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domingo, 6 de maio de 2012

Agemo: Elefante e Camaleão

Ritual Ioruba - interpretes, espetáculo, desempenho

Dentro do processo performático, os indivíduos aproveitam para intervir, acrescentar, e virar o jogo para sua satisfazer as suas conveniências. Suas manobras são expressões de seu próprio poder, efetivamente o poder de Agemo, o camaleão que lhe empresta o nome. O camaleão é um motivo frequentemente usado nos adornos de cabeça (coroas) que também levam o mesmo nome. Tal como os sacerdotes Agemo, o camaleão transforma, combina poderes, abre sua boca até ficar maior que a cabeça e canta alto com um sibilo, anulando seus oponentes deixando-os sem ação. O poder do camaleão pode deparar-se aparentemente com qualquer poder na terra, com exceção do sangue menstrual.
O sibilo imponente emitido de maneira tão marcante pelo camaleão assemelha-se a uma maldição, um praguejar. De acordo com Idebi, um sacerdote de Agemo, a boca do camaleão deve ficar fechada, porque o seu cuspe pode cegar uma pessoa. A relação entre a cegueira e o praguejar também foi comentada pela esposa predileta de Serefusi, explicando que as mulheres que olharem para uma comitiva Agemo passando na rua, podem ficar cegas. Quando os sacerdotes Agemo querem praguejar (s´epe), eles cospem primeiramente nos seus amuletos e proferem as palavras fatais que podem trazer morte para a vítima.
Agemo também é o nome que se dá ao mês lunar que ocorre no final de junho/inicio de julho, por ocasião do festival Agemo. Durante esse mês, nota-se uma abundancia de camaleões, e diz-se que suas caudas - normalmente enroladas numa espiral - ficam eretas. É tabu matar camaleões nessa época. E de qualquer maneira os feitiços preparados com eles tornam-se ineficazes, de acordo com os sacerdotes. Em compensação é durante o mês de Agemo que seus sacerdotes tornam-se mais poderosos. É o momento em que eles ofererecem sacrifícios para seus santuários e ancestrais, e também quando são consultados para solucionar problemas. Da mesma forma com que os camaleões retiram as cores do entorno, os sacerdotes retiram os poderes do camaleão, deixando-os impotentes durante o mês lunar.
A destreza de Agemo em transformar-se está mencionada nas fabulas populares sobre essa sociedade de mascaras, que relembram nos contos, como foi que um personagem chamado Camaleão venceu seus inimigos adquirindo seus poderes. A ação da cor que protege os camaleões por mimetizar o entorno está representada na variedade de tons da palha seca usada para fazer os seus trajes e mascaras.
Se o camaleão representa uma metáfora para falar dos poderes de transformação dos sacerdotes, o elefante faz alusão à magnificência de sua presença. Os sacerdotes comparam as pernas mascaradas de seus interpretes com aquelas dos elefantes; a fibra dependurada por debaixo da saia até chegar aos pés, evocam de fato as pernas roliças e grossas dos elefantes. Eles também chamam a atenção para os passos lentos que seus interpretes usam em suas apresentações, que lembram os movimentos lentos, calculados e pesados - qualidades essas que estão associadas à maneira de andar dos elefantes. - dignos, ponderados e pesados. A substancia do elefante também está manifestada nos braceletes grossos e pesados de marfim que são característicos desses sacerdotes. Quaisquer outras metáforas fazendo alusão a essas qualidades de poder dos elefantes e camaleões são sempre evocadas no espetáculo

Veja o video

Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro da liberdade do ritual ioruba, do poder de improvisação de seus intérpretes, e do desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento. Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes, base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de estética da diáspora.
A estrutura política dos iorubas foi historicamente baseada em governos representativos abertos, nos quais faziam parte conflitos e competições entre reis, descendentes. mas também entre chefes facções em disputas com os sacros monarcas. As funções politicas dos rituais iorubas excluem frequentemente certas categorias de pessoas, e incluem jogos de poder entre seus participantes ou entre eles e outros grupos.

African Diaspora Program
De Paul University

Margaret Thompson Drewal

Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.