Na sociedade
tradicional africana, as atividades humanas possuíam frequentemente um caráter
sagrado ou oculto, principalmente as atividades que consistiam em agir sobre a
matéria e transformá-la, uma vez que tudo é considerado vivo.
Toda função artesanal estava ligada a um conhecimento
esotérico transmitido de geração a geração. (...)
Antes de dar início ao trabalho, o tecelão deve tocar cada
peça do tear pronunciando palavras ou ladainhas correspondentes às forças da
vida que elas encarnam.
O vaivém dos pés, que sobem e descem para acionar os pedais,
lembra o ritmo original da Palavra Criadora, ligado ao dualismo de todas as
coisas e à lei dos ciclos.
Como se os pés dissessem:
Quando um sobe o outro desce.
A morte do rei e o coração do príncipe.
A morte do avô e o nascimento do neto.
Brigas de divórcio misturadas ao barulho de uma festa de
casamento.
Diz a navete:
Eu sou a Barca do Destino, o movimento, passo por entre os
recifes dos fios da trama, que representam a vida.
Do lado direito para o esquerdo e vice-versa. A vida é um
eterno vaivém.
A tira de tecido que se acumula e se enrola em um bastão
sobre o ventre do tecelão representa o passado, enquanto o rolo do fio a ser
tecido simboliza o mistério do amanhã, o desconhecido, o devir.