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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mulher Himba em transe de possessão - Namíbia

Essa foto retrata uma mulher possuída pelo espirito de um leão, fazendo-a urrar com ferocidade, espumar pela boca e lutar com as outras.
Foi feita numa aldeia Himba da Namíbia onde uma famosa exorcista passou horas tentando acudi-la.
O povo Himba do Kaokoveld é descendente de uma comunidade Herero, criadora de gado, desalojada pelos guerreiros Nama no século XIX. 
Retomaram a sua vida de seminômades, criando carneiros, cabras e bovinos. 
As aldeias seminômades são aquelas abandonadas durante alguns meses pelos habitantes, que só regressam quando as pastagens melhoram.
Ha uma controvérsia quanto à origem do nome "Himba" (ou Ovahimba), traduzido algumas vezes por "povos do rio", outras por "mendigos", ou ainda por "aqueles que se exibem", devido às riquezas provenientes de seus bovinos, cabras, carneiros. 
O povo, entretanto prefere o vocábulo que caracteriza sua natureza alegre, simbolizada pela dança "Ochango": os "cantantes". 
As mulheres cobrem o corpo com preparados à base de manteiga, cinzas e hematita (minérios de ferro), a fim de proteger-se do sol abrasador da região e ao mesmo tempo hidratar a pele. Este método funciona de forma admirável.
Também preparam com muito cuidado seus cabelos.
O formato das tranças revela o seu estado civil. 
Se os missionários chegaram a cristianizar os Herero, nunca chegaram a convencer as mulheres Himba a cobrir o seus seios. Além disso, todos continuaram a ser fiéis às tradições animistas.
As suas crenças são caracterizadas pelo culto dos antepassados que, considerados como vivos, mas sob outra forma, continuam a interessar-se pelos negócios dos mortais e servem de mensageiros entre os seus descendentes e Deus.
Para os povos autóctones, a terra é a grande mãe: cuida de todos seus filhos, vestindo, alimentando e dando a vida. 
Nela está conservada a história do povo, fator que dá sentido a suas culturas. 
Assim, quando os Himba, do norte da Namíbia, na África, souberam que o projeto de construção de uma usina hidroelétrica destruiria uma série de cemitérios sagrados, alarmaram-se com essa realidade, pois toda estrutura social estaria ameaçada. 
Um túmulo não é somente um espaço religioso, mas um ponto central de identidade que define as relações sociais dos grupos humanos e das pessoas com a terra.
Para a etnia himba da Namíbia, as crianças são o centro de sua atenção, seu grande tesouro. 
As mães nunca os deixam sozinhos e desde que têm uns dias lhes untam a pele com essa tintura avermelhada e colocam colares para afastar os maus espíritos.
Os Himba são sociedades matriarcais em que as mulheres transmitem os direitos de propriedade e de herança. 
Mantêm relações muito livres com o sexo oposto. Partilham voluntariamente o parceiro com as suas colegas. 
Elas riem enquanto confeccionam esplêndidas joias e correntes que brilham sobre o ocre da sua pele.
Gozam de um privilégio proscrito aos homens: comer o fígado da cabra oferecida em sacrifício. 


O deserto


O Namib é um dos desertos mais antigos do mundo. Há 80 milhões de anos, a areia vem sendo pacientemente depositada ao longo da costa.
Quase toda a areia do Namib veio do mar, carregada pelo aluvião do Rio Orange, ao sul, até o Oceano Atlântico, e daí levada pela corrente marítima e pelo vento até o litoral da Namíbia. 
O resultado desse trabalho milenar é um interminável manto de dunas que se debruça sobre as águas frias do Atlântico e redesenha o mapa da Costa do Esqueleto a cada dia. 
Esse termo foi cunhado em 1933 por um jornalista local ao sobrevoar a área em busca de um aviador suíço que tentava quebrar o recorde de voo solo entre a Cidade do Cabo, na África do Sul, e Londres. 
Do avião, ele viu os esqueletos de navios e homens que haviam perecido nas areias do Namib no decorrer dos séculos. O aviador nunca foi encontrado, mas o nome pegou. 
Antes da chegada do jornalista, a região era conhecida pelo não menos sombrio nome de Areias do Inferno, dado pelos navegantes portugueses que, sob o comando do explorador português Diogo Cão, aportaram nestas terras em 1485. 
As praias, baías e ilhas que os navegadores portugueses mapearam já não existem mais. 
Algumas das dunas, como as de Sossusvlei, no Parque Namib-Naukluft, chegam a até 300 metros de altura. São pelo que se dizem as mais altas do mundo.
Essas são as únicas dunas no mundo que possuem a cor vermelho-alaranjada, e uma grande gama de tonalidades de vermelho, devido a grande concentração de óxido de ferro.
Os rios funcionam como oásis lineares e abrigam quase toda a vida do deserto. 
Só há dois rios perenes em toda a costa da Namíbia. O Kunene é o que faz fronteira com Angola.
Chove apenas 15 milímetros por ano gotejando sobre a Costa do Esqueleto (a precipitação anual da Amazônia é de 2 500 milímetros por ano). 
No lugar de chuva, ha sempre uma névoa espessa que se alastre pelo deserto e por 50 quilômetros sobre o continente. 
Obra do encontro da fria Corrente de Benguela com o ar quente do deserto, a névoa, em seu caminho, vai se depositando nas poucas espécies de plantas que vivem no deserto. Plantas dessas que servem de alimento a animais como elefantes, girafas e antílopes. 
Uma das plantas vem se alimentando dessa forma há milhares de anos. É a Welwitschia mirabilis, apelidada por Charles Darwin de "ornitorrinco do reino vegetal". 
A planta, endêmica do Namib, é um milagre da evolução. Hidratada apenas com a névoa matinal, cada exemplar pode viver cerca de dois mil anos. 
Por causa de sua estranha forma, apenas duas folhas rígidas e fibrosas acopladas a um caule grosso e achatado, os botânicos consideram a Welwitschia uma espécie de árvore anã. 
Outra planta que sobrevive bem às duras condições do deserto é o melão! nara (o ponto de exclamação representa um estalido com a língua no idioma falado pela tribo nama). 
Com suas raízes de 40 metros de profundidade, a planta retira do lençol freático toda a água de que precisa para viver. 
É assim que a vida se sustenta no Namib.


Foto de Carol Beckwith e Angela Fisher


As fotógrafas Beckwith e Fisher realizaram um autêntico trabalho antropológico durante os trinta anos que levaram fotografando as cerimônias da África. 
Aproveitando a desvantagem aparente de sua condição feminina e graças à sua adversidade, conseguiram ganhar a confiança dos homens e mulheres das diversas tribos que visitaram, aceitando registrar sua vida cotidiana e seu mundo espiritual de uma maneira que nenhum homem conseguiu antes.