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terça-feira, 15 de maio de 2012

Obrigação

As Religiões no Rio - João do Rio
No mundo dos feitiços - As Iauô

Quase sempre, porém, as vitimas sujeitam-se, e não é raro, mesmo quando são pobres os pais, a aceitarem o trabalho com a condição de as vender em leilão ou serem servidos por elas durante longo tempo.
Como as despesas são grandes, as futuras iauô levam meses fazendo economias, poupando, sacrificando-se.
E de obrigação levar comidas, presentes, dinheiro ao pai-de-santo para a sua estada no ylê ache-ó-ylê-orixá, estada que regula de 12 a 30 dias.
- Isto acontece só para as iauô dos orixás, - diz Antônio.
- Há outras?
- Há as dos negros cabindas.
Também essa gente é ordinária, copia os processos dos outros e está de tal forma ignorante que até as cantigas das suas festas têm pedaços em português.
- Mas entre os cabindas tudo é diferente?
- Mais ou menos. Olhe por exemplo os santos.
Orixalá é Ganga-Zumba, Obaluaci, Cangira-Mungongo, Exu, Cubango, Orixá-oco, Pombagira, Oxum, a mãe d'água, Sinhá Renga, Sapanam, Cargamela.
E não é só aos santos dos orixás que os cabindas mudam o nome, é também aos santos das igrejas. Assim S.Benedito é chamado Lingongo, S. Antônio, Verequete, N. Senhora das Dores, Sinhá Samba.
Para os cabindas serve para santo qualquer pedra, os paralelepípedos, as lascas das pedreiras e esses pretos sem-vergonha adoram a flor do girassol que simboliza a lua...
Eu estava atônito. Positivamente Antônio achava muito inferiores os cabindas.
- As iauô?
- As filhas-de-santo macumbas ou cabindas chegam a ter uma porção de santos de cada vez, manifestando-se na sua cabeça. Sabe V.S. o que cantam eles quando a yauô está com a crise?

Maria Mucangué
Lava roupa de sinhá,
Lava camisa de chita,
Não é dela, é de yayá.

- Quer ouvir outra?

Bumba, bumba, ó calunga,
Tanto quebra cadeira como quebra sofá
Bumba, bumba, ó calunga.

João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
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