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sábado, 29 de outubro de 2011

Pastor Dinka - Congo

Na floresta de espinheiros, pessoas movimentam-se debilmente.
São pastores da etnia Dinka, desalojados dos campos petrolíferos em disputa, onde os rebeldes combatem contra o governo sediado na capital, Cartum. 
Crianças enfezadas e de cabelo ruivo devido à subnutrição trepam às árvores e apanham folhas para comer. 
Os Dinka com todos seus subgrupos chegaram ao final do século XX a um numero de três milhões de pessoas.
Vivem num vasto território situado no pântano do Nilo, ao sul do Sudão.
Na sociedade Dinka os criadores trabalham para o gado e não o gado para eles.
O gado, uma raça em particular que é branco, tem os chifres muito mais alongados que os bois de outras raças têm, me chamou a atenção porque são exatamente a mesma representação dos chifres encontrada em hieróglifos egípcios. 
Esta sociedade que tem em sua raiz o respeito pelos ancestrais tem uma cerimônia onde é escolhido um boi e as pessoas chegam trazendo suas mazelas, de qualquer gênero e é no boi despejado as mazelas através de um ancião que é o conselheiro, o boi é massageado com um pó branco e após ser deitado do lado direito é sacrificado cortando sua garganta, ele será o mensageiro de todos aqueles pedidos aos deuses e ancestrais. 


Religião


Os Dinka acreditam num deus único e universal a quem chamam de Nhialac.
É o criador e a fonte de vida, porém distante dos negócios humanos.
Os homens contatam Nhialac através de intermediários espirituais e de entidades chamadas jak que podem ser invocadas através de vários rituais.
Esses rituais são realizados por adivinhos e curandeiros.
Eles creem que os espíritos dos mortos tornam-se parte integrante de sua vida espiritual. Já rejeitaram as tentativas de convertê-los ao islamismo, mas estão abertos de alguma forma ao cristianismo.
Para eles o gado tem um significado religioso. É a primeira escolha como sacrifício animal, apesar das ovelhas serem usadas como substitutas em algumas situações.
Os sacrifícios são feitos para os deuses Jak e Yath, pois Nhialac está muito acima do contato humano.
A família e as relações sociais são os principais valores no pensamento religioso Dinka.
Deus acima de todas as divindades, Nhialic ou Nhial é o grande espirito universal, aquele que não vive apenas no céu, mas é o próprio céu.
Sendo o supremo, ele escolhe seus assessores, Abuk, Deng, Garang e Macardit para não ter que lidar com as ocorrências do cotidiano.
Deng é um dos seus comandantes mais respeitados, ancestral reconhecido entre todos os Dinkas e diretamente ligado com Nhialic.
Além de possuir as pessoas através do transe, ele golpeia as nuvens com seu cajado para trazer a chuva.
Macardit é o vilão, e não goza de boa reputação apesar de seu apelido ser “O grande Negro". Todo tipo de azar pode surgir por causa de Macardit. 
Abuk e Garang trabalham em conjunto.
Abuk é uma deusa que olha pelo desenvolvimento das plantas, arvores e cultivo, com a responsabilidade adicional de manter o suprimento de água. 
E Garang olha por todo o resto, não se deixando iludir, pelo bem, mal, bonito ou feio.
Os Dinkas também têm o seu herói, como em outras religiões. O peso da imortalidade cai sobre Aiwel Longar. 
Ele foi concebido nos rios, e guiou o povo em suas águas, lidando com a morte de uma maneira arbitraria e sangrenta.
Aiwel sempre foi hábil com a lança, talvez a “morte" seja parte dessa fama, passando seu conhecimento para os mestres lanceiros. 
São eles quem protegem seu povo na vida e na morte assim como no seu bem estar, estabelecendo a ligação entre os Dinkas e os deuses.
As perguntas cotidianas como “quem roubou minha lança?", ou "será que vai chover?", são respondidas através de sacrifícios feitos pelos mestres lanceiros.
Um voluntário entra em transe, frequentemente auxiliado por alguma erva alucinógena, sendo então possuído pelos deuses-espíritos.
Após um doloroso êxtase resultante do transe, os resultados são interpretados pelo mestre lanceiro, e confiado ao povo em assembleia, para ser trabalhado posteriormente com a oferenda de mais sacrifícios para que todo o distúrbio seja esclarecido e para que o mundo Dinka volte à normalidade.
Como ninguém ousa questionar os resultados, essa se torna mais uma vitória para o mestre que reafirma assim o seu poder de sugestão.
Quando a venerada existência do mestre lanceiro chega ao seu declínio, ele ainda dá o seu ultimo conselho antes de ser enterrado vivo.
Além dos senhores da lança e da pesca, também os anciãos importantes, os fazedores de chuva, os feiticeiros, são enterrados em vida logo que revelem sinais de fraqueza. 
Eles participam voluntariamente, e com orgulho, do seu próprio enterro.


Casamento


Membros da tribo dos Dinka sudaneses, da qual saíram vários dos homens mais altos do planeta, os dois primos chamam a atenção de todos os especialistas.
São frequentes os casamentos entre parentes. 
Este segundo fator é comprovado com o exemplo dos pigmeus da África, Índia e Melanésia, que, desde a sua descoberta, no século XVI, continuam com a altura média de 1,37 m. 
É que eles não se misturam com outras tribos, permanecendo no mesmo impasse vivido ao contrário pelas tribos Dinkas e dos shilluks: com altura média de 1,80 m há séculos.
Nos rituais de casamento, após meses de preparação onde os moços e moças são separados e precisam cumprir atividades que prove que estão aptos a casar, (os rapazes cuidam do gado) a aldeia toda se reúne as mulheres e homens casados vestidos, os solteiros e solteiras se cobrem apenas de um corsete, em grande euforia dançam, os rapazes dão saltos e requebram as moças com os braços estendidos para trás, enfatizando seu peito requebram os quadris, toda a aldeia dança em euforia num grande círculo comemorando a nova passagem dos jovens á vida adulta.
A maior posse além do gado para o homem Dinka é o seu intrincado corsete de contas. 
É uma faixa costurada no torso e usada até o casamento. O comprimento do fecho de arame nas costas indica a proveniência do noivo.
Quanto maior for essa faixa, mais rica em cabeças de gado será a sua família.


Raízes negras no México


Com 4 metros de altura, corpo robusto e pele escura, ele empunha um machado gigante no alto de um pedestal enfeitado com canas-de-açúcar de metal. Chama-se Yanga, o escravo negro que liderou uma revolta no século 17. 
Hoje, Yanga dá as boas-vindas a quem chega à cidade, que leva o seu nome, nas montanhas de Veracruz. A lenda conta que ele era um príncipe Dinka do Alto Nilo. 
Certa vez, para dar provas de sua valentia, lutou sem armas contra um leão. 
No entanto, estudiosos da escravidão africana nas Américas sustentam que Yanga provavelmente nasceu onde hoje é o Gabão, na África ocidental, tendo sido levado para o México logo que teve início o tráfico de escravos para o país. 
Destinado às plantações de cana-de-açúcar que até hoje fazem parte do cenário da região, o escravo rebelde ganha as matas em busca da liberdade, junto com outros "cimarrones" (quilombolas), indo se refugiar no monte Citlaltépec, o pico mais alto do México.


Guerras e repatriação


50.000 Dinkas cristãos que ha 20 anos atrás, se refugiaram na região de Darfur, hoje em guerra, agora querem voltar.
A guerra civil eclodida em 2003 levou à fuga grande parte dos habitantes da região, e embora atualmente haja a presença de uma missão de observadores da União Africana, a violência continua. 
Os Dinka tinham-se refugiado em Darfur por causa da guerra civil que dominava a região do Sul, mas hoje encontram um novo conflito, no local para onde fugiram. 
Seus habitantes procuram refúgio perto dos poucos centros urbanos que contam com a presença de representantes do governo, que os milicianos a cavalo hesitam em atacar. 
Darfur está num estado de grande desolação, pois a maior parte das aldeias foram destruídas. 
Atualmente uma das maiores tarefas é repatriar os Dinka, originários do sul do Sudão, para a sua região de origem. 
O projeto de repatriação é organizado pela Caritas holandesa e prevê, entre outras coisas, a construção de poços ao lado das estradas utilizadas pelos refugiados no seu regresso a casa.
Preço da liberdade 
Organização cristã suíça entra no mercado de escravos do Sudão e paga para libertá-los. 
Na aridez do deserto africano, mulheres e crianças da tribo Dinka esperam acorrentadas, o mercador contar as notas. 
O homem branco aproxima-se dos 1.050 seres humanos que acaba de comprar por US$ 52 mil e diz: "Vocês estão livres!" 
Não se trata de ficção nem de História Antiga. A compra foi registrada em janeiro deste ano no norte do Sudão. 
O comprador era o americano John Eibner. Ele trabalha para a CSI (Christian Solidarity International), organização suíça que ajuda cristãos perseguidos pelo mundo. 
A CSI compra escravos para alforriar desde 1995. Já libertou 7.500, apesar da oposição de várias organizações de direitos humanos, para as quais o pagamento de dinheiro a mercadores só faz alimentar o tráfico. 
A UNICEF, organização da ONU para a defesa das crianças, considera "intolerável" a CSI pagar por um ser humano. 
Mas a própria UNICEF é acusada de, para preservar programas assistenciais que desenvolve com o governo sudanês, ter ignorado a existência de escravos no país. 
O Sudão está atolado numa guerra civil em que já morreram 2 milhões de pessoas. 
O norte, muçulmano, tenta subjugar as populações cristãs e animistas, majoritárias no sul do país.
Entre os horrores da guerra, o tráfico é apenas mais um. Paramilitares, supostamente com o aval do governo, saqueiam vilarejos do sul e sequestram os moradores para revendê-los aos fazendeiros do norte. 
O preço médio de um escravo equivale a US$ 50, mas crianças de 6 a 10 anos custam até US$ 130. Os escravos dormem em estábulos e trabalham do nascer ao pôr-do-sol no campo. 
Muitas meninas são violentadas e todas sofrem mutilação genital. 
Várias escravas tornam-se concubinas de seus senhores. Os garotos recebem nomes muçulmanos e são forçados a frequentar escolas onde estudam árabe e o Corão. 
A violência chega ao ponto de transformá-los em soldados e obrigá-los a lutar contra seu próprio povo na guerra civil ou ao lado de combatentes muçulmanos em lugares tão distantes quanto o Afeganistão. 
A escravidão existe no Sudão há séculos. Não começou com a chegada dos compradores da CSI e, se é claro que não vai acabar graças à militância dessa organização, ao menos deixou de ser um segredo muito bem guardado pelo governo sudanês.


Categorias de criadores de gado


Um pastor é um criador de gado que opera predominantemente num sistema de produção extensivo em pastagens naturais e pântanos e que se baseia até certo ponto na mobilidade. 
Os grupos pastoris incluem nômades, transumantes e semi-transumantes. 
Um nômade tem grande mobilidade, mas não regressa necessariamente a uma "base" todos os anos, e não pratica agricultura. Por exemplo, os Tubu do Saara. 
Um transumante tem grande mobilidade, mas desloca-se entre bases sazonais definitivas todos os anos. Por exemplo, os Samburu do Quénia, os Bororo no Níger. Pode realizar uma forma de agricultura não sedentária. Por exemplo, os Zaghana do Chade.
Um semi transumante vive numa base, mas uma parte da família e do gado desloca-se sazonalmente, e o resto é sedentário numa das bases sazonais, praticando a agricultura. Por exemplo, os Dinka do Sudão.


Uma historia hedionda


Damare foi capturado por soldados Islâmicos quando a sua aldeia sudanesa foi atacada. Apenas com sete anos de idade, ele foi vendido como escravo a uma família de estranhos.
Tornou-se tratador de camelos mesmo não sabendo como o fazer, e o seu dono empurrava-lhe essa aprendizagem através de espancamentos. 
Um dia um camelo fugiu. Damare foi ameaçado de morte pelo seu amo, devido ao seu erro, mas algo evitou que isso acontecesse. 
No dia seguinte, sabendo que Damare tinha saído para ir assistir ao culto da igreja Cristã da aldeia, saiu determinado em castigar o rapaz.
O dono encontrou uma tábua grande, vários pregos enferrujados e um martelo e arrastou Damare para os arredores do recinto. 
Ali estendeu as pernas de Damare sobre a tábua e enfiou os pregos sobre os seus joelhos e pés. Depois foi-se embora deixando o rapaz no campo a gritar de dor.
Um homem que passava pelo caminho ouviu os gritos de Damare, entrou no recinto e levou-o nos braços para o hospital onde lhe foram retirados a tábua e os pregos.
Um ano e meio depois, Damare e o homem que o salvara, foram à sua aldeia que tinha sido atacada; após o qual os dois separaram-se. Uma força de defesa tinha repelido os soldados islâmicos.
Damare viu-se sozinho, contudo um dos comandantes apercebeu-se de que ele era da tribo Dinka e acolheu-o no seu acampamento. Depois de ter ouvido a sua trágica história, ele tentou encontrar qualquer parente de Damare. 
Sem sucesso, o comandante adotou o pequeno ex-tratador de camelos.
Hoje Damare tem 17 anos e vive em Mario Kong. Não consegue correr tão rápido como os outros rapazes, mas diz que perdoou o homem que pregou as suas pernas à tábua. 
Ele sabe que Jesus foi pregado numa cruz para que todos os pecados mortais fossem perdoados.


Foto de Carol Beckwith e Angela Fisher
da BBC Brasil


As fotógrafas Beckwith e Fisher realizaram um autêntico trabalho antropológico durante os trinta anos que levaram fotografando as cerimônias da África. 
Aproveitando a desvantagem aparente de sua condição feminina e graças à sua adversidade, conseguiram ganhar a confiança dos homens e mulheres das diversas tribos que visitaram, aceitando registrar sua vida cotidiana e seu mundo espiritual de uma maneira que nenhum homem conseguiu antes.