No passado, muitos iorubás usavam essas marcas para identificarem suas famílias, linhagens ou subgrupos étnicos.
As mesmas marcas que adornam o rosto são representadas nas estatuas, nas mascaras ancestrais, relacionando os mortos com os vivos e o humano com o divino.
Segundo a tradição iorubá, é Ogum, deus do ferro, que está relacionado com as artes cirúrgicas como circuncisão, as marcas faciais e tatuagens.
Essas marcas faciais chamam-se ila, e estão separadas em duas categorias, ila-idile (as marcas de linhagem) e ila-ara (tatuagens decorativas). O sacerdote cirurgião encarregado dessa arte chama-se olola.
Para os iorubas, cortar é um ato de civilização, seja abrindo a floresta para construir uma cidade como marcando o rosto de uma criança para torna-la um cidadão ioruba.
A escarificação nas culturas africanas
Dentre as qualidades formais encontradas nas esculturas africanas, as escarificações e os penteados, são normalmente estilizados, e constituem um componente de importância estética e cultural.
Entre os iorubás ha um verdadeiro código representado pelos diversos tipos de escarificações encontradas nos rostos humanos e nas esculturas.
Não são apenas qualidades estéticas, mas são também funcionais por indicarem as linhagens familiares.
O critério de propriedade é um fator significante na arte da escarificação.
A escarificação é apropriada apenas para a figura humana e não para objetos de cerâmica, apesar de alguns padrões e formas serem evocados nesta arte.
A escarificação como atividade cultural, é amplamente utilizada em toda África.
Consiste essencialmente na pratica de fazer incisões com um instrumento afiado, (como facas, vidro, pedras, ou mesmo uma casca de côco), de maneira a desenhar uma cicatriz em varias partes do corpo humano.
A cicatrização é uma forma especial de escarificação, para obter-se um relevo permanente, por um lanho feito com algum instrumento de corte afiado sobre a pele e aplicando-se algum liquido vegetal caustico.
Frequentemente se utilizam pigmentos escuros como fuligem e pólvora esfregados contra a pele para criar algum destaque.
Quando os cortes cicatrizam, formam cicatrizes em relevo, conhecidas como queloides.
Os padrões mais complexos de escarificações encontrados são encontrados no Congo entre as tribos Akan, na África ocidental.
É um procedimento doloroso e longo, além de constituir uma modificação permanente do corpo.
Sua função é de transmitir informações complexas sobre a identidade e o status social do individuo.
Essas marcas enfatizam, papeis sociais, políticos e religiosos.
As escarificações faciais na África ocidental são usadas também para expressar beleza.
É utilizada em jovens para marcar os estágios da vida, como puberdade, casamento etc.
Podem tornar as jovens mais atraentes aos homens, e por isso apreciadas tanto por seu toque agradável como pela aparência.
Mas também testemunham a coragem que a futura mãe é capaz de aguentar dores como a do parto.
Entre as mulheres do povo Tiv da Nigéria essas marcas salientes são encaradas como sinais de vitalidade sexual e, portanto de fertilidade.
São consideradas eróticas devido ao relevo por provocarem sensações quando os corpos se tocam.
Essa arte está se extinguindo na África atual, e são raras as pessoas que usam, sendo vistas mais frequentemente entre os anciãos.
A escarificação pode ser encarada como uma marca entre os vários estágios da vida, como uma distinção cultural ou como um diferenciador entre o ser bruto e o civilizado.
Distinguem o corpo humano civilizado e socializado daquele em estado natural e dos animais.
Por Helen Coleman - Novembro de 2002