Tradição religiosa do povo Fon
Os Tohossus constituem uma vintena de voduns estranhos e
inquietantes, que foram originalmente homens de estirpe real, mas nascidos com
alguma deficiência física ou mental.
O primeiro e o mais famoso entre eles foi Zomadonu, ao qual
são dedicados grandes templos em Abomé, no Benim.
Por séculos, em todo o mundo, crianças nascidas com características
especiais eram segregadas e frequentemente mortas e rotuladas como presságio de
má sorte, malefícios e dificuldades econômicas para suas famílias.
E uma perpétua fonte de vergonha e embaraço para seus pais.
E pior, muitos eram segregados ou mortos para escapar de
olhares humilhantes, rejeição social e uma vida de despesas e trabalho para
seus pais.
Não havia nenhuma recompensa para sacrificar uma vida
cuidando de crianças especiais.
Isto também acontecia na cultura daomeana, até que um Vodu
chamado Tohossou apareceu entre eles e mudou tudo.
Irritados, os espíritos dessas crianças desceram à corte,
tomando os corpos dos adultos fisicamente mal formados e começaram a promover
destruição, a devastação e a exalarem um cheiro forte e desagradável.
E, acima de tudo, provocando muita confusão e desespero,
chegando a destruir a corte e vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bokonons de Fa para
verificarem qual era o problema e o que poderia ser feito para acalmar esses
espíritos poderosos e irritados.
Nessa consulta Tohossou começou a falar.
Além de exigir que todos os reis erguessem um santuário ao
Vodun maior, Zomadonu, para que eles prestassem as devidas homenagens, exigiu
também que a repercussão da "fama" que os física e mentalmente
abalados carregavam fosse proibida.
Declarou ainda que, daquele momento em diante, eles seriam
os seus guardiões protetores.
Por último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas condições,
suas famílias deveriam erguer um pequeno santuário em suas casas e, os que
assim fizessem, seriam recompensados e abençoados com prosperidades especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má
formação física ou deficiências mentais têm uma cerimônia especial e, em suas
casas, um pequeno altar é consagrado aos Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional
às suas famílias, trazem bênçãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido à idade, ferimentos
ou doenças, também ficam sob a proteção dos Tohossous.
Origens históricas
Os Tohossou, congregam os ancestrais reais falecidos ha
longo tempo.
Surgiram durante o reinado do segundo rei do Daomé, o rei
Akaba, 1685-1708.
Eram conhecidos como “as crianças guardiãs dos três
rios" local habitado pelos ancestrais.
Todos aqueles que morriam tinham que passar por esse lugar
antes de entrarem para o reino sagrado dos mortos, sob as águas.
Esses Tohossous eram considerados muito poderosos, e
invocados em questões criticas como a guerra, quando tudo o que havia sido
tentado havia falhado, por garantirem vitória certa com o pesado golpe de suas
espadas.
Os espíritos ancestrais divinizados são conhecidos por Trouo
entre os fons, correspondentes aos Baba Egun dos iorubas.
Os Tohossus estão agrupados junto com os espíritos
ancestrais mais antigos, os Neusewe, que são frequentemente chamados de Loko
nos dias de hoje.
É Zomadonu, o filho mais velho do rei Huegbajá quem chefia
esse grupo de espíritos de crianças especiais.
Zomadonu
Zomadonu, cujo nome significa "Não se põe fogo na
boca" era um Tohossus, ou seja um bebê deformado filho de Rei Akabá
(1680-1704) do Daomé.
Conta a lenda que Zomadonu, junto de Kpelu, tohossu nascido
do Rei Agadjá (1708-1732) e Adomu, tohossu filho de Rei Tegbessu (1732-1775)
invadiram o Abomé liderando um exército de tohossus matando indiscriminadamente
os cidadãos que fugiram apavorados, ficando apenas um homem chamado Abadá
Homedovó, que sofria de elefantíase.
A vida do homem foi poupada, graças à amizade que ele tinha
com Azaká, um tohossu da cidade de Savalu.
Ele foi curado por Zomadonu, e ensinado por ele nos
mistérios para se propiciar a boa vontade dos tohossu reais. Após isso, o
exército dos temíveis pigmeus monstruosos abandona Abomé, entrando no rio.
E com Abadá Homedovó começa o culto dos tohossus reais de Abomé,
com Zomadonu sendo o principal deles.
Ele é considerado o guardião do bairro real de Abomé e seu
hunkpame (altar) principal fica no bairro de Legó.
O seu nome é conhecido tanto no vodu haitiano, quanto no
Candomblé de Nação Jeje, onde é o patrono da Casa das Minas, em São Luís
Maranhão, conhecida como o Querebentan de Zomadonu.
Voduns da Casa das Minas
Os voduns da Casa das Minas, de cujos nomes conhecem-se
aproximadamente sessenta, agrupam-se em três famílias principais:
1-A família real de Davice, a que pertence o vodun dono da
casa, Zomadônu e outros, que como ele são relacionados com a família real do
Daomé, como: Dadarrô, Doçú, Bedigá, Sepazin, Agongônu, Toçá, Tocé, Jogorobossú.
2-A família de Quevioçô (dos voduns chamados nagôs), como
Badé, Sobô, Lôco, Liçá, Averequête, Abê e outros.
3- A família de Dambirá (que cura a peste e outras doenças),
chefiada por Acossi Sakpatá e que incluí entre outros Azíli, Azônce, Polibojí,
Lepon, Alôgue, Ewá, Bôça e Boçucó.
Ha duas outras famílias que são "hóspedes",
ocupando um espaço dentro das outras casas:
1- família de Aladanu, hóspedes de Quevioçô, como Ajaúto e
Avrejó
2- família de Savaluno, hóspede de Zomadônu, como Agongonu e
Jotim.
Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem
cânticos, comportamentos e atividades próprias.
Aziri
Aziri, Azili ou Azile (de Azili, nome de um lago do Benin e
do vodum a ele associado) é um vodum das águas. Os fons costumavam afogar nesse
rio os bebês que nasciam com alguma deformação física, os tohosu
("príncipes das águas"). Posteriormente, seu espírito era ritualmente
retirado das águas e um altar era instalado no templo da família para seu
culto. Portanto, o lago Azili era considerado a residência ou fonte do poder
dos tohosus e seu vodun, Azili ou Azili Tobo (de tògbo, "grande fonte
d'água"), era considerado o pai de todos os tohosus. As devotas de Tobo
eram chamadas tobosis. O nome também se estende a um estado de pré-possessão
anterior ao da incorporação do voduns.
No Maranhão, Azile é considerado um vodun velho, irmão de
Acôssi Sapatá e que pertence, junto com este e Azonce, à família Dambirá (nome
talvez derivado de Damballah), que combate as pestes e não tem relação especial
com as tobóssis. Representado como velho e doente, Azili é sincretizado com São
Roque. É também considerado um amigo de Zomadônu, vodun relacionado à família
real dos jejes que no Benim (mas não no Maranhão) é visto como fisicamente
defeituoso.
Na Bahia, Aziri tornou-se a grande mãe do culto jeje e a
personificação do protótipo feminino. Na concepção do terreiro jeje Seja-Hundé,
o mais antigo de Cachoeira (BA), Aziri ou Aziri Tobóssi é uma "entidade do
fundo", associada às águas doces, e portanto a Oxum, enquanto Aziri Kaia ou
Tobóssi Kaia é associada a Iemanjá. Na concepção do terreiro Humpame Ayono
Huntoloji, na mesma cidade, Aziri Tobóssi está associada tanto às águas doces
quanto às salgadas, sendo nesse caso comparada a Olocum. Em todo caso, veste
branco e usa contas de cristal e prata, como Iemanjá.
No Haiti, Erzulie, Erzili ou Ezili é um nome dado a duas ou
três loás femininas bem diferentes entre si: Ezili Freda, Ezili Dantô e, às
vezes, também Ezili La Siren.