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domingo, 23 de outubro de 2011

Obá Ewuare N’Ogidigan (século XV) povo Edo do antigo Benin

O antigo Benin

A leste de Oyo estava o Benim dos Edos, dois estados vizinhos ligados por laços históricos comuns de origem no centro da irradiação primordial das suas tradições, no Ile-Ife, a Casa Grande da grande família dos estados yorubas.
Não se esta falando do Benim, metamorfose deste Daomé. Mas do Benim Ogiso, dos povos Edo, rival dos iorubas da história apesar das suas origens comuns no Ile-Ife, a Casa Grande, manancial das tradições das grandezas do Oyo.
Este foi o Benim antigo, a leste do estado Ioruba do Oyo, não o Benim conhecido até 1975 por Daomé, Daomé Agasuvi dos séculos antepassados, Daomé colónia francesa desde a década dos 90 de 800, Daomé, estado africano em 1960.
O Benim, porta ainda por onde os Portugueses, no século quinze, começaram as suas primeiras explorações no interior do continente em busca do lendário Padre João, vulgo do Preste João da Índia, no interior pela boca do Níger adentro atraído já pela sofisticação que admiravam dos acabamentos culturais deste reino africano da costa do Golfo do mesmo nome e guiados por uma lenda empolgante de um mais poderoso ainda do que o do Benim, mais além para o interior.
Os mercadores e exploradores portugueses estabeleceram os primeiros contatos com o reino do Benim em 1486, dando início a uma relação econômica que acabou por ter um profundo impacto sobre a arte e a política deste Estado da África Ocidental.
As histórias orais relatam a forma como o Oba Esugie, que governava o Benim em inícios do séc. XVI serviu-se habilmente destes novos parceiros comerciais para aumentar e consolidar o seu poder pessoal e expandir a sua força militar e económica na região da costa da Guiné.
Muito do que sabemos a respeito do reino dos Obas, apelativo histórico dos monarcas beninenses nos chega através das crônicas portuguesas e escritos da época.
O nome Benin é a maneira como palavra foi transcrita pelos viajantes portugueses em seus relatos para o termo nativo ”beni-bini” residentes da água.
Na história do Benin, estamos lidando com fatos documentados, desde o século quinze. Mas antes disso o que se sabe são lendas.
A terra onde surgiu o reino do Benin era habitada pelos povos Efa, governados pelos monarcas da família Ogiso a quem faltava tudo, mais o carisma da boa governação da cidade.
As contínuas agitações entre o povo fizeram com que a classe dos Uzama, as sete tribos principais do reino, enviassem emissários a Oduduwa do Ile-Ife para buscar um príncipe, sábio na arte do governo dos povos.
Foi enviado o príncipe real Oranmyian acompanhado por um cortejo de pajens, representando os ofícios necessários para o bom andamento do reino que Oranmyian iria fundar entre os Edos do Benin.
O Príncipe Oranmyian instalou-se num palácio construído a propósito desde logo tornado em santuário em que seriam coroados os futuros monarcas do Benin, não sem a oposição dos Príncipes Uzama.
Oranmyian se tomou para esposa uma princesa real Ogiso que lhe deu um filho a quem Oranmyian deu o nome de Eweka.
Oranmyian decide então abandonar o governo do reino ao Príncipe Eweka convencido que estaria assim em boas mãos por um príncipe local.
Oranmyian foi enviado por Oduduwa para cumprir missão similar para o lado do noroeste, e patronizar mais um reino, Oyó.
Eweka consolidou as bases da nova dinastia do Benin.
Conflitos de autoridade entre os descendentes de Oranmyian da linha de Eweka e os Príncipes Uzama, tiveram desde o inicio a mesma intensidade da que encontramos entre os Oyo Mesi e os Alafins iorubas do Oyo.
Todavia, os Edos parecem ter achado uma solução mais cedo evitando a crise institucional que prostrou o estado vizinho o Oyo nos séculos cruciais antes da ocupação colonial.

Obá Eware 

Quando João Afonso d’Aveiro visitou Benin, em 1485, reinava como já vimos o rei Ewuare o terceiro descendente de Eweka, que dizem ter sido também grande médico.
O rei Ewuare que matou o irmão mais novo no trono instaurando uma monarquia absoluta a exigir obediência incontestável de todos, o estado que os Portugueses descrevem nas suas obras e a tradição nos fez chegar até aqui.
Este rei deve ter subido ao trono por volta de 1440; expandiu o reino conquistando numerosas cidades, construiu largas estradas, embelezou a capital; mandou vir escultores para trabalharem o marfim e a madeira.
Sob o seu reinado o Benin atingiu o seu apogeu.
Durante o século X, o famoso Oba Eware aumentou o seu poder devido as importantes reformas que fez.
Ele tentou reduzir a influencia do Uzama, um corpo de chefes hereditários que participavam da escolha dos Obas, instituindo a sucessão do primogênito, a regra pela qual o filho sucedia ao pai.
Também procurou encontrar um contrapeso politico ao Uzama criando novas categorias de chefes, os "chefes palacianos" e os” chefes da cidade" escolhidos por ele.
A este rei também é creditada a construção de um sistema monumental de muralhas e fossos em volta da cidade do Benin. Juntamente com seu filho Ozuola, conseguiu estender o território do Benin do rio Níger a leste ate os territórios Iorubas a oeste.
O grande rei guerreiro Ewuare, que governou de 1440 a 1473, expandiu os limites do seu reino e reconstruiu a capital, a cidade do Benn. Para consolidar a autoridade e poder do rei ou obá, ele introduziu novas tradições que durariam por séculos.
Uma dessas tradições, ligando o Obá a leopardos, começou com uma historia anterior a sua coroação. Um dia, Ewuare cochilou sob uma árvore e despertou com gotas de sangue pingando sobre si. Olhando para os galhos da árvore, ele viu um leopardo mordendo um antílope. Ewuare pôs-se de pé e matou o animal.
Ele entendeu esse incidente como um bom presságio para o seu futuro reinado. O leopardo podia ser o mais poderoso de todas as feras selvagens, mas o Oba era mais poderoso ainda. Dai em diante, o leopardo tornou-se um símbolo dos poderes dos Obas.
Ewuare e os Obás que o sucederam, mantiveram leopardos em jaulas, usaram suas peles e eram chamados de “leopardos" por seus súditos. Artistas da corte criaram todo tipo de imagens desses animais nos trajes reais e nas cerimônias. Como em toda arte real, essas imagens eram feitas de materiais duráveis, como bronze, o que também sugeria a permanência do poder dos Obás.

As sociedades do Golfo da Guiné

Os relatos que os antigos capitães nos deixaram sobre as nações africanas que visitaram nos séculos XV, XVI e XVII, transmitem-nos a imagem de terras prósperas e civilizadas.
Os viajantes falam da densidade da população, da fecundidade da terra, da prosperidade, da agitação dos mercados, da abundância e da variedade das mercadorias, da beleza das paisagens, dos campos cultivados, dos jardins; falam do tamanho das cidades e de sua bela urbanização.

Labat escreve a respeito do reino de Uidá:

«O país é tão povoado e tão cheio de aldeias que todo o Estado mais parece uma grande cidade dividida em bairros separados por hortas cuidadosamente cultivadas, que se parecem com jardins»; «A terra é tão fértil que se colhe quatro vezes por ano. Produzem ervilhas, arroz, milho, milhete, trigo da Turquia, batata doce, inhame, melões».
Mas não havia apenas aldeias; também existiam cidades importantes com várias dezenas de milhares de habitantes, sobretudo na região habitada pelos iorubas.
Mas podemos citar, também na Costa dos Escravos, certo número de cidades de bom tamanho: Savé, Uidá, Allada, Kétu, Itakon, Itakete, Pode, Abomei, Ifanyin...
Estas cidades tradicionais, as cidades-palácio, distinguem-se por três características:
Primeiro, eram fortificadas e cercadas por grossas muralhas.
A segunda é a presença do palácio que constitui praticamente outra cidade dentro da primeira, coração do reino, centro de elaboração de técnicas artesanais, entreposto das riquezas do reino. Uma multidão vivia no palácio: esposas, servidores, sacerdotes, oficiais, etc.
A terceira característica é a presença do mercado, geralmente situado em frente ao palácio.
O Sieur de la Croix descreve a cidade da seguinte forma: «Há várias portas que têm oito ou nove pés de altura e cinco de largura. São de madeira, todas elas de uma só peça, e giram sobre um eixo.
O palácio do rei está do lado direito da cidade... É um conjunto de construções que ocupa tanto espaço como a cidade de Grenoble e que é fechado de muralhas.
Há várias divisões para os ministros do príncipe e belas galerias, a maior parte das quais são tão grandes como a Bolsa de Amsterdam.
São sustentadas por pilares de madeira encaixados em cobre, onde estão gravadas as suas vitórias e que se tem o cuidado de manter bem asseados.
A maior parte destas casas reais é cobertas de ramos de palmeira, dispostos como tábuas quadradas.
Cada canto é embelezado com uma pequena torre em pirâmide, na ponta da qual está empoleirado um pássaro de cobre a abrir as asas.
A cidade é composta de trinta grandes ruas muito direitas, com vinte e seis pés de largura, além de uma infinidade de pequenas ruas transversais. As casas estão perto umas das outras e alinhadas em boa ordem.
Têm tetos, guarda-ventos, balaústres, e recebem a sombra de palmeiras e bananeiras, porque têm apenas um piso. Há, no entanto nas casas dos gentis-homens grandes galerias interiores e vários compartimentos cujas paredes e pisos são cobertos de uma camada de terra vermelha.
Estes povos não ficam atrás dos holandeses em limpeza. Lavam e esfregam tão bem as suas casas que elas se encontram polidas e brilhantes como um espelho.».

Por sua vez o palácio do rei de Allada, em Assém, a capital, foi descrita nos seguintes termos por Labat: 

«Este palácio é vasto; é composto de vários pátios espaçosos cercados de pórticos, encima dos quais estão situados apartamentos. As janelas são pequenas devido ao calor do clima.
Em alguns quartos havia tapetes turcos que cobriam o assoalho, em outros apenas esteiras; em todos havia poltronas, um grande número de almofadas cobertas de tecidos de seda, mesas, biombos, arcas, cadeiras, belíssimas porcelanas da China.
Entretanto não havia vidros nas janelas, mas somente cortinas de tafetá. Os jardins eram espaçosos, com longas avenidas retas formadas por árvores de diferentes tipos, muito densas, para proporcionar sombra e frescor.
Havia alguns canteiros cercados de tomilho, cheios de flores: lírios de três cores diferentes, cujas folhas são mais longas e mais finas que os da Europa, e com um perfume mais agradável e mais suave».

As populações do Golfo do Benin constituíam na época sociedades rurais, organizadas em clãs, e em linhagens patrilineares, configurando o chamado modo de produção de linhagens.
Os clãs, uns 39 no Daomé do século XVIII, eram conjuntos de indivíduos que acreditavam ser descendentes de um antepassado mítico comum, o tohwiyo, e que funcionavam como unidades de gestão e unidades políticas.
Estavam divididos em sub-clãs, ou linhagens, dispersos pelo território, e estes, em famílias
extensas.
As linhagens eram unidades locais que reuniam os descendentes de um antepassado mais próximo, geralmente aquele membro do clã que tinha fundado a unidade considerada.
A linhagem era uma unidade de produção e redistribuição. A família extensa, por sua vez, constituía uma unidade doméstica correspondendo a uma residência comum onde moravam um grupo de irmãos, suas esposas, filhos, noras e netos, ou seja, um grupo fechado unido por uma forte solidariedade.
As sociedades do Golfo do Benin, naquela época, eram, pois sociedades onde o parentesco constituía a estrutura dominante, e que ficavam segmentadas em grupos de descendência praticamente autônomos.
Cada clã possuía suas normas, suas leis, suas práticas religiosas, que haviam sido estabelecidas pelo antepassado fundador.
Dentro de cada grupo de descendência o status e os direitos de cada um eram definidos pelo sexo, mas, sobretudo pela idade.
A sobrevivência e a continuidade de sociedades agrícolas de linhagens como aquelas dependem da produção da terra e de braços numerosos para fazê-la produzir.
Os homens mais velhos, porque podem dispor das mulheres de sua família, filhas, netas, sobrinhas, dominam a geração dos homens mais novos, que dependem deles para obter esposas.
Os homens importantes, aqueles que detêm o poder são aqueles que fazem as alianças e distribuem as mulheres.
A posse de muitas mulheres é símbolo de poder, muito mais que de satisfação erótica; significa prole numerosa e, portanto força de trabalho, riqueza, e garantia de continuidade do grupo.
A terra era posse coletiva dos grupos de descendência e seu controle era exercido pelos mais velhos.
O membro mais velho do grupo atuava como uma espécie de gerente do patrimônio dos antepassados.
O trabalho da terra era responsabilidade dos homens e as mulheres apenas participavam na colheita, pois elas se dedicavam, sobretudo ao comércio, ficando a maior parte do tempo longe de casa.
Os homens mais jovens deviam entregar parte do produto do seu trabalho aos velhos chefes da família, que o administravam e guardavam uma parte para o pagamento do dote das suas esposas.
O crescimento da população havia criado nas cidades um mercado favorecendo a diversificação das atividades e a especialização artesanal: tintura com índigo, tecelagem, marcenaria, trabalho do couro, do ferro e dos metais em geral, medicina, fabricação de louças, potes, cerâmicas, ornamentos etc.
Surgiram numerosas associações e corporações que foram substituindo as antigas classes de idade do mundo rural.
Mas o campo e a cidade nunca deixaram de manter estreitas relações; parte dos membros dos grupos de parentesco residia permanentemente na cidade exercendo profissões propriamente urbanas; suas roças situavam-se a pouca distância da cidade, e eles iam e voltavam a pé.
A outra parte da linhagem residia no campo, em aldeias dependentes do grupo de parentesco.
Nas aldeias e nas cidades o status de cada linhagem era definido por seus mitos, que falam das migrações do fundador, de sua aceitação pelos autóctones, das terras que lhes foram concedidas.
Tais grupos de descendência, estabelecidos em bairros distintos, praticamente independentes uns dos outros, identificavam-se por suas marcas faciais, seus hábitos, nomes, e deuses.
Existia no Golfo do Benin um sistema de circulação de mercadorias bastante desenvolvido; as bases do sistema de distribuição repousavam numa rede de feiras rurais e urbanas cujo estudo permite compreender a estrutura das trocas: o percurso dos produtos coincide muitas vezes com o traçado das relações de aliança e de parentesco. As redes de mercados coincidem com a distribuição das etnias.
Havia uma rede de feiras diárias e uma de feiras periódicas, de quatro e quatro dias, ou de oito em oito. A importância destas feiras impressionou os viajantes. Começavam tarde pela manhã porque os comerciantes percorriam longas distâncias a pé, desde a madrugada, carregando seus produtos.
Eram frequentadas por milhares de pessoas e estendiam-se por centenas de metros, divididas em setores em função do tipo de artigo: cabras e carneiros, vegetais, sal, inhames, roupas, óleo, sabão, lenha, remédios e ingredientes para uso mágico, feijão, comidas prontas, etc.
Encontravam-se também objetos de fabricação europeia, tecidos, fumo, facões etc., trazidos de longe pelas caravanas e que chegavam, de feira em feira, até a Costa da África Ocidental, sem falar de escravos, homens, mulheres e crianças. A grande maioria dos comerciantes eram mulheres.
Os homens negociavam escravos, produtos importados, e trabalhavam como açougueiros. O mercado era um lugar privilegiado para encontros, o local de concentração correspondendo a uma busca de reagrupamento de uma sociedade atomizada em células individuais.