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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Timi de Ede em seu palácio diante do santuário de Xangô

O banimento de Xangô

Xangô governou Oyó num tempo em que os povos iorubas estavam em guerra.
Com sua força manteve a grandeza de Oyó, disseminando sua influência e obtendo o respeito dos obás de outas cidades, conseguindo fazer com que a paz reinasse novamente entre o povo ioruba.
Todavia ele manteve um rígido controle sobre seu povo.
Essas guerras produziram muitos heróis como de costume, e os mais famosos dentro deles foram Timi e Gbonka.
Seus nomes foram honrados e aclamados por toda parte, e com o tempo Xangô começou a ficar enciumado pelo amor com que o seu povo manifestava por eles.
Ele decidiu livrar-se desses dois heróis e começou a pensar num plano para fazer isso sem envergonhar seu nome.
Então, chamou Timi, que veio até Xangô acompanhado por uma multidão de admiradores.
"Você é um homem corajoso, e eu valorizo os serviços que você prestou para mim e para minha cidade" disse xangô.
"Por isso eu te peço para ir ate ede, e governar essa cidade em meu nome.
Ede não respeita nem a mim nem a Oyó, e ha muitos arruaceiros naquela cidade. Imponha ordem e torne-se o pai de Ede".
“Eu prometo que o povo de Ede ainda ira cantar louvores mais fortes do que qualquer um, a Oyó e Xangô, prometeu Timi”.
Voltando para casa juntou seus fetiches e talismãs, e suas setas flamejantes, partindo em direção a Ede.
Xangô regozijou certo de que Timi morreria na tentativa de tomar Ede.
Mas lamentavelmente soube-se que Timi e seus acompanhantes haviam derrotado o povo de Ede, tornando-se ainda mais respeitado do que antes.
Xangô irritou-se e finalmente resolveu chamar Gbonka.
Timi quebrou a promessa que me havia feito", disse Xangô.
"Ele prometeu que o povo de Ede cantaria louvores oara oyó, mas seu povo tornou-se ainda mais emproado e sem respeito".
Desafie Timi em meu nome e traga-o de volta para mim".
Gbonka entrou em desespero, e disse:
"Pai, não peça isso para mim, eu considero Timi como um irmão. Brigamos juntos, sangramos juntos e bebemos juntos.
Se eu desafiá-lo, um de nos deverá morrer, e o que viver será o assassino".
"Seu feitiço é mais poderoso" afirmou Xangô, apesar de concordar secretamente com as predições de Gbonka.
"E isso agradou Xangô, pois teria que lidar com um único herói importuno.
"Você certamente será capaz de derrotar Timi sem ter que mata-lo."
Muito bem disse Gbonka, farei assim como você diz."
Então voltando para casa, pegou seus fetiches e talismãs, um chifre de antílope e sua lança.
Deixou Oyó precedido por um alabê (musico) que cantou suas louvações.
As pessoas de Ede ouvindo a musica saíram de suas casas para ver quem se aproximava.
Ficaram estarrecidos diante de Gbonka, cujos fetos não eram menos famosos do que os de seu rei Timi.
Gbonka foi ate a casa de Timi e saudou-o.
"Fui enviado em nome de Xangô", disse.
"Ele quer que você volte comigo para Oyó."
Timi mexeu a cabeça e disse: “Sou o rei de Ede, e não posso abandonar o meu povo. Xangô enviou-me aqui para governar e não para visitar."
Os dois amigos discutiram, mas não chegaram a nenhum consenso. Qualquer compromisso deste tipo seria impossível.
"Então sinto muito, mas teremos que duelar agora" disse Gbonka.
Não menos aborrecido, Timi entrou em casa e pegou seus amuletos e seu arco.
"Não interfiram nessa questão", disse Timi a seus súditos. "Essa luta é entre nos, eu e meu amigo."
Os alabes louvaram os nomes de Gbonka e Timi.
Gbonka levantou-se, baixando sua lança e seu escudo, segurou seu chifre que continha Juju, o mais poderoso dos fetiches.
Em seguida entoou um poema que terminava assim:
"Quando uma criança dorme segura tudo o que estiver em suas mãos. Durma agora Timi, e dispare sua flecha flamejante com seu arco."
Timi caiu em um profundo sono conforme olhava para seu amigo Gbonka, que nem precisou usar sua lança.
Ao contrario, regozijou ao perceber que Xangô tinha razão ao dizer que esse duelo não haveria derramamento de sangue.
Ao voltar para Oyó, foi procurar Xangô.
"Eu trouxe Timi comigo, conforme o seu desejo."
Isso não agradou a Xangô, pois novamente deu-se conta que haviam dois heróis em Oyó.
A única coisa que lhe trouxe algum alento foi ao ver povo ridicularizar Timi, e chama-lo para o palácio.
"As coisas não procederam conforme eu havia antecipado" disse Xangô a Timi.
"Eu achei que você derrotaria Gbonka, o que seria justo, pois seu feitiço é maior do que o dele. Mas agora tanto o povo de Oyó quanto o de Ede, estão zombando de você.
Se quiser duelar novamente com Gbonka, eu garanto que toda a cidade irá testemunhar o seu triunfo."
"Sim eu lutarei novamente com ele e um de nós ira morrer", disse Timi, cuja vergonha havia superado seu amor por Gbonka.
Então Xangô enviou seus arautos, e na manhã seguinte os dois guerreiros depararam-se novamente em duelo.
Insultos e louvores encheram o ar.
Dessa vez, Timi mirou e disparou uma seta veloz e flamejante no coração de Gbonka.
Mas Gbonka apontou seu chifre contendo o feitiço para leste, e a flecha desviou-se de seu rumo.
Timi disparou outra flecha e desta vez gbonka mirou seu feitiço para oeste desviando a seta nesta direção.
Gbonka foi desviando repetidamente as flechas, e então cantou novamente aquele poema, fazendo com que Timi largasse as armas conforme o sono foi chegando.
Xangô ficou insatisfeito e chamou Gbonka para conversar.
"O duelo não foi decidido, uma vez que vocês continuam vivos"
Então Gbonka exortou Xangô, que havia forçado a humilhar seu amigo.
"Eu já lutei duas vezes, por seu capricho, e derrotei-o em ambas as lutas, contudo não consigo satisfazê-lo.
Se você insiste que um de nos morramos, então que assim seja. Vou duelar novamente e mata-lo. E então você ou eu será expulso de Oyó."
Os heróis lutaram uma terceira vez e Gbonka ativou seu feitiço fazendo com que Timi dormisse novamente.
Mas dessa vez, empunhou sua espada e cortou a cabeça de seu amigo.
"Está satisfeito agora?" gritou com desprezo atirando a cabeça de Timi no colo de Xangô.
Xangô não suportou esse insulto e ordenou que seus homens agarrassem Gbonka e amarrassem seus braços.
"Por seu desrespeito, você será executado," disse Xangô mandando acender uma fogueira.
Os guardas atiraram-no a fogueira, mas o fogo nem tocou seu corpo.
Apenas queimou as cordas que o amarravam saindo sem nenhuma queimadura das chamas.
O povo fugiu apavorado, todos menos Xangô e sua esposa Oyá.
Gbonka avançou sobre Xangô golpeando-o com seu chifre enfeitiçado.
"Eu estou banindo voce. Deixe Oyó nos próximos cinco dias e não volte nunca mais."
Xangô abriu sua boca e soprou fogo sobre Gbonka com nenhum resultado.
Ele percebeu então que não poderia derrotar Gbonka. As pessoas viraram suas costas para Xangô, e nos cinco dias seguintes, ele ouviu-os cantar louvores para Gbonka.
Naquela noite, Xangô levou Oya e saiu em direção a Nupe. Quanto mais se distanciavam, mais entravam em desespero.
Xangô não tolerou a humilhação de seu banimento e voltou-se para a floresta.
Quando Oyá foi procura-lo, encontrou sua machadinha dupla atirada no chão e Xangô enforcado.
Oyá saiu correndo para Oyó e gritando que Xangô havia se suicidado.
Um grupo de homens entrou na floresta, para garantir um enterro apropriado a Xangô. Pois Apesar dele ter sido banido, tinha sido o Oba da cidade.
Mas ao chegar ao local encontraram apenas o machado e a corda pendurada numa arvore de Ayan, mas nunca acharam o corpo de Xangô.
Os lideres de Oyó discutiram o mistério. Apesar de não haver evidencias físicas, decidiram que Oya havia falado a verdade.
"Oba so" diziam, o querendo dizer, o rei esta enforcado.
Mas nessa noite, uma grande tempestade abateu-se contra Oyo.
"Eu não estou enforcado!" proclamou a voz que vinha da escuridão.
"Eu voltei para o céu!"
"Oba Koso" gritava o povo aterrorizado, esperando ser poupado.
"O Oba não está enforcado!"
E conforme se prostraram diante da violência da tempestade, o céu começou a clarear.
Xangô ainda estava tomando conta da cidade, e caso alguém o desagradasse ele atiraria suas pedras de raio.
E se algum homem fosse atingido por um raio, seu corpo seria enterrado longe dos outros, pois seria considerado um inimigo de Xangô.
As pessoas fizeram sacrifícios nessa árvore de Ayan em homenagem a Xangô.
Oyá partiu novamente para Nupe.
Dessa vez, alcançou o rio que separava o pais Iorubá do pais Nupe.
"Como é que poderei viver no exilio, tendo sido a esposa do poderoso Xangô? Sou a mais infeliz das mulheres!"
Então Oyá entrou no rio, mas não saiu mais de lá. Seu espirito permanece nas águas, e o rio recebeu o seu nome.

Lenda transcrita por Megan Powell