Seguidores

sexta-feira, 18 de maio de 2012

No mundo dos feitiços

As Religiões no Rio - João do Rio

Os africanos porém continuavam a guardar o mistério da preparação.
- Vamos lá, dizia eu, camarário, como é que faz para matar uni cidadão qualquer?
Eles riam, voltavam o rosto com uns gestos quase femininos.
- Sei lá!
Outros porém tagarelavam:
- V. S. não acredita? É que ainda não viu nada. Aqui está quem fez um deputado! O...
Os nomes conhecidos surgiam, tumultuavam, empregos na polícia, na Câmara, relações no Senado, interferências em desaguisados de famílias notáveis.
- Mas como se faz isso?
- Então o senhor pensa que a gente diz assim o seu meio de vida?
E imediatamente aquele com quem eu falava, descompunha o vizinho mais próximo - porque, membros de uma maçonaria de defesa geral, de que é chefe o Ojó da rua dos Andradas, os pretos odeiam-se intimamente, formam partidos de feiticeiros africanos contra feiticeiros brasileiros, e empregam todos os meios imagináveis para afundar os mais conhecidos.
Acabei julgando os babaloxás sábios na ciência da feitiçaria como o Papa João XXII e não via negra mina na rua sem recordar logo o bizarro saber das feiticeiras de d'Annunzio e do Sr. Sardou. A lisonja, porém, e o dinheiro, a moeda real de todas as maquinações dessa ópera pregada aos incautos, fizeram-me sabedor dos mais complicados feitiços.

João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,

Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura

Sobre o autor