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segunda-feira, 7 de maio de 2012

A força e a extensão dos impérios

África Negra Pré Colonial

Delafosse, ao citar Ibn Khaldun, relata que, até o inicio do século oitavo, após a conquista da África do norte pelos Umayyads ou Omíadas, os comerciantes árabes já haviam cruzado o Saara até o Sudão.

O Império de Gana

Desse momento em diante foram estabelecidas novas conexões, que nunca haviam sido interrompidas, com o mundo exterior, particularmente entre oriente árabe e o mundo mediterrâneo. Esses primeiros comerciantes descobriram que o Sudão era governado por um imperador negro cuja capital era Gana. O império no seu auge estendia-se de Djaka ao oeste do rio Níger até o oceano Atlântico, e de norte a sul, desde o Saara até o limite do Mali. A região rica em ouro do Senegal setentrional, centralizado em volta de Gadiaru, Garentel e Iresin, pertencia ao império. Nos tempos de Bakri o vilarejo de Aluken esboçava-se na fronteira leste do território governado pelo filho do imperador Bessi, tio do soberano Tunka Min.
As populações brancas que habitavam esse império estavam sob a rígida autoridade dos negros. Em 990, Aoudaghast (Audagoste), o centro berbere dos Lemtunas, era governado por um farba negro (governador de província) que coletava impostos, taxas alfandegárias, sobre bens e mercadorias da população da cidade. Tudo isso em nome do imperador que governava principalmente sobre berberes e árabes, grupos que nesse momento, se odiavam uns aos outros.
Logo após a ocupação da África do norte, os primeiros Umayyads enviaram um exercito na tentativa de conquistar o império de Gana. Eles foram derrotados, mas os seus sobreviventes não foram executados: receberam a permissão de estabelecer-se nas terras e viver nas mesmas que os demais. Conhecidos como El Honneihîn, parte deles fundaram o vilarejo e Silla, no rio Senegal, onde o governante já estava islamizado.
Em 1607, durante o tempo de Al-Bakri, uma minoria de El Honneihîn já tinha sido praticamente assimilada na sociedade negra de cuja religião também fizeram parte. Aqueles que haviam se estabelecido ao longo do rio chamavam-se El Faman. Foi através dos casamentos inter-raciais que a minoria branca misturou-se aos negros.
Os Honneihîn governaram Aoudaghast até o declínio de Gana com a invasão dos Almorávidas em 1076. Enquanto os berberes permaneceram vassalos do imperador negro de Gana por séculos, e a vingança dos Almorávidas durou apenas dez anos, terminando com a morte de Abubeker-Ben-Omar, assassinado por uma flecha de um guerreiro negro, dentro da fronteira da atual Mauritânia. Os Almorávidas demonstraram uma crueldade extrema durante a sua ocupação: confiscaram mercadorias, e assassinaram os habitantes. Após essa ocupação de dez anos, Gana foi atacada mais uma vez pelos vassalos de Sosso, mas conseguiram resistir até o cerco da cidade por Sundiata Keita em 1240.
O império de Gana, conforme Al-Bakri, foi defendido por duzentos mil guerreiros, dos quais quarenta mil eram arqueiros. Seu poder e reputação era conhecido em localidades distantes como Bagdá ao leste, e não era apenas lendário: foi de fato, um fenômeno comprovado pela sucessão de 1250 anos de sucessão de imperadores negros ocupando o trono de um pais tão vasto como a Europa, sem inimigos fora e dentro do pais.
A capital já era nessa ocasião uma cidade cosmopolita e internacional. Possuía seu bairro árabe onde o islamismo convivia com a religião tradicional, antes da conversão da dinastia real e de seu povo à fé muçulmana: no tempo de Bakri a cidade já ostentava uma dúzia e mesquitas situadas no bairro árabe, com seus imams, muezzins, e leitores assalariados. Possuía um grande numero de juristas e de estudiosos. Serviam-se diariamente dez mil refeições, cozidas sobre milhares de feixes de lenha. O próprio imperador participava desses festins que oferecia aos moradores fora do seu palácio.
O império abriu-se primeiramente ao grande mundo através do comercio; já gozava de reputação internacional que seria herdada e estendida aos futuros impérios de Mali e Songhai. Mas a escravidão domestica era predominante na sociedade africana: podiam-se vender escravos tanto a algum outro cidadão quanto a um estrangeiro. Isso explica o motivo pelo qual os mercadores árabes e berberes tornaram-se ricos ao estabelecer-se em Aoudaghast, mesmo com a permissão do soberano negro de vender escravos a seus vassalos no mercado aberto. Alguns indivíduos na cidade possuíam mais de uma centena de escravos.
Com isso percebemos o modo pacífico com o qual o mundo dos brancos podia possuir escravos negros. E não era através de conquistas como se costuma afirmar. Esses impérios, defendidos por centenas de guerreiros, quando necessário, dispondo de uma organização política e administrativa centralizada, eram muito poderosos para que um viajante avulso que estivesse há muitas milhas de distancia de sua terra tentasse qualquer tipo de violência contra eles. A realidade dos fatos era muito mais simples, como foi dito. A escravidão seria extinta no mundo dos brancos, principalmente na Europa, mas continuaria no mundo dos negros, como veremos a seguir. Podemos enxergar os fatos complexos que tem sido tentadores para serem usados de modo a obscurecer certas questões da história. Toda a minoria branca que vivia na África deve ter possuído escravos negros assim como os brancos eram todos súditos do imperador negro: eles estavam todos os sujeitos ao mesmo poder político africano. Nenhum historiador que se valha pode permitir-se de obscurecer esse contexto político-social, de modo a fazer emergir apenas o fato da escravidão negra.


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