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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cargos religiosos

As Religiões no Rio - João do Rio
No mundo dos feitiços - Os feiticeiros

- Mas quais são os cargos religiosos?
- Há os babalaôs, os açoba, os aboré, grau máximo, as mães-pequenas, os ogan, as agibonam...
A lista é como a dos santos, muito comprida, e cada um desses personagens representa papel distinto nos sacrifícios, nos candomblés e nas feitiçarias. Antônio mostra-me os mais notáveis, os pais-de-santo: Oluou, Eruosaim, Alamijo, Adé-Oié, os babalaôs Emídio, Oloô-teté, que significa treme-treme, e um bando de feiticeiros: Torquato requipá ou fogo pára-chuva, Obitaiô, Vagô, Apotijá, Veridiana, Crioula Capitão, Rosenda, Nosuanan, a célebre Chica de Vavá, que um político economista protege...
- A Chica tem proteção política?
- Ora se tem! Mas que pensa o senhor? Há homens importantes que devem quantias avultadas aos alufás e babalaôs que são grau 32 da Maçonaria.
Dessa gente, poucos leem. Outrora ainda havia sábios que destrinçavam o livro sagrado e sabiam porque Exu é mau - tudo direitinho e claro como água. Hoje a aprendizagem é feita de ouvido. O africano egoísta pai-de-santo, ensina ao aboré, as iauô quando lhes entrega a navalha, de modo que não só a arte perde muitas das suas fases curiosas como as histórias são adulteradas e esquecidas.
- Também agora não é preciso saber o Saó Hauin. Negro só olhando e sabendo o nome da
pessoa pode fazer mal, diz Antônio.
Os orixás são em geral polígamos. Nessas casas das ruas centrais de uma grande cidade, há homens que vivem rodeados de mulheres, e cada noite, como nos sertões da África, o leito do babaloxás é ocupado por uma das esposas. Não há ciúmes, a mais velha anuncia quem a deve substituir, e todas trabalham para a tranquilidade do pai. Oloô-Teté, um velho que tem noventa anos no mínimo, ainda conserva a companheira nas delícias do himeneu, e os mais sacudidos transformam as filhas-de-santo em huris de serralhos.

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