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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nyimi (rei) Mabiintsh III - Congo (etnia Bakongo)

Sua Majestade Real, o Rei Nyimi Lukengu Kok Mabiintsh III da dinastia dos Mabiintsh, Rei dos Bakubas.
O Nyimi Mabiintsh III tem cinquenta anos nessa foto. Ele assumiu o trono aos vinte. Como descendente do deus criador, o rei é dotado de poderes sobrenaturais.
Devido a sua posição suprema é obrigado a algumas abstinências: ele não tem o direito de sentar-se no chão, e não pode atravessar um campo cultivado. Além de seu cozinheiro, ninguém nunca o viu comer. Além disso, nunca viaja sem ele, e sem os próprios utensílios de cozinha.
Seu traje real é chamado de "bwantshy." É feito de um tecido bordado com búzios e contas, pesando 84 quilos. Leva-se duas horas para vestir o rei, e dois dias de preparação espiritual para estar suficientemente purificado para usa-lo.
O peso e o calor do bwantshy é tamanho, que é impossível usa-lo por mais de uma hora. O seu antecessor usou esse traje somente três vezes durante a vida. Foram precisas três semanas para fotografar o Nyimi (rei) dos Kuba em seu traje real. Entre os Kuba esse tempo significa “comer a píton”.
Entre os matrilineares Kuba, o rei tem relações sexuais com uma irmã e se casa com uma sobrinha de seu próprio clã, ainda que perca sua filiação clânica ao ser entronizado (de Heusch 1987:49); aliás, este último rei incestuoso tem a capacidade de se transformar em leopardo para vingar seus inimigos (de Heusch 1987:51).

Os Bakongos

Os Bakongo ocupam o Noroeste do País, entre o mar e o rio Kuango, nas províncias de Cabinda, Zaire e Uige.
Porém, a área Bakongo se estende para além das fronteiras geográfico administrativas do País.
Foi no território Bakongo que, no Século XV, os Portugueses encontraram o reino do Kongo, com a capital em “S. Salvador” (Mbanza Kongo).
Os Bakongo são tradicionalmente agricultores. Porém entre eles, alguns têm grande competência para o comércio, outros para a confecção de mabelas (tecido de ráfia) em tear e outros ainda exímios mestres na manufatura de tecidos acetinados e aveludados, decorados e policrômicos.
A arte Kongo se expressa de uma forma realista e cheia de geometria. A sua escultura é muito marcada por figuras femininas, robustas e sensuais.
Os Bakongo são propensos a um misticismo particular, à criação de instituições de caráter religioso e secreto, tendência que se expandiu até aos nossos dias em associações do tipo profético – messiânico.
Quando os portugueses entraram em contato com os povos Cabinda adotaram o nome do seu Rei (Ngola) da tribo Mbundo para batizar esse reino adotando em seguida a todo o território conquistado por eles.
Os habitantes do País de Cabinda são na sua maioria povos Bakongo vindos do antigo Reino do Congo.
Bakongo (note-se que o prefixo ba indica, por si só, o plural, e não dizemos ou escrevemos Bakongos) são também, genealogicamente, todos os povos que se encontram desde São Salvador do Congo até Alima, desde o Oceano até Léopoldville (Kinshasa) e mesmo até Batege e Kasayi, posto que se chamem Bawoyo (N'Goyo), Bayombe, Bavili, Balinge, Basolongo, Bakongo, Bambata, Basundi, Baluba, etc.
É historicamente certo ter havido uma emigração dos povos de São Salvador do Congo. A chegada, dos Bawoyo, sem ser possível precisar a data, não parece ser anterior a 1500.
Encontramos no País de Cabinda os Bakongo propriamente ditos, Bawoyo, Basundi, Bayombe, Bavili, Balinje e Baluangu.
Os Balinje e Baluangu podemos considerá-los como Sub-clãs, sub-tribos.
Quanto aos Bakongo e Bawoyo, encontram-se, na maioria, dentro do País de Cabinda.
Os Bayombe, Basundi, Bavili estão ligados aos territórios vizinhos, onde se encontra a maioria dos representantes do clã: os Bavili, ligados ao ex-Congo Francês, os Bayombe ao ex-Congo Francês e ex-Congo Belga e os Basundi com infiltração - e muito grande - no ex-Congo Belga.
Conhecemos os nomes, os nomes dos Bakisi-Basi, Bandoki, Nlunda, Konde (Kondo), etc. e ouvimo-los, imensas vezes, da boca dos Cabindas.

Machado, símbolo, força e poder judicial

Os enxós e machados dos Kuba eram elementos poderosos de pessoas de grau hierárquico elevado ou de adivinhos.
Não eram usados como ferramentas. Formas e materiais de enfeite também podem informar sobre o status social do proprietário ou da proprietária.
O ritual simbólico de alguns machados é associado à força de ação e o conhecimento de decidir um conflito.
No ritual de noivado, o noivo oferece ao sogro um machado dizendo:
“Você cortará as pernas dos homens que vierem para cortejar minha noiva". Na hora do matrimônio, o marido tem que oferecer à linhagem da esposa um machado pelo qual ele averigua a fertilidade da casa dela.
Como distinguiu do chefe e o juiz, o machado sublinha o poder para decidir.
Para a entronização, o rei Kuba recebe um machado pequeno que ele exibe às pessoas como emblema de realeza. Alguns ídolos têm machados pequenos, símbolo da função deles para castigar alguns atos cometidos.
As mulheres Kubas, hinram os juízes que decidem conflitos, por uma dança com um machado pequeno. Colocar um machado antes da baia do gado pequeno serve para separar o para fuso de trovão.
Um machado serve para livrar alguém de um receio. O machado de um feiticeiro pode esconder o poder dele.

Religião e Crenças

Todos os clãs Bakongo conhecem Deus sob o vocábulo NZAMBI ou NZAMBI MPUNGU.
Nzambi é bom. Chamam-lhe Tata, Tat itu: Pai, Pai Nosso; Tata Nzambi = Deus Pai.
Reconhecem a Providência divina no governo do mundo (Nzambi Keba = O Deus que Cuida) a sua veracidade e a sua omnisciência.
São unânimes e explícitos em Lhe atribuir todo o poder criador. Por isso, encontramos muitas vezes Deus ser chamado, indiferentemente, Nzambi ou Nzambi Mpungu = Deus Todo Poderoso, ou Nzambi Mvangi = Deus Criador.
O designar Deus Nzambi Keba = Deus Providência, já é mais por influência missionária.
Têm ainda algumas ideias quanto a obrigações morais para com Deus e para com o próximo: o temor de castigos que Deus possa enviar e permitir; sentido muito arraigado da justiça e da fuga a praticar injustiças.
Quanto à existência de um culto prestado a Deus - Supremo Senhor e Criador, como sacrifícios orações, etc., tanto quanto se pode investigar nada os dá, a saber, mesmo entre os mais antigos.
Em certas circunstâncias dão, conscientemente, bênçãos - Kuvana miela - ou fazem votos de felicidade em nome de Deus.
Vemos estas bênçãos, quase sempre, quando um filho parte para longe e é abençoado pelo pai que toma um pouco de terra (e a terra é sempre sagrada) e, ao mesmo tempo em que a lança ao ar, abençoa o filho.
Não obstante tudo isto, desde há séculos, Deus é, na prática, eliminado da vida da maior parte dos negros que sequem a lei natural.
Mas o que nunca recusaram a Deus - Nzambi - que parece na mentalidade deles, desinteressado totalmente das criaturas, foi a sua soberana dominação conscientes de que todos os entes d'Ele - do Nzambi - recebem a existência e o poder.
Portanto, Deus não tem ninguém que lhe seja igual. Ele, o Nzambi, o Nzambi Mpungu, o Nzambi Mvangi é o único, o Inacessível, o Grande Chefe que do «Céu» domina tudo, o bem e o mal, potências superiores, gênios, feitiços.
A magia não tem qualquer poder contra ele.
Ele não está e nem pode estar localizado seja onde for em qualquer coisa material; não é representado por imagens.
Ele é, verdadeiramente, o Nzambi. E porque é Nzambi deixa correr, deixa fazer!
Pouco se importam com a sua intervenção-tão longe ele está! - em tudo o que acontece aos pobres mortais, e aceitam o infortúnio com uma resignação sem mérito.

As forças benfazejas da natureza

Há entes sobre-humanos que, por vontade de Deus, governam o mundo em seu lugar: são principalmente os Bakisi (Nkisi - pl. Bakisi), os gênios no sentido mais amplo da palavra.
Nos velhos tempos, dizem, o Nkizi ou os Bakisi eram bem melhores e bem mais amigos dos homens. Protegiam-lhes os corpos fazendo chover, dando-lhes alimento, proporcionando-lhes bem-estar.
E era por isso que os homens chegavam a uma idade avançada.
A estes espíritos benfazejos, à frente do bom andamento do universo, chamavam, outrora, Bikinda Binsi.
Hoje, a maioria, nem lhes conhece o nome. Cada clã teria o seu Kinda ao qual se atribuía a fecundidade, quer das pessoas e animais, quer da terra.

Os espíritos da terra - Bakisi Basi

Mais tarde e, certamente, por analogia com os Bikinda imaginaram os Bakisi Banene (- Os grandes Bakisi) ou Bakisi Basi, espíritos da terra, do sol, da região, de cada fundador e chefe de clã, por intermédio de um Nganga especial, que tinha a seu cargo inaugurar o seu próprio Nkisi Nsi para presidir aos interesses da terra que acabavam de tomar e ocupar.
Estes «espíritos-mães» mais do que conhecidos por todos os clãs do Distrito de Cabinda em geral, ainda que com nomes diferentes, por vezes, parecem ser muito antigos, mais antigos do que a própria população, pois teriam sido trazidos pelos primeiros emigrantes conhecidos.
Estes Bakisi Basi não têm o seu habitat numa estatueta ou num ídolo. Vivem na terra, na água das lagoas e, especialmente, nas rochas ou têm o seu santuário nas florestas.
O culto ao Bakisi Basi parece ser a manifestação principal dos sentimentos religiosos das populações Bakongo, Bauoio, Baluango, Basundi.
Este culto regulava - e ainda hoje se sente a sua influência - toda a vida social e familiar. Basta que se volte a ver o que os Cabindas dizem sobre as leis de Lusunzi.
É do Nkisi-Nsi que o chefe recebe o poder. É do Nkisi-Nsi que, nos Bauoio - Cabindas - toda a comunidade, por cerimónias públicas, procurava conquistar graças e favores.
É em nome do Nkisi-Nsi que os Zindunga, chamados também mulheres do Nkisi-Nsi (Bakama Bakisi-Nsi) ou «soldados», fazem o policiamento das terras de Cabinda e velam pela guarda dos bons costumes e leis de Lusunzi, que não são mais do que as leis do Nkisi-Nsi.
É ainda pelo Nkisi-Nsi que, praticamente, em todos os clãs do num País de Cabinda, fazem entrar as jovens, chegadas à idade núbil, no Nzo Kumbi («Casa da Tinta») para, depois casarem-se.
Em atenção ao Nkisi-Nsi, abstêm-se as pessoas de certos atos fora do casamento ou observam certos costumes nas relações conjugais.
Ao Nkisi-Nsi ficam ligados todos os que nascem de uma forma tida por «anormal», a saber:

A) Os Zindundu (sg. Ndundu) = Albinos.
Porque os aIbinos, de um e outro sexo, são incapazes de gerar.
Outrora, era costume apresentarem os «Zindundu» ao Rei.
Eram, depois, ensinados na prática da magia e passavam a servir de magos ao Rei, que seguiam e acompanhavam sempre.
Ninguém ousaria ofendê-los com qualquer afronta. Eram respeitados por todos. Iam-se ao mercado podiam tomar o que quisessem e ninguém lhes iria à mão.
B) Basimba, os gêmeos. Tidos também por filhos, do Nkisi-Nsi. Havia para com eles as atitudes respeitosas que tinham para com os aIbinos.
C) Os Nsunda (pl. Basunda), os que nascem pondo, primeiro, as pernas fora do ventre materno.
D) Os Kilombo - Os que revelam, em sonho, a sua origem estrangeira.
E) Os mortos com Vimbu. Vimbu, doença que faz inchar. Vem do verbo Kuvimba -Inchar, engrossar.
F) As que morrem grávidas e todo aquele ou aquela a quem não cortaram os cabelos ou as unhas...
Jura-se e amaldiçoa-se, ainda hoje, pelo Nkisi-Nsi.

É que o Nkisi-Nsi, por bom e generoso que seja também pode encolerizar-se e vingar-se.
O negro está convencido de que foi Deus - o Nzambi Mpungu quem delegou todos os poderes aos espíritos enquanto que ele mesmo - Deus - fica sempre o Deus Único, Inacessível, sem concorrentes e sem divindades, mesmo inferiores.
A alma negra sempre reconheceu, e reconhece o Ente Supremo na origem de todas as coisas. Além dos Bakisi Banene há outros que nem estão tão altos, nem são tão terríveis como isso.
Nesta conta entra a serpente Mbumba Luango, os Zindundu (Albinos), os Basimba (gêmeos).
Temos ainda os Bakisi Bakulo - os espíritos dos antepassados, protetores da família; o Lemba, especial do casamento, para que haja paz no casamento e seja fecundo.
Para as mulheres grávidas e para as crianças há uma série de espíritos protetores: Malazi, Mamazi, Mbenza, Kobo, Kívunda.
A função destes é guardar e proteger as crianças, já antes do nascimento, dos maus olhados dos Bandoki, matadores, comedores da alma.
Mas os espíritos que mais andam na mente desta gente, os que mais temem, são os chamados Nkonde ou Nkose, demónios maus, espíritos do ódio e da vingança.
Estão eles ao serviço dos Bandoki - assassinos e comedores de almas.
São estes espíritos Nkonde que, invocados pelos homens Ndoki, causam as doenças e males de toda a espécie até que, «obedecendo a quem pertencem ou cedendo a uma força superior, afastando-se, diz Bittremieux, deixam que o remédio natural e supersticioso venha a agir naturalmente.»
Faziam parte do grupo Nkonde: Mabiala Mandembo (espírito vingador do Loango), Mangaka, Mungundo, Nsasi-Nkonde, Nkonde, Nkonde (o) Ikuta Mvumbi.
Normalmente as suas estátuas e estatuetas estão providas de um espelho e crivadas de pregos.
Quem desejar mal a alguém e quiser se vingar, martela um prego na estátua de um Nkonde jurando que não terá descanso até que o outro seja punido.

Rei fotografado por Daniel Lainé entre 1988 e 1991