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terça-feira, 10 de abril de 2012

Tohossu – Espíritos guardiães


Tradição religiosa do povo Fon

Os Tohossus constituem uma vintena de voduns estranhos e inquietantes, que foram originalmente homens de estirpe real, mas nascidos com alguma deficiência física ou mental.
O primeiro e o mais famoso entre eles foi Zomadonu, ao qual são dedicados grandes templos em Abomé, no Benim.
Por séculos, em todo o mundo, crianças nascidas com características especiais eram segregadas e frequentemente mortas e rotuladas como presságio de má sorte, malefícios e dificuldades econômicas para suas famílias.
E uma perpétua fonte de vergonha e embaraço para seus pais.
E pior, muitos eram segregados ou mortos para escapar de olhares humilhantes, rejeição social e uma vida de despesas e trabalho para seus pais.
Não havia nenhuma recompensa para sacrificar uma vida cuidando de crianças especiais.
Isto também acontecia na cultura daomeana, até que um Vodu chamado Tohossou apareceu entre eles e mudou tudo.
Irritados, os espíritos dessas crianças desceram à corte, tomando os corpos dos adultos fisicamente mal formados e começaram a promover destruição, a devastação e a exalarem um cheiro forte e desagradável.
E, acima de tudo, provocando muita confusão e desespero, chegando a destruir a corte e vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bokonons de Fa para verificarem qual era o problema e o que poderia ser feito para acalmar esses espíritos poderosos e irritados.
Nessa consulta Tohossou começou a falar.
Além de exigir que todos os reis erguessem um santuário ao Vodun maior, Zomadonu, para que eles prestassem as devidas homenagens, exigiu também que a repercussão da "fama" que os física e mentalmente abalados carregavam fosse proibida.
Declarou ainda que, daquele momento em diante, eles seriam os seus guardiões protetores.
Por último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas condições, suas famílias deveriam erguer um pequeno santuário em suas casas e, os que assim fizessem, seriam recompensados e abençoados com prosperidades especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação física ou deficiências mentais têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar é consagrado aos Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às suas famílias, trazem bênçãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido à idade, ferimentos ou doenças, também ficam sob a proteção dos Tohossous.

Origens históricas

Os Tohossou, congregam os ancestrais reais falecidos ha longo tempo.
Surgiram durante o reinado do segundo rei do Daomé, o rei Akaba, 1685-1708.
Eram conhecidos como “as crianças guardiãs dos três rios" local habitado pelos ancestrais.
Todos aqueles que morriam tinham que passar por esse lugar antes de entrarem para o reino sagrado dos mortos, sob as águas.
Esses Tohossous eram considerados muito poderosos, e invocados em questões criticas como a guerra, quando tudo o que havia sido tentado havia falhado, por garantirem vitória certa com o pesado golpe de suas espadas.
Os espíritos ancestrais divinizados são conhecidos por Trouo entre os fons, correspondentes aos Baba Egun dos iorubas.
Os Tohossus estão agrupados junto com os espíritos ancestrais mais antigos, os Neusewe, que são frequentemente chamados de Loko nos dias de hoje.
É Zomadonu, o filho mais velho do rei Huegbajá quem chefia esse grupo de espíritos de crianças especiais.

Zomadonu

Zomadonu, cujo nome significa "Não se põe fogo na boca" era um Tohossus, ou seja um bebê deformado filho de Rei Akabá (1680-1704) do Daomé.
Conta a lenda que Zomadonu, junto de Kpelu, tohossu nascido do Rei Agadjá (1708-1732) e Adomu, tohossu filho de Rei Tegbessu (1732-1775) invadiram o Abomé liderando um exército de tohossus matando indiscriminadamente os cidadãos que fugiram apavorados, ficando apenas um homem chamado Abadá Homedovó, que sofria de elefantíase.
A vida do homem foi poupada, graças à amizade que ele tinha com Azaká, um tohossu da cidade de Savalu.
Ele foi curado por Zomadonu, e ensinado por ele nos mistérios para se propiciar a boa vontade dos tohossu reais. Após isso, o exército dos temíveis pigmeus monstruosos abandona Abomé, entrando no rio.
E com Abadá Homedovó começa o culto dos tohossus reais de Abomé, com Zomadonu sendo o principal deles.
Ele é considerado o guardião do bairro real de Abomé e seu hunkpame (altar) principal fica no bairro de Legó.
O seu nome é conhecido tanto no vodu haitiano, quanto no Candomblé de Nação Jeje, onde é o patrono da Casa das Minas, em São Luís Maranhão, conhecida como o Querebentan de Zomadonu.

Voduns da Casa das Minas

Os voduns da Casa das Minas, de cujos nomes conhecem-se aproximadamente sessenta, agrupam-se em três famílias principais:
1-A família real de Davice, a que pertence o vodun dono da casa, Zomadônu e outros, que como ele são relacionados com a família real do Daomé, como: Dadarrô, Doçú, Bedigá, Sepazin, Agongônu, Toçá, Tocé, Jogorobossú.
2-A família de Quevioçô (dos voduns chamados nagôs), como Badé, Sobô, Lôco, Liçá, Averequête, Abê e outros.
3- A família de Dambirá (que cura a peste e outras doenças), chefiada por Acossi Sakpatá e que incluí entre outros Azíli, Azônce, Polibojí, Lepon, Alôgue, Ewá, Bôça e Boçucó.
Ha duas outras famílias que são "hóspedes", ocupando um espaço dentro das outras casas:
1- família de Aladanu, hóspedes de Quevioçô, como Ajaúto e Avrejó
2- família de Savaluno, hóspede de Zomadônu, como Agongonu e Jotim.
Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem cânticos, comportamentos e atividades próprias.

Aziri

Aziri, Azili ou Azile (de Azili, nome de um lago do Benin e do vodum a ele associado) é um vodum das águas. Os fons costumavam afogar nesse rio os bebês que nasciam com alguma deformação física, os tohosu ("príncipes das águas"). Posteriormente, seu espírito era ritualmente retirado das águas e um altar era instalado no templo da família para seu culto. Portanto, o lago Azili era considerado a residência ou fonte do poder dos tohosus e seu vodun, Azili ou Azili Tobo (de tògbo, "grande fonte d'água"), era considerado o pai de todos os tohosus. As devotas de Tobo eram chamadas tobosis. O nome também se estende a um estado de pré-possessão anterior ao da incorporação do voduns.
No Maranhão, Azile é considerado um vodun velho, irmão de Acôssi Sapatá e que pertence, junto com este e Azonce, à família Dambirá (nome talvez derivado de Damballah), que combate as pestes e não tem relação especial com as tobóssis. Representado como velho e doente, Azili é sincretizado com São Roque. É também considerado um amigo de Zomadônu, vodun relacionado à família real dos jejes que no Benim (mas não no Maranhão) é visto como fisicamente defeituoso.
Na Bahia, Aziri tornou-se a grande mãe do culto jeje e a personificação do protótipo feminino. Na concepção do terreiro jeje Seja-Hundé, o mais antigo de Cachoeira (BA), Aziri ou Aziri Tobóssi é uma "entidade do fundo", associada às águas doces, e portanto a Oxum, enquanto Aziri Kaia ou Tobóssi Kaia é associada a Iemanjá. Na concepção do terreiro Humpame Ayono Huntoloji, na mesma cidade, Aziri Tobóssi está associada tanto às águas doces quanto às salgadas, sendo nesse caso comparada a Olocum. Em todo caso, veste branco e usa contas de cristal e prata, como Iemanjá.
No Haiti, Erzulie, Erzili ou Ezili é um nome dado a duas ou três loás femininas bem diferentes entre si: Ezili Freda, Ezili Dantô e, às vezes, também Ezili La Siren.