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sábado, 11 de dezembro de 2010

Axé - O significado da palavra



Para o yorùbá, o verbo mais importante é realizar.
Um homem vem ao AIYE, o Planeta Terra, para realizar, para fazer algo, para deixar sua marca e sua lembrança.
É assim que ele será recordado por sua descendência, através de suas realizações.
Nada é feito sem o apoio dos Òrìsà, porque é através da força que flui deles para nós que esta realização ocorre.
ASE significa isso: Awa - nós / se - realizar. ASE, nós realizamos, com a ajuda, a força e o poder de nossa crença nos Òrìsà e nos nossos Ancestrais.
Hoje esta nossa palavra de significado mágico se banalizou, virou música chula, de bom ritmo e de forte apelo sexual. Para muitos, ASE é dançar com pouca roupa, "colocando a mão aqui e passando a mão ali, sentando na garrafa e mexendo o que não deve".
E uma palavra sagrada tão importante quanto AMEM, MAKTUB, ASSIM SEJA, ALELUIA e tantas outras, em tantas línguas, está por aí desvirtuada, destituída de seu significado religioso, servindo de apelo comercial e chamariz sexual.
Conclamamos os Sacerdotes afro descendentes a sair em campo esclarecendo, defendendo, e se reapossando de nosso ASE!
Que volte a encerrar as nossas bênçãos, as nossas preces, que aquele que ouvir a palavra ASE sinta-se abençoado e pleno de graça. Que um homem de ASE seja um Sacerdote e não um símbolo sexual. Que uma viagem de ASE seja uma visita à Terra Mãe África e não alguns dias de carnaval na Bahia. Que todo brasileiro, independente de sua opção religiosa, tenha muito ASE!
E, para encerrar, ASE ......ASE ......ASE ....

fonte:
Site Oficial da Iyalorisa Sandra M. Epega


O Axé

"Energia mágica, universal sagrada do orixá. Energia muito forte, mas que por si só é neutra. Manipulada e dirigida pelo homem através dos orixás e seus elementos símbolos."
O elemento mais precioso do Ilê, é a força que assegura a existência dinâmica. É transmitido, deve ser mantido e desenvolvido, como toda força pode aumentar ou diminuir, essa variação está relacionada com a atividade e conduta ritual. A conduta está determinada pela escrupulosa observação dos deveres e obrigações, de cada detentor de axé, para consigo, ser orixá e para com seu ilê. O desenvolvimento do axé individual e do grupo, impulsionam o axé de ilê.
"O axé dos iniciados está ligado, e diretamente proporcional a sua conduta ritual - relacionamento com seu orixá; sua comunidade; suas obrigações e seu babalorixá."
A força do axé é contida e transmitida através de certos elementos e substâncias materiais, é transmitido aos seres e objetos, que mantém e renovam os poderes de realização. O axé está contido numa grande variedade de elementos representativos dos reinos: animal, vegetal e mineral, quer sejam da água - doce ou salgada - da terra, floresta - mato ou espaço urbano. Está contido nas substâncias naturais e essenciais de cada um dos seres animados ou não, simples ou complexos, que compõem o universo.
Os elementos portadores de axé podem ser agrupados em três categorias:

1) "sangue" vermelho

2) "sangue" branco

3) "sangue" preto


O "sangue" vermelho compreende:

a) do reino animal: o sangue
b) do reino vegetal: o epô (óleo de dendê), osùn (pó vermelho), aiyn (mel - sangue das flores), favas (sementes), vegetais, legumes, grãos, frutos (obi, orobô), raízes...
c) Do reino mineral: cobre, bronze, otás (pedras), areia, barro, terra...

O "sangue" branco compreende:

a) do reino animal: sêmem, saliva, emí (hálito, sopro divino), plasma (em especial do igbin - espécie de caracol -), inan (velas)
b) reino vegetal: favas (sementes), seiva, sumo, alcool, bebidas brancas extraídas das palmeiras, yiérosùn (pó claro, extraído do iròsún) ori (espécie de manteiga vegetal), vegetal, legumes, grãos, frutos, raízes...
c) reino mineral: sais, giz, prata, chumbo, otás (pedras), areia, barro, terra...

O "sangue" preto compreende:

a) do reino animal: cinzas de animais
b) reino vegetal; sumo escuro de certas plantas, o ilú (extraído do índigo) waji (pó azul), carvão vegetal, favas (sementes), vegetais, legumes, grãos, frutos, raízes...
c) Reino mineral: carvão, ferro, osun, otás (pedras), areia, barro, terra...

Existem lugares, sons, objetos e partes do corpo (dos animais em especial) impregnados de axé; o coração, fígado, pulmões, moela, rim, pés, mãos, rabo, ossos, dente, marfim, órgãos genitais; as raízes, folhas, água de rio, mar, chuva, lago, poço, cachoeira, orô (reza), adjá (espécie de sineta), ilús (atabaques)...
Toda oferenda e ato ritualístico implica na transmissão e revitalização do asé. Para que seja verdadeiramente ativo, deve provir da combinação daqueles elementos que permitam uma realização determinada. Receber asé , significa, incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e essenciais de tudo o que existe. Trata-se de incorporar o aiyé e o orún , o nosso mundo e o além, no sentido de outro plano. O asé de um ilê é um poder de realização transmitido através de uma combinação que contém representações materiais e simbólicas do "branco", "vermelho" e "preto", do aiyé e orún. O asé é uma energia que se recebe, compartilha e distribui, através da prática ritual. É durante a iniciação que o asé do ilê e dos orixás é "plantado" e transmitido aos iniciados.
A Iyálorixá é ao mesmo tempo iyálasé, zeladora dos ibás (assentos - representação material do orixá na terra, local específico para receberem suas oferendas, local que se entra em comunhão com os orixás), tudo relacionado aos orixás, zelar pela preservação do asé que manterá viva e ativa a vida do ilê.
Para cada indivíduo, um deus. Mas todos os orixás particulares assemelhados se constituem em qualidades do orixá, que juntos formam o orixá geral. Da força (axé) de cada orixá particular dependerá a força do orixá geral. E não se pode cultuar um orixá geral a menos que se cultuem os orixás particulares, ou os orixás de um grupo, os orixás coletivos, da casa, denominados ajubós, e que são coletivos por representar exatamente a origem ancestral daquela casa, daquela família, que, no Novo Mundo, perdida a origem clânica, só pode ser a família ritual, a família-de-santo, o terreiro, o axé.
Mas antes do culto ao deus vem o culto à individualidade do homem, à cabeça, o que está dentro da cabeça, o ori. O ritual de dar comida à cabeça, o bori, é dos mais registrados pela etnografia afro-brasileira (Querino, 1938: 63-66; Carvalho, 1984, entre outros). Para os iorubanos, o ori tem status de divindade, recebendo cultos tão complexos quanto os dirigidos aos orixás (Abimbola, 1976: 113-150; 1975: 32-35, 158-177). No Brasil, como em Cuba, o rito de dar comida à cabeça preservou-se como primeira etapa da iniciação.
Entre nós, o cerimonial do bori é usado não apenas para a iniciação e renovação de forças do iniciado, como também no tratamento de doentes.
É necessário alimentar o ori como é necessário alimentar o orixá. Não se faz nada para orixá sem antes cuidar da cabeça. “Ori buruku, kossi orixá”, diz-se, ou seja, cabeça ruim não dá orixá.
É no ori que o orixá da pessoa será fixado. Ainda que nos candomblés brasileiros tradicionais esteja distante a idéia do ori como divindade, ele tem de comer, tem que receber sacrifício de sangue. Ori come pomba, doces, frutas etc. O bori prescreve recolhimento no roncó (quarto de retiro, clausura), banhos rituais, abstenção sexual, proibições alimentares — como o tratamento dado ao orixá.
Faz-se o bori para fortalecer a cabeça e renova-se o preceito anualmente. Nas casas que estão mais próximas das tradições brasileiras, o ori está representado em uma quartinha. Nas casas mais africanizadas, o ori é assentado em um ibá-ori, ou seja, o altar da cabeça, correspondendo a todo um culto específico. De todo modo, não há candomblé sem a idéia de que a cabeça é sagrada, pois ela é a portadora do orixá. Mesmo na umbanda pode-se hoje observar uma prática simplificada do bori. Em Cuba, todo iniciado tem o seu ossum, que é um tipo de representação da individualidade, que come, igualmente. Lá, quando um iniciado chega ao status de babalaô, seu ossum é posto num pedestal de modo a ficar exatamente na altura da cabeça do sacerdote.
Entre os iorubanos, diz-se que é o orixá Ajalá o responsável pelas cabeças. Ele as modela em barro e as coze. Mas Ajalá é velho, distraído e está cansado de fazer cabeças, e assim às vezes ele se descuida e algumas não saem bem feitas: quem carregar um ori malfabricado terá muitos problemas na vida, jamais deixará de ter dificuldades com o próprio destino (ver Abimbola, 1975: 178-207). No Brasil, o nome de Ajalá só é conhecido entre pais-de-santo intelectualizados. Aqui, a dona das cabeças é Iemanjá, e para ela se canta no bori. Quando Iemanjá começa a “falar” no jogo de búzios (por exemplo, quando em dois lances seguidos caem nove búzios com a face aberta voltada para cima), o pai-de-santo interpretará o sinal como desequilíbrio emocional, doença mental, “piração”. A cabeça terá de ser alimentada. O bori será prescrito não como rito de iniciação, mas para dar um “cala-boca” no santo que pode estar pedindo para ser feito naquela cabeça. Há segmentos da umbanda que incorporaram o rito do bori como meio de se evitar uma feitura no candomblé.

fonte:
O nagô e a morte
Juana Elbein dos Santos