Os Maracatus mais antigos do Carnaval do Recife, também
conhecidos como Maracatus de Baque Virado ou Maracatu Nação, nasceram da
tradição do Rei do Congo, implantada no Brasil pelos portugueses.
O mais remoto registro sobre Maracatu data de 1711, de
Olinda, e fala de uma instituição que compreendia um setor administrativo e
outra, festivo, com teatro, música e dança.
A parte falada foi sendo eliminada lentamente, resultando em
música e dança próprias para homenagear a coroação do rei: o Maracatu.
Parece que a palavra "maracatu" primeiro designou
um instrumento de percussão e, só depois, a dança que se dançava ao som deste
instrumento.
Os cronistas portugueses chamavam aos "infiéis" de
nação, nome que acabou sendo assumido pelo colonizado. Os próprios negros
passaram a autodenominar de nações a seus agrupamentos tribais.
As nações sobreviventes descendem de organizações de negros
deste tipo, e nos seus estandartes escrevem CCMM (Clube Carnavalesco Misto
Maracatu).
Para Mário de Andrade a origem da palavra maracatu é
americana: maracá=instrumento ameríndio de percussão; catu=bom, bonito em tupi;
marã=guerra, confusão. Marãcàtú, e depois maràcàtú valendo como guerra bonita,
isto é, reunindo o sentido festivo e o sentido guerreiro no mesmo termo.
Do Maracatu Nação participam entre 30 e 50 figuras.
Entre elas estão o Porta-Estandarte, trajado à Luís XV (como
nos clubes de frevo), que conduz o pavilhão e, ao seu lado, traz uma baliza ou
um ajudante.
Atrás, vêm as Damas do Paço, cinco ou dez delas, as de maior
importância no bailado, e que carregam as Calungas, que são bonecos de origem religiosa,
do Congo, reminiscência de cultos fetichistas.
A dança executada com as Calungas tem caráter religioso e é
obrigatória na porta das Igrejas, representando um "agrado" a Nossa
Senhora do Rosário e a São Benedito. Quando o Maracatu visita um terreiro
homenageia os Orixás.
Depois das Damas do Paço segue a corte: Duque e Duquesa,
Príncipe e Princesa, um Embaixador (nos Maracatus mais pobres o
Porta-estandarte vale como Embaixador).
A corte abre alas para o Rei e a Rainha, que trazem coroas
douradas e vestem mantos de veludo bordados e enfeitados com arminho. Nas mãos
trazem pequenas espadas e cetros reais.
O Rei é coberto por um grande pálio encimado por uma esfera
ou uma lua, transportado pelo Escravo que o gira entre suas mãos, lembrando o
movimento da Terra.
O uso deste tipo de guarda-sol é costume árabe, ainda hoje
presente em certas regiões africanas.
Alguns Maracatus incluem nesse trecho do cortejo também
meninos lanceiros, vestidos como guardas-romanos, com capacete de metal.
Outros, não dispensam a figura do Caboclo de Pena, que
representa o indígena brasileiro e tem coreografia complicadíssima.
Enquanto dança ao redor do cortejo, emite sons estranhos,
imitando pássaros selvagens, e produz estalos secos e rápidos com seu arco e
flecha.
A orquestra do Maracatu Nação é composta apenas por
instrumentos de percussão: vários tambores grandes (zabumbas), caixas e taróis,
ganzás e um gonguê (metalofone de uma ou duas campânulas, percutidas por uma
vareta de metal).
O Mestre de Toadas "puxa" os cantos, e o coro
responde. As baianas têm a responsabilidade de cantar, outras vezes, são os
caboclos, mas todos os dançarinos também podem participar.
Este Maracatu mais tradicional é chamado de Baque Virado
porque este termo é sinônimo de um dos "toques" característicos do
cortejo.
Os Maracatus de Baque Virado sempre começam em ritmo
compassado, que depois se acelera, embora jamais alcance um andamento muito
rápido.
Antes de se ouvir a corneta ou o clarim, que precedem o
estandarte da Nação, é a zoada do "baque" que anuncia, ao longe, a
chegada do Maracatu.
O Maracatu se distingue das outras danças dramáticas e das
danças negras em geral pela sua coreografia.
Há uma presença forte de uma origem mística na maneira com
que se dança o Maracatu, que lembra as danças do Candomblé baiano.
Balizas e Caboclos dançam todo o cortejo. Baianas e Damas do
Paço têm coreografias especiais. Todos os outros se movimentam mais
discretamente.
Caboclos e Guias fazem muitas acrobacias, que parecem com os
passos dos frevos de carnavalescos.
Mário de Andrade descreve a dança das baianas: embebedadas
pela percussão, dançam lentas, molengas, bamboleando levemente os quartos, num
passinho curto, quase inexistente, sem nenhuma figuração dos pés.
Os braços, as mãos é que se movem mais, ao contorcer
preguiçoso do torso.
Vão se erguendo, se abrem, sem nunca se estirarem
completamente no ombro, no cotovelo, no pulso, aproveitando as articulações com
delícia, para ondularem sempre.
Às vezes, o torso parece perder o equilíbrio e lerdamente
vai se inclinando para uma banda, e o braço desse lado se abaixa sempre também,
acrescentando com equilíbrio o seu valor de peso, ao passo que o outro se ergue
e peneira no ar numa circulação contínua e vagarenta...
Fonte: Nação do Maracatu Elefante, Recife - Pernambuco