Usando essas saias esvoaçantes e cobertos por talismãs de couro, os Gardi são os exuberantes dançarinos Hauçá.
Nessa cerimonia eles rodopiam em procissão pelo caminho de Sallah, abrindo caminho para a passagem do Emir.
Os dançarinos pulam e giram sem parar, parecendo pequenos tufões, atraindo a atenção da plateia durante sua passagem.
Suas calças volumosas se enchem de ar e estufam como balões conforme eles dançam.
Etnia Hauçá
Há três grupos étnicos principais na Nigéria: os hauçás, os povos de língua ioruba e os povos de língua ibo.
Os hauçás são os mais numerosos e vivem no extremo norte, integrados aos fulani, que conquistaram a região dos hauçás no começo do século XIX.
Consistem de vários grupos que vivem na savana ao norte da dispersos entre o Níger meridional, Nigéria setentrional e uma pequena parte no Tchad.
Hauçá significa língua leste em Songai, e também o povo que vive à margem esquerda do Niger.
De origem sudanesa e influência berbere, o clã dos Hauçás é de linhagem patriarcal.
São basicamente granjeiros ou criadores de gado, vivendo em cidades e povoados distantes, dependendo de camelos para o seu transporte e comércio.
Converteram-se ao islamismo no século XI.
Os antigos Hauçás formavam várias cidades-estados poderosas e centralizadas, cuja influência foi aumentando devido ao controle das rotas comerciais que atravessavam o Saara.
Viviam em pequenas comunidades agrícolas, aldeolas formadas por grupos de famílias com roças contíguas.
Eram localizadas convenientemente próximas a rios, regatos, fontes ou lençóis de água subterrâneos, numa região de pouca chuva, fator que favoreceu a rápida sua expansão.
Os vilarejos garis foram crescendo rapidamente por abrigarem novos imigrantes e consolidarem um refúgio seguro contra os ataques dos inimigos. Quando um se sobressaia, colocava o outro sob seu controle.
Mais tarde se tornaram cidades-estado.
Como consequência, dominaram o comercio transaariano junto aos árabes.
Ainda hoje conservam suas tradições mercantis e artesanais, sobretudo na confecção de máscaras e estátuas e na pintura que ornamenta suas casas.
A civilização hauçá começou a ser construída por volta do século XI. Habituados ao comércio internacional, os Hauçás aceitavam conviver com pessoas de outras nações.
A cultura Hauçá é fortemente ligada ao islã o que torna difícil a penetração do Evangelho.
Eles são bastante reservados em relação aos cristãos que vivem ao sul da Nigéria havendo forte perseguição aos Hauçás que se cristianizaram.
Historia do Povo Hauçá
De acordo com os mitos de origem, os Hauçá vieram do leste trazidos por seu líder Bayajidda, que pretendia escapar da influencia de seu pai.
Chegando a Gaya, empregou ferreiros para forjar sua famosa adaga.
Prosseguindo até Daura, onde libertou esse povo de uma serpente sagrada e opressora (seria Dan?) que guardava seu poço impedindo-os de buscarem água seis dias por semana.
Por este feito, a rainha de Daura casou-se com ele, dando a luz a sete filhos que governaram as cidades estado que formavam o império Hauçá.
O apogeu desses estados ocorreu entre 500 e 700 DC, mas o controle sobre a região só aconteceu após o ano 1200.
A história desse território está ligada a do Islã e dos povos Fulani, que detinham poder politico sobre os Hauçás desde 1800 numa série de guerras sagradas.
Desde o inicio do seu reino, as cidades estado dividiam sua produção e trabalho de acordo com os recursos naturais.
As cidades de Kano e Rano eram conhecidas por "donas do índigo".
O algodão desenvolvia-se bem nessas planícies, o que favoreceu torna-los os principais fabricantes desses tecidos tintos de índigo, vendidos por toda a região.
No início do século passado foram conquistados pelos fulanis em uma 'jihad' (guerra santa) e desde então se encontram sob o domínio de Shokotô.
Língua Hauçá
Os Hauçás eram diversos povos que falavam uma língua semelhante.
A língua Hauçá ou Hauçá, como é conhecida no Brasil, não é apenas uma língua convencionalmente estudada pelos europeus e mais ou menos literária.
O Hauçá, cujos dialetos são numerosos, se escreve Hovelacque, é o principal idioma falado no Sudão.
Nenhum outro idioma da África Central é tão difundido como o Hauçá.
Seu território, ao sudeste do Sonrai, entre o Niger e o país de Bornu, é muito extenso.
É a língua comercial da África Central.
A nação Hauçá propagou a sua língua tanto pelos seus mercadores quanto por seus escravos.
Os servos Hauçás ensinavam o seu idioma, político por excelência, a seus senhores, em países onde eram escravizados.
Hauçá merece, com efeito, um dos primeiros lugares entre as línguas da África, pela sua bela sonoridade, pela riqueza do seu vocabulário, pela simplicidade de sua estrutura gramatical, e o equilíbrio gracioso das frases.
Não é fácil compreender como uma língua, assim dotada, pudesse ter sido suplantada no Brasil pelo Nagô na preferência para língua geral dos escravos negros.
Foto de Carol Beckwith e Angela Fisher
As fotógrafas Beckwith e Fisher realizaram um autêntico trabalho antropológico durante os trinta anos que levaram fotografando as cerimônias da África.
Aproveitando a desvantagem aparente de sua condição feminina e graças à sua adversidade, conseguiram ganhar a confiança dos homens e mulheres das diversas tribos que visitaram, aceitando registrar sua vida cotidiana e seu mundo espiritual de uma maneira que nenhum homem conseguiu antes.