No mundo dos feitiços - As Iauô
Quase sempre, porém, as vitimas sujeitam-se, e não é raro,
mesmo quando são pobres os pais, a aceitarem o trabalho com a condição de as
vender em leilão ou serem servidos por elas durante longo tempo.
Como as despesas são grandes, as futuras iauô levam meses
fazendo economias, poupando, sacrificando-se.
E de obrigação levar comidas, presentes, dinheiro ao
pai-de-santo para a sua estada no ylê ache-ó-ylê-orixá, estada que regula de 12
a 30 dias.
- Isto acontece só para as iauô dos orixás, - diz Antônio.
- Há outras?
- Há as dos negros cabindas.
Também essa gente é ordinária, copia os processos dos outros
e está de tal forma ignorante que até as cantigas das suas festas têm pedaços
em português.
- Mas entre os cabindas tudo é diferente?
- Mais ou menos. Olhe por exemplo os santos.
Orixalá é Ganga-Zumba, Obaluaci, Cangira-Mungongo, Exu,
Cubango, Orixá-oco, Pombagira, Oxum, a mãe d'água, Sinhá Renga, Sapanam,
Cargamela.
E não é só aos santos dos orixás que os cabindas mudam o
nome, é também aos santos das igrejas. Assim S.Benedito é chamado Lingongo, S.
Antônio, Verequete, N. Senhora das Dores, Sinhá Samba.
Para os cabindas serve para santo qualquer pedra, os
paralelepípedos, as lascas das pedreiras e esses pretos sem-vergonha adoram a
flor do girassol que simboliza a lua...
Eu estava atônito. Positivamente Antônio achava muito
inferiores os cabindas.
- As iauô?
- As filhas-de-santo macumbas ou cabindas chegam a ter uma
porção de santos de cada vez, manifestando-se na sua cabeça. Sabe V.S. o que
cantam eles quando a yauô está com a crise?
Maria Mucangué
Lava roupa de sinhá,
Lava camisa de chita,
Não é dela, é de yayá.
- Quer ouvir outra?
Bumba, bumba, ó calunga,
Tanto quebra cadeira como quebra sofá
Bumba, bumba, ó calunga.
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
Sobre o autor
Sobre as fotos