Seguidores

sábado, 5 de maio de 2012

O custo da produção e do improviso

Ritual Ioruba - interpretes, espetáculo, desempenho


Sendo o ritual, em grande parte, um sacrifício conjunto, a quantidade de dinheiro que os participantes disponibilizam nessas ocasiões deverá representar as suas condições econômicas naquele momento. No modo de ver dos economistas, as pessoas investem seus rendimentos em cerimônias como funerais e assentamentos, para reforçar as suas relações de status e patronagem, como estratégia para competir por riqueza e influência.
A prosperidade econômica da Nigéria nos anos 1970, durante o "boom" da produção de óleo, não tornou melhores os trajes nem as cerimonias Egungun, porém permitiu-lhes a proliferação e o florescimento. Da mesma maneira, baba parikoko (com seus trajes suntuosos) adquiriu proporções monumentais durante o pico da produção de cacau em Ilaro, no inicio dos anos 50. A monumentalidade das formas era por si só uma revisão do ritual; uma improvisação que se beneficiou das condições econômicas daquele momento quando foram criadas.
Quando os iorubas dizem que estão celebrando o ritual "tal como" seus ancestrais haviam feito no passado, fica implícita a improvisação nas suas restaurações e recriações. As inovações no ritual, portanto, não rompem com a tradição, e sim pelo contrário, constituem a continuidade do espírito de improviso. Nas práticas, a improvisação enquanto um modo de operação desestabiliza o ritual - tornando-o mais aberto, fluido e maleável. A progressão do seu roteiro, bem como dos significados que ela gera, é indeterminada, "trajetórias que obedecem a sua própria lógica". Estas trajetórias possuem uma relação dialética com o modelo conceitual do ritual particular de cada indivíduo, numa espécie de processo continuo de avaliação, e bastante discussão sobre os centros de ritual em relação ás discrepâncias entre esses modelos e o que "aconteceu de fato".
Levando-se em conta aquilo que os interpretes iorubas "operam" no ritual reflete seu julgamento daquele momento, seria ingênuo pensar suas apresentações como encenações e reencenações preconcebidas de algum passado autoritário - ou mesmo como a representação das regras e convenções da sociedade. O ritual ioruba, tal como Drewal tenta mostrar, não é uma estrutura rígida que o participante adere inconscientemente a algum desejo fortemente assentado de repetições coletivas que sustentam uma ordem social dominante. Se isso fosse correto talvez a própria cultura devesse ser definida como hegemônica. E a percepção em geral da incapacidade do homem branco de engajar-se na ação, ou ainda de reconhecê-la, pode ser tomada como uma evidência empírica. Isso sugere que deveria dar-se mais atenção à improvisação como práxis (costume), e ao seu potencial para testar a sua adequação, desafiando as convenções, e ainda de manipular e transformar as estruturas rituais.


Yoruba Ritual

Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro da liberdade do ritual ioruba, o poder de improvisação de seus intérpretes, e o desejo de seus participantes de alternar as possibilidades de entretenimento. Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes, base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de â estética da diáspora.

Ivor L. Miller
African Diaspora Program
De Paul University
http://afrocubaweb.com/ivormiller/IvorIntro.pdf

Margaret Thompson Drewal

Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.