Seguidores

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vermelho, a cor dos reis- Povo de Edo - Nigéria

O povo de Edo se autodenomina ovbiedo, filhos de Edo.
É conhecido pelos estrangeiros como Benin ou Bini, nome com que os europeus designaram tanto o povo quanto o seu idioma.
O reino do Benin ou reino de Edo situava-se no sul da Nigéria, a leste do pais Ioruba e a oeste do rio Niger.
Era povoado por diversos povos que falavam diferentes dialetos do idioma Edo.
Benin é um dos estados da Nigéria, e já esteve submetido à obediência do rei da cidade-estado de Ife.
Nos arredores da Cidade de Benim permanece a ruina de um complexo extraordinário de muros de mais de 8 metros de altura e 14 quilômetros de comprimento, que já fizeram parte das muralhas do antigo povoado antes do estado converter-se na capital deste reino.
O reino foi fundado nos séculos XII e XIII.
Até sua fundação, essa região densamente arborizada, estava dividida em pequenos feudos que lutavam entre si ate sua unificação no ano 1300.
De acordo com a tradição oral, na unificação os diversos chefes entronizaram a Oranyan (Oranmiyan) o rei de Ifé, como seu monarca.
Ele permaneceu um curto período na cidade de Benis, tempo suficiente para gerar um filho com a filha de um chefe local.
Seu filho Eeweka, foi considerado o primeiro rei do Benim.
Alguns historiadores sugerem que esta lenda pode ocultar o fato de que Benin estava dominada por estrangeiros.
Durante o século XV, o Oba Ewuare aumentou seu poder fazendo reformas importantes.
Tentou reduzir a influencia do uzama, um corpo de chefes hereditários que participavam na eleição do oba, instituindo o caráter hereditário do rei através de seu filho primogênito.
Além disso, tentou encontrar um contrapeso político ao uzama criando novas categorias de chefes, os "chefes do palácio" e "chefes do povo" que eram nomeados por ele.
Ewuare construiu um sistema monumental de muralhas e fossos ao redor da cidade de Benin.
Aumentou grandemente o território sob comando de Benim.
Com a chegada dos marinheiros portugueses, o Oba Esigie, que governou entre 1504 y 1550, estabeleceu relações comerciais benéficas e estáveis.
Dizem que aprendeu a falar e ler em português.
Os obas estabeleceram o monopólio real sobre o comercio da pimenta e do marfim, com os europeus.
Benim converteu-se num importante centro exportador de tecidos para outros países africanos.

Religião

Foi nesse terreno onde aconteceram as maiores mudanças.
Ate o inicio do século XX, a grande maioria dos Edos praticava a religião tradicional de seus antepassados mantida desde o seu fundador Igodo no ano 601 DC.
Essa religião tinha como entidade suprema Osanobua, e desenvolveu o culto a outros deuses menores na forma de culto aos antepassados.
Ao longo de todo esse século o cristianismo e o islamismo foram catequisando a maior parte da população Edo, que apear disso continuavam seguindo suas tradições numa espécie de sincretismo religioso.
Mas a influencia nociva dessas religiões manifestou-se na forma com que foram introduzidas, mostrando o desprezo pela cultura local, quando não hostilidade, o que fazia com que seus novos adeptos seguissem posturas similares perdendo paulatinamente a sua identidade.

Ogum

“Eu (Odia Ofeimun) tive a liberdade de escolher o tópico dessa conferência”. Escolhi por vontade própria falar da minha pesquisa sobre Ogum, o deus do ferro e da guerra, das estradas e da criatividade.
A escolha foi feita como uma forma de resgatar uma descoberta que pode surpreender muitas pessoas: a de que existe uma relação, ou melhor, um sincronismo entre Ogum Eware, o rei de Edo no século XV (1440-1485) e Ogum, o deus do ferro, que apesar do cristianismo e do islamismo, ainda é cultuado através de todo o sul da Nigéria, a costa ocidental da África e a diáspora Africana, Índias Orientais e América".
Ogum foi um descendente de Oramiyan. Um príncipe exilado fazendo visitas secretas intermitentes na sua futura capital, viajou por todos os lados da Nigéria, Daomé, Gana, Guiné, e Congo, o que explica muitas de suas inovações trazidas para o Benim quando finalmente tornou-se rei.
Mas para subir ao trono ele teve que lutar e trapacear o seu irmão mais novo que havia lhe usurpado o trono.
Como represália por ter sido banido da cidade e fazer com que o povo se arrependesse por aclamar um usurpador, ele queimou toda a cidade, causando uma grande conflagração que durou dois dias e noites como vingança.
Entretanto ele reconstruiu a cidade, pavimentando as ruas, fato que foi muito admirado por um viajante português que muitos séculos depois, visitou o Benim em 1472.
De acordo com Egharevba:" Foi ele quem construiu a maior parte das muralhas e fossos em volta da cidade enterrando seus poderosos fetiches, nos nove portões de acesso para neutralizar qualquer dano a seus súditos".
De fato, “o vilarejo progrediu e ganhou importância conquistando o nome de cidade durante seu reinado".
Ele renomeou a cidade com o nome de Edo, a cidade do amor, no lugar de Ole-Ibinu, a cidade das brigas.
Esse novo nome Edo pertencia a um escravo que lhe deu uma escada para escapar de um poço seco onde ele havia se escondido por um sacerdote de Ifa, delatando-o e revelando seu esconderijo para os chefes da cidade.
Na noite em que escapou ele se deparou com outros perigos, matou um leopardo e uma cobra e plantou uma árvore no local para comemorar.
Esse fato foi sempre lembrado nas celebrações anuais com a tradicional matança de um leopardo, contudo seus sucessores alteraram a oferenda pelo sacrifício de cachorros, que são mais fáceis de encontrar e por isso chamados de carne de Ogum.
Ele criou um reino com autoridade centralizada atenuando o sistema de sucessão, controlado pelos anciãos da cidade, segmentando assim os poderes e submetendo os chefes a seu comando.
Assim cada homem adulto tornava-se um homem do rei e cada mulher adulta uma esposa do rei.
Ele criou o (ekohae), "campo de solteiros", um exercito do rei, no qual todo rei deve permanecer antes de sua coroação.
Uma das primeiras tarefas de seu governo foi buscar todos os magos dos distritos periféricos, afamados artesãos e homens que entendiam de assuntos universais, concentrando todos eles em sua cidade.
Reestruturou o sistema de produção, dividindo os artífices do reino pelas atividades que exerciam.
Ferreiros, fundidores de bronze e latão, tecelões etc.
O entalhe de madeira e de marfim tornou-se uma atividade importante no seu reinado.
Ele foi parcial com os ferreiros. Deviam ser capturados nas guerras, mas nunca mortos.
Sua influencia nos outros reinos foi muito difundida por essa conduta.
Ele era um inventor e musico, criou uma flauta chamada Eziken, e a orquestra real chamada Ema-Redo.
Introduziu os fios de contas reais e as roupas vermelhas (ododo), fato celebrado em sua mitologia.
É verdade que ficou conhecido pela historia como um destruidor de cidades, mas também como planejador e construtor.
Egharevba escreveu que "ele lutou e capturou 201 cidades e vilarejos em Ekiti, Ikare, Kukuruku, Eka, e no pais Ibo" a oeste do rio Niger.
Foi durante seu reinado que a influencia de Onitsha como um entreposto de cultura começou.
A influencia do império Edo através do cinturão sul da costa da guiné é aquilo que se conhece por Gana, geralmente creditada como consequência de sua lei autoritária.
Os Ga que hoje se conhecem por Gana, os Urhobo, os Esans e os Etsakos foram migrantes de sua lei tirânica, e seu decreto mais radical que baniu as relações sexuais na cidade por três anos pelo luto de duas princesas, uma das quais era a herdeira da coroa.
Por esse motivo ficou conhecido entre os Esans e Urhobos como Eware o perverso.
Esta também foi a origem de sua fama de ir para a guerra com recipientes cheios de sangue, esperma e vinho.
Isso é celebrado entre seus adoradores em Ire, entre os quais Eware se recolheu antes de tornar-se rei.
Após tornar-se rei, foi conclamado pelo povo para ajudar a expulsar os inimigos. A principio ele recusou a se envolver em suas intrigas, mas devido à pressão ele acabou intervindo.
Apos a derrota de seus inimigos, ele repetiu os feitos revolucionários que já havia usado no Benim.
Ele voltou-se contra a liderança de Ire e dizimou suas fileiras, colocando seus chefes no lugar.
Essa pode ser a fonte pela qual é conhecido por voltar-se contra seu próprio povo.
É fácil entender como Ogum entrou no panteão Ekiti como deus da guerra, diferentemente de sua função de “o divino complexo do ferro" como era considerado em Ife.
Normalmente o culto a Ogum no território ioruba, deve muito mais a versão dos ekitis cuja influencia do mito foi maior entre os Ijebu e Egba.
Talvez seja mais fácil de compreender porque o mito de origem de Ijebu-Ode apontado pelo povo é que Ifá advertiu aqueles que estavam saindo de Ife com Alafin Ogbolu, a migrarem com certos povos Ekiti.
De acordo com J.Olu Soriyan, autor de The Handbook of Ikenne History, uma autoridade no assunto, essa onda migratória moldou seu caminho em direção ao Benim, sua morada atual, em 1450.
Ogum Eware estava no trono.
Se ele se apoia tanto nos mitos de origem do povo, deve entender-se que esses temas são o sincretismo de todas essas migrações.
O que não deveria surpreender, pois Ogum Eware foi o senhor de todo o cinturão sul daquilo que hoje em dia é o sudoeste da Nigéria durante esse período.
Os Ajeles de Oyo, o domínio de Xangô, que logo foram deslocados pelos mercenários do exercito armado de Ijebu, os parakoyis, estava sustentando pelos membros do culto de Ogum Olokun.
Conforme aponta Belasco, as historias que apresentam Ogum como um agressor na maioria dos mitos iorubás, devem ser tomados como versões do primo dominador de Oyo, com quem tinham que estar em bons termos.

Fonte:
In search of Ogun
Soyinka, Nietzche and The Edo Century
By Odia Ofeimun