A cura e a crença espiritual tem um papel crucial para os africanos.
Em muitas sociedades os curandeiros tem poder de entrar em contato com espíritos ancestrais para o beneficio de sua comunidade.
A cada três anos, numa criação de palmeiras perto do mar, na fronteira de Gana com Togo, centenas de adeptos do vodu reúnem-se para uma celebração de sete dias chamada Kokuzahn, em homenagem a sua divindade Flimani Koku, o velho deus guerreiro.
No passado, Koku era invocado para a proteção nos combates e invencibilidade das batalhas, mas atualmente para garantir defesa contra a bruxaria e o mal.
O festival começa com os ritmos pulsantes do tambor de vodu que levam os dançarinos a intensos estados de possessão.
Eles adquirem as características do Loa (deus) e exibem uma força e resistência além da capacidade normal, esquecendo-se de quem são e do que estão fazendo.
Esses feitos sobre-humanos que desafiam a racionalidade são considerados milagres e demonstram o extraordinário poder das suas divindades.
Um homem possuído pode subir num coqueiro alto e caminhar de pé sobre suas folhas esquecendo-se o perigo.
Conforme desce seus olhos começam a girar e seu corpo trem. Na base do coqueiro, ele agarra o tronco da planta numa tentativa de repetir o que havia feito.
Nesse momento é refreado por seus amigos, conscientes do perigo, para sua segurança.
O fetiche do deus Flimani Koku, contido dentro de uma abóbora coberto por um pano branco, é carregado para fora do templo para que todos possam vê-lo.
Apesar do conteúdo da abóbora (azizan) ser muito leve seu poder medicinal e peso psicológico é imenso.
O devoto que carrega a divindade sobre a cabeça, quase tropeça diante de tanta pressão. Ao final de seu percurso o adepto cai por terra em transe profundo.
Conforme o festival Kokuzahn atinge seu clímax o dançarino gira cada vez mais rápido ao ritmo dos tambores de vodu.
Até que finalmente cai por terra, num estado de completo abandono de seu corpo rendendo-se ao poder da divindade.
Eles afirmam que a consciência disso proporciona uma das sensações mais intensas de alegria que os seres humanos podem experimentar.
Não precisam de drogas para atingir esse estado, apenas o poder da fé.
Foto de Carol Beckwith e Angela Fisher
As fotógrafas Beckwith e Fisher realizaram um autêntico trabalho antropológico durante os trinta anos que levaram fotografando as cerimônias da África.
Aproveitando a desvantagem aparente de sua condição feminina e graças à sua adversidade, conseguiram ganhar a confiança dos homens e mulheres das diversas tribos que visitaram, aceitando registrar sua vida cotidiana e seu mundo espiritual de uma maneira que nenhum homem conseguiu antes.