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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Os Maronitas

As Religiões no Rio - João do Rio

O povo maronita, dizia o papa Benedito, é como uma flor entre os espinhos.
Se o pontífice notável tinha esta doce frase para pintar os homens do monte Líbano, os que lhe sucederam guardaram tão perfumada imagem, e hoje, quando se fala dos maronitas, logo se recorda a flor e os espinhos antigos.
Tudo, porém, neste mundo tem o vinco fatal do destino.
A frase dos papas tornou-se profética e através da vida imensa, os de Marun continuam a perfumar a crença impoluta entre os espinhos das hostilidades.
Os maronitas, gente extremamente religiosa, habitam a Síria e descendem dos Aramilas, filhos de Aram, de Sem, de Noé.
Ascendência tão digna de respeito só os preparou para um longo e pungente sofrer.
Desde os tempos dos Apóstolos, dizem os Atos no versículo 22 do capítulo XV, eram cristãos, conservando a fé ortodoxa havida do príncipe dos Apóstolos no ano 38 da era de Jesus Cristo.
Quando no quarto século começaram a aparecer no Oriente as heresias e as doutrinas falsas, protegidas pelos soberanos coroados de pedrarias, impostas pelas armas, e a fé e a soberania ao mesmo tempo vacilavam, S. Marun, chefe dos eremitas da Síria, saiu de sua toca de cilícios e orações e veio salvá-los.
- Quem é esse homem de grandes barbas, meio roto? indagavam os homens, vendo a figura ressurgida do santo sem pecado.
S. Marun não respondia; seguia pelas estradas cheias de sol, na atmosfera de milagre do azul sem mancha, e pregava a doutrina pura, exortava o povo a conservar a sua verdadeira fé.
- Acredita sempre em Deus, tal qual te ensinaram os Apóstolos, e conservarás a tua liberdade!
A gente, que dos seus lábios ouvia as palavras ungidas pela meditação contínua, seguia num novo esplendor de crença, em cada coração a esperança brotava, e em pouco tempo o povo da província do monte Líbano era chamado maronita.
Os heresiarcas quiseram caluniá-lo, mas Marun era puro como o cristal.
S. João Crisóstomo, o boca-d'oiro, na carta que lhe escrevia, rogava que por ele orasse, e a ironia como a calúnia fenderam-se de encontro ao seu broquel de bondade.
Quando a sua alma irradiou, deixando o invólucro terreno, o povo maronita tinha inabalável a crença para suportar todas as sangrentas perseguições, e tem sido desde então o mesmo ordeiro e persistente auxiliar da obra divina.

João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
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