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sábado, 29 de outubro de 2011

Sacerdote em transe num centro de vodu - Togo

Esse sacerdote é o intermediário entre a divindade e o paciente num centro de vodu em Togo, . O estagio mais alto para um adepto do vodu é sua completa entrega ao espirito de uma determinada divindade.
Quando o religioso entra em êxtase, seu corpo é possuído pelo deus, que vem agir e falar através desse individuo.
No Togo, metade da população praticam as religiões tradicionais da qual o vodu é de longe a mais frequentada, tendo aproximadamente dois milhões e meio de adeptos.
Os vodus são divindades de origem Fon que correspondem aos orixás dos nagôs. Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado em rica, complexa e elevada mitologia.

Santos vodus e ancestrais

Nas comunidades tradicionais do culto vodu no Togo, Gana e Benin, na região Ouatchi (região cultural do culto vodu que compreende Gana, Togo e Benin), prevalece a influência desses vodus na vida dos indivíduos e das comunidades.
Dã, representado pela serpente de fogo, caracteriza-se com tudo o que dá vida e é simbolizado pelo arco-íris;
Legba é o vodu do imprevisível, da liberdade, do movimento, dos meios de comunicação entre os homens e Deus.
Não é por acaso que a solidariedade é a ação que liga vodus e ancestrais aos homens.
Eles se completam e não podem existir sem a indispensável ajuda mútua. É através das orações e dos sacrifícios que os homens (indivíduos ou comunidades) dão força aos seus vodus, recebendo deles, em troca, a intercessão e a proteção, reafirmando assim a tradição africana de que os mortos vivem com os vivos.
Uma relação de amizade une o vodu Heviosso ao vodu Dã.
Dã acompanha, frequentemente, Heviosso em sua missão pelo "mundo". Dã, na sua forma de arco-íris, enfrenta constantemente a voz (ação) gaiata e zombadora de Heviosso que se manifesta nas tempestades.
Dã se mistura aos raios, aos relâmpagos, às trovoadas (às vezes tomando forma de "serpente de fogo"), a fim de acalmar a ira do vodu do trovão e evitar que a intemperança de Heviosso venha atingir a terra e os homens.
Após ter conseguido sua missão, ele aparece na calmaria como arco-íris, símbolo do vodu da paz.
Dã é também uma força, um princípio espiritual, como a ideia da vida e do movimento, da água corrente, da fumaça e das ervas que ondulam.
Dã e So são nomes dados a dois irmãos nascidos depois de um parto de gêmeos, razão de serem chamados nas comunidades ewés também de Dotse e Dosu. Dotse é o nome do mais moço.
A colaboração e semelhança entre eles é bastante forte, eles se parecem muito, "encontrando um deles no caminho não é fácil distinguir quem é quem".
Eles, frequentemente, recebem outro nome: Dossu e Avlekete. Tem-se dificuldade de saber se se trata do mesmo vodu ou de outro.
O nome Dossu é atribuído por causa do seu temperamento zangado e o de Avlekete por causa da agitação dos seus fiéis durante as grandes cerimônias.
Legba é o guardião, o mensageiro e, por vezes, considerado um soldado incansável que acompanha sempre Afã e os demais vodus nas suas missões.
É ele quem faz aplicar as decisões dos vodus e de Afã. É, por vezes, um servidor fiel e muito interesseiro.
É consciente da importância do seu papel como "procurador" incansável! Astucioso e malicioso, ele quer ter sempre razão!
Afã e os outros vodus o têm como confidente indispensável. É ele quem tem "que se virar" nos pequenos serviços e deve resolver os problemas de ordem prática que aparecem na hora das cerimônias públicas ou privadas.
Às vezes, parece que ele é o verdadeiro mestre do mundo, o verdadeiro dominador da situação porque sem ele, nada seria possível: o caos e a confusão invadiriam o mundo!
O símbolo comum de Legba é o cachorro. Ele é o guarda por excelência, que se vê a todo instante em torno de seu mestre, dentro do "terreiro", na porta de entrada do "convento" e do quarto do vodu, no meio do quintal e da Floresta Sagrada.
Se uma oferenda ou um sacrifício for apresentado a um vodu, Legba terá a sua parte. Legba não é o governador do mundo, mas é, sem dúvida, o "braço de ferro" sempre atento para que a lei moral e os preceitos religiosos sejam perfeitamente observados.
No Benin, Togo e Gana, principalmente em Uidá, é comum a presença de divindades com essas características descritas acima.
A praça principal, onde se encontram o Seminário e a Catedral católica, é dedicada a Dã. Ali, o vodu cultuado se manifesta como uma "serpente de fogo".
Uma grande árvore no centro da Floresta Sagrada é a habitação mística dos ancestrais da cultura vodu nacional.
Para anunciar, advertir sobre as ameaças das pestes, das guerras, da esterilidade, das mortes e os perigos naturais, tais como: secas, enchentes etc.
Os rituais e sacrifícios são feitos para acalmar a "ira", o descontentamento dos ancestrais, vodus, mortos e divindades históricas.
Esses mascarados não podem ser tocados e nem tão pouco se aproximar das pessoas, pois eles, na sua maioria, absorveram sobre si as mazelas que ameaçam a vida, como é o caso das epidemias de varíola, de febres, esterilidade, morte infantil e juvenil.
Debaixo da indumentária se esconde um corpo chagado e desfigurado pelas pestes e epidemias. Só os cantos, as danças, os rituais e os sacrifícios revelam a sua verdadeira identidade.
Origens históricas
A norte do Togo, a uns trinta e cinco quilômetros de Sokode, no distrito conhecido como Tchamba, existe uma mistura multiétnica de vários grupos Fulani, conhecidos como Tchamba (Xambá).
Esses distritos rurais consistem em numerosas cidades e vilarejos compreendendo Kri-Kri, Kambole, Dantcho e Kousoutou alguns de seus principais centros.
Diversos autores apontam o povo Xambá ou Tchambá, como povos que habitavam a região ao norte dos Ashanti e limites da Nigéria com Camarões, nos montes Adamaua, vale do rio Benué.
Existem várias famílias com esse nome, nos Camarões, tendo inclusive participado nas lutas pela independência daquele país.
O espírito ancestral desses numerosos grupos Fulani vem das linhagens Ewe, Mina e Quatchi, clãs ao sul de Togo, porque muitas mulheres Fulani que saíram do norte em busca de trabalho ao sul são praticamente escravizadas por algumas famílias Ewe que frequentemente não pagam pelos seus serviços.


Foto de Carol Beckwith e Angela Fisher


As fotógrafas Beckwith e Fisher realizaram um autêntico trabalho antropológico durante os trinta anos que levaram fotografando as cerimônias da África. 
Aproveitando a desvantagem aparente de sua condição feminina e graças à sua adversidade, conseguiram ganhar a confiança dos homens e mulheres das diversas tribos que visitaram, aceitando registrar sua vida cotidiana e seu mundo espiritual de uma maneira que nenhum homem conseguiu antes.