pai Joãozinho da
Vila Nova.
No Maranhão, especificamente, em São Luís, há uma
diversidade de terreiros, até hoje não catalogados.
Além disso muitas casas funcionam precariamente
principalmente por dificuldades financeiras.
Acredita-se que existem mais de 200 terreiros espalhados na
capital definindo-se como Mina, Umbanda ou Mata (Encantaria de Barba Soeira).
Em Codó, a "Meca" do Terecô, os terreiros são
também numerosos, sendo mais conhecido a
"Tenda Espírita de Umbanda Rainha de Iemanjá", de
Bita do Barão.
Existem terreiros de mina chefiados por pais e mães de
santo, feitos no Maranhão, ou de origem maranhense, no Pará, em Amazonas, em
São Paulo, como por exemplo a Casa de Minas Thoya Jarina, de Toy Vodunnon
Francelino de Shapanan