O Alaafin de Oyó - artigo da revista
inglesa Focus
Ele, o Alaafin do reino de Oyó,
Alaiyeluwa Oba (Dr.) Abdul Hameed Olayiwola Adeyemi III, é um monarca com
classe.
É um enigma para qualquer referência, e
a oportunidade de encontrá-lo é como uma aventura através de uma aula de
história.
Esse monarca essencialmente urbano, que
trabalhou como corretor de seguros antes de atender ao chamado natural dos
deuses, através do Oyomesi para subir ao trono de seus antepassados como
Alaafin do maior reino da historia da raça negra- O Reino de Oyó - é um homem
sempre à vontade consigo mesmo, e que exala confiança em todas as suas ações.
Uma das características brilhantes
desse grande monarca é o profundo conhecimento e precisão para recontar eventos
históricos com personagens e fatos; e com uma precisão que surpreende a
imaginação da jovem intelectualidade.
O Alaafin apesar de sua idade, ainda se
lembra de fatos ocorridos a mais de cem anos atrás, e ainda escreve seus
roteiros sem ajuda.
Ele é um leitor consumado que poderá
passar qualquer dia por um mestre de historia e arqueologia moderna e antiga.
Ele conversou recentemente com a equipe
editorial da Focus, em seu amplo palácio, de uma variada gama de assuntos,
concentrando-se principalmente na rica herança do reino de Oyó.
Sejam benvindos à essa excursão histórica!
Focus:
Kabiyesi nos gostaríamos que você
recontasse a história do famoso reino de Oyó para o proveito de suas crianças
na Diáspora.
Alaafin:
O velho Império de Oyó era formado por
uma das primeiras e provavelmente, a maior raça independente na África
ocidental, ao sul do equador. No auge de sua existência, o velho Império
dominava todos os reinos Iorubas como Ifé, Ijesha, Egba, Ijebu , Sabé e Owu. A
área ocupada pelo reino Ioruba no sudoeste da Nigéria esta contida
aproximadamente na latitude de 5 a 8 graus ao norte do equador e 5 a 21/2 graus
de longitude ao leste. Existem duas versões para a origem da raça Ioruba- a
migração e forma aborígine. Essas duas teorias não são necessariamente
contraditórias pelo fato de que nossa tradição oral foi trazida por povos
essencialmente estrangeiros.
Mas esse fenômeno é universal uma vez
que você pode ter ao mesmo tempo brancos na África do Sul; as Rodesias do sul e
do leste, convivendo juntas ha muito tempo. A mesma experiência esta registrada
no caso das migrações, pelas evidencias históricas e empíricas documentadas nas
famosas conferências das series Lugard, assim como nas pesquisas de Saburi
Biobaku (um historiador reverenciado mundialmente) que a raça Ioruba é tão
grande e espalhada, que ainda se considera nos dias hoje em dia como um dos
maiores e mais fortes impérios que já existiram, em todo continente africano.
O reino de Oranmiyan marcou uma nova
etapa na história Ioruba, por testemunhar a transferência do poder politico de Ilê
- Ifé para Oyó, e dai em diante Oyó tornou-se o centro politico da raça ioruba,
aonde governa o Alaafin.
De acordo com estudos históricos,
estima-se que o palácio de Oyó tenha tido uma área de aproximadamente 640 acres
de terra. Ainda temos escavações do velho Império de Oyó, e algumas das paredes
ainda estão de pé na sua forma original, durante todos esses séculos. Esse é um
grande testemunho da engenhosidade arquitetônica da raça Ioruba.
O velho império Ioruba distinguiu-se
dos demais por três motivos principais.
Primeiramente desenvolveu uma
Constituição magnífica, apesar de nunca ter sido escrita. O povo era governado
por uma forte cúpula.
Em segundo lugar os iorubas, desenvolveram
um sistema militar que lhes permitiu aperfeiçoar o material bélico. Os Iorubás
formam os primeiros ferreiros, construindo as primeiras fundições onde também
produziam implementos agrícolas para expandir a produção de alimentos.
Em terceiro lugar desenvolveram um método
bastante prático de administração, adotando um sistema de governo de gabinete.
Se você conhecer a historia da Constituição Britânica, ira perceber que o
sistema de gabinetes surgiu apenas como uma forma de expediente temporário, e
não por desígnio. Portanto, voltando ao século XVI, foi no velho Império de Oió
é que foi criado o sistema de governo por Gabinete. E do Primeiro Ministro ao Alaafin,
dos vários chefes de divisões, todas as camadas tem suas funções e
responsabilidades claramente definidas, e mantidas com separação de poderes,
fiscalização e balanço.
A estrutura do comando militar é tão excepcional,
que os Aare Ona Kakanfo, generalíssimos do poderio militar, tenham conduzido
com sucesso os senhores da guerra de Oyó nas muitas batalhas entre os séculos
XIII e XVI para preservar a integridade territorial da raça Ioruba.
Durante esse tempo, Oyó estendeu suas
fronteiras ate os limites de Nupe, Daomé, Abomé, Wema, e outras partes do Togo.
Esses povos são as atuais crias do grande reino Ioruba.
Focus:
Pode-se dizer que essas áreas anexadas
foram parte de um plano expansionista?
Alaafin:
Eu não vou dizer que seja. Mas veja você,
se estiver rodeado de vizinhos hostis, tem que estar vigilante. Treinamos nosso
exercito para defender todas as agressões externas, assim como para proteger a
nossa integridade territorial para termos paz e prosperidade econômica. E para
os Iorubas que são comerciantes natos, caminharem ate seus negócios sem
sentirem-se inseguros , enquanto houvesse um Alaafin governando, haveria
necessidade de espalhar nosso poderio militar para proteger nosso povo em toda
parte.
Quando o Daomé atacou a pequena província
de Wema em 774, os chefes reais refugiaram-se em Oyó para se proteger.
O Alaafin teve que organizar forças
para recapturar a cidade, e foi assim que naquele tempo, o Daomé ficou sob o
controle do Alaafin.
Isso não podia ser chamado de
expansionismo, e sim a resposta para a agressão por outras forças que ameaçavam
a existência das pequenas províncias. Se você ler nos livros de história, vai
perceber que a mera menção de “Alaafin ou Oyó” causava medo nas cidades
vizinhas.
Devido a sua rica história cultural,
politica, linguística e tradicional, ha muitas coisas que Oyó proporcionou para
a nação Ioruba. A língua que falamos é a autentica versão do dialeto Ioruba, os
tambores, as roupas que usamos, a maneira como construímos nossas casas, nossos
engenhosos sistemas de corredores, e nosso sistema de drenagem que foi criado
ha muitos séculos atrás. Pode-se dizer que a civilização se iniciou com a raça
Iorubana. Os iorubas estabeleceram contato com os portugueses nos idos do século
XVII, e o Alaafin manteve seu embaixador na corte de Portugal desde então.
Focus:
Kabiyesi, você disse que a civilização
começou aqui. Poder-se-ia dizer que os Iorubas eram Oyó e vice versa?
Alaafin:
Os Oyós não eram chamados originalmente
de iorubas. Outros grupos da raça ioruba se designaram naquele tempo, (séculos atrás)
como Egbas, Ijeshas e quaisquer nomes que preferissem. Mas no século XIX, não
havia mais motivo para forjar um terreno comum e ter um padrão linguístico,
portanto o dialeto Oyó foi adotado por todos Iorubas. Por isso os Iorubas são
Oyós na sua origem.
Focus:
Muitos jovens Iorubas acham que uma
cidade como Ilorin deveria estar sob o reino de Oyó. E recentemente alguns
chefes foram promovidos como chefes tradicionais mais conceituados. Qual é o
ponto de vista de Kabiyesi?
Alaafin:
Veja você, a agua vai sempre encontrar
o seu nível, e a história é muito potente, mesmo que tentemos faze-la submergir.
É como água e sangue, e você também sabe que sangue é mais denso que a água.
Ilorin foi sempre uma cidade Ioruba. Afonjá foi enviado como generalíssimo dos
soldados Iorubas, para proteger e aquele lado do reino de Oyó, da invasão dos
Fulani e dos Nupes.
Por algum motivo ele se tornou muito
ambicioso e convidou os grupos dissidentes para o seu campo, excluindo-se dos
grupos étnicos maiores. Percebendo que ele os havia traído, o contingente
ioruba organizou um golpe e o depôs.
A história de Ilorin está bem
documentada. Não ha lugar nenhum na África que você possa encontrar um Fulani
reclamando a posse de Ilorin. A língua, a cultura, nomenclatura, e mesmo as
tradições de Ilorin são Iorubas. Não ha disputa sobre esse fato empírico.
Focus:
Como é que vossa Majestade administra
esse amplo palácio? Recebe fundos do governo e por qual motivo esse palácio não
desenvolveu o status de atração turística?
Alaafin:
Bem, eu escrevi muitos memorandos para
o governo declarar esse palácio um monumento nacional. Primeiramente como a
principal atração turística e, além disso, para o povo. Podemos perceber de
longe ingenuidade arquitetônica do nosso povo, portanto todas essas coisas não
estão perdidas, para o beneficio das gerações atuais e vindouras.
Quando o professor Armstrong (um
americano) que foi o diretor do Instituto de Estudos Africanos de Ibadan, leu o
memorando, ele veio aqui. Eu o conduzi pelo palácio , e pelos subterrâneos que
permitem ao Alaafin circular sem ficar exposto aos raios de sol e a chuva. Ele
ficou maravilhado, e subsequentemente enviou um relatório para o Museu
Nacional, mas por conta da situação politica no pais naquela ocasião, não
resultou em nada.
Ate o momento os governos sucessivos
não se decidiram como vão fazer para preservar essa rica herança da raça
Ioruba. Transformar num monumento nacional ou numa atração turística, não
parece ser a prioridade no momento.
Sua outra pergunta, a administração e
manutenção do palácio tem sido tem ficado nas mãos dos funcionários que
trabalham nas divisões administrativas. E o estado paga o salário do Alaafin,
assim como as despesas do palácio. O Alaafin não tem necessidade de gastar seu
dinheiro para administrar o seu palácio, se assim quiser.
Mas como se pode notar o palácio é uma
mera sombra daquilo que foi no passado, nos tempos coloniais.
Focus:
Qual é o processo de ascendência ao
trono do Alaafin?
Alaafin:
Existem duas casas regentes principais,
que são reconhecidas para gerar um Alaafin. No processo de transferência de
poder de um Alaafin, a coroa é dada para a outra casa regente. O primeiro
Alaafin de Oyó, Oba Atiba, formou uma convenção constitucional dos Iorubas,
antes de falecer, para discutir o processo sucessório para que quando morresse
a questão sucessória não fosse interrompida. A conferência concordou que um
Aremo (príncipe coroado) que normalmente morreria junto com seu pai, não
seguisse mais essa antiga tradição. E se fosse capaz e valoroso pelos Oyomesi (os
fazedores de reis) para ser indicado como Alaafin, ele seria coroado. Outros
aspirantes ao trono, elegíveis e vistos pelos Oyomesi como qualificados para
carregar responsabilidades pesadas, seriam apontados para a regência.
Com a morte de Atiba, Kurumi , o Aare
Ona Kakanfo daquele tempo (sec XV) renegou suas atribuições. Mas outras nações
Iorubas discordaram dele, para que a sua indicação fosse sustentada. Isso
motivou a guerra de Ijaiye, que ceifou a vida dos Kurunmi e todos seus cinco
filhos. Por esse motivo a sucessão do trono voltou-se para as duas principais
casas regentes Ladigbolu e Adeyemi.
Focus:
O que Kabiyesi pensa que é necessário
fazer para tornar mais relevante a instituição tradicional para a sua nação em
termos políticos?
Alaafin:
A instituição tradicional tem contribuído
para o discurso politico da nação. Alguns de nos tivemos problemas,
especialmente durante a era Abacha, por sermos muito audaciosos e francos.
Apesar de nosso oficio como Oba não participar em politica, nos fazemos
relevantes na realidade politica do pais oferecendo conselhos construtivos aos
lideres.
Nos temos canais através dos quais
atingimos as autoridades. Usamos tanto diplomatas quanto contatos pessoais para
darmos nossas sugestões, com a finalidade de aprimorar a nação. Fica para eles
a decisão de aceitar e agir por esses aconselhamentos.
Retirando do rico reservatório de
conhecimento e sabedoria dos nossos antepassados, Eu acredito que estamos
estrategicamente colocados para fornecer aconselhamento para os que estão no
poder, e guia-los para tomarem boas decisões. Isto porque, ontem hoje e amanhã
estão ciclicamente relacionados. Hoje é o futuro de ontem, e para amanhã, hoje
será o passado, portanto para que sejamos relevantes, olhamos substancialmente
para aquilo que aconteceu no passado e dai retiramos nossas sugestões.
Não estamos competindo com nossos
filhos e filhas que detém o poder politico na atualidade, mas numa democracia,
onde a utilidade de nossas soluções pragmáticas para problemas, da maneira como
foram experiências pela instituição tradicional, não deve ser sobre enfatizada.
A instituição tradicional é bastante relevante nesse esquema, porque está mais próxima
das raízes, onde reside o poder das massas. Os governantes tradicionais são
reverenciados e tomados em alta estima, tendendo a ter mais aderência e
controle sobre a população.
Como pais tradicionais da nação não
cessaremos de aconselhar concretamente e sugerir para as autoridades, no
beneficio de nosso povo. É com eles escutar-nos ou agir de outo modo.
Focus:
O que VM. fazia antes de ascender ao
trono de seus antepassados?
Alaafin:
Eu era um corretor de seguros antes de
me tornar o Alaafin de Oyó. O concurso para a minha indicação para Alaafin
começou em 1968. Fui convidado junto com dez outros candidatos de minha casa
regente que concorriam para a vaga no trono. Minha candidatura foi aprovada
pelos canais competentes, (através de Babayaji, que é a cabeça mor da princesa).
Ele nos levou para Oyomeji analisar e passamos por uma serie de procedimentos.
Ha três parâmetros pelos quais somos
julgados. O primeiro é a elegibilidade, que é a nossa proximidade com a coroa.
Em segundo lugar a popularidade, e em terceiro a capacidade de carregar a
responsabilidade no oficio de Alaafin de Oyó. Fomos colocados diante de uma
rigorosa observação e questionário no fim dos quais eu obtive sucesso.
Entretanto, o governo na época se
recusou de me dar o endosso para minha indicação, dizendo que o procedimento
não estava correto, mas nos sabíamos que aquela ação era mais politica, devido
aos aborrecimentos com meu falecido pai, quando tinha sido Alaafin.
O processo recomeçou novamente, no
entanto Oyomesy me selecionou, e pela segunda vez Eu fui recusado na aprovação
do governo. Uma imensa pressão foi depositada sobre Oyomesy contra minha
escolha porque o governo tinha investido interesse no seu próprio candidato.
Mas Oyomesy ficou firme! O processo foi colocado em seguida em ponto morto, até
o termino da guerra civil, quando começaram a afrouxar. E Oyomesi me selecionou
de novo.
Fui escolhido pelos fazedores de reis
no dia 18 de Novembro de 1970 e o governo aprovou e promulgou a minha coroação
em Dezembro de 1970, e eu me mudei para o palácio apos completar os ritos necessários.
Durante o processo, somos introduzidos
nos mistérios de vários deuses, como Ifa e Xangô. Também somos preparados para
nos tornarmos os representantes diretos dessas divindades na terra. Você é
iniciado para aprender os cânticos, os provérbios e os Orikis de todos os Obas
antecessores.
Você tem que ser capaz de conhecer as
canções que louvam Ifa, assim como compreender os sons e os tambores de todo o território
Ioruba, tais como Bata, Apekpe, Gangan, Dudun, Shekere, e Agogô. Somente após o
domínio desses tópicos é que você é coroado.
Fui coroado numa cerimonia
impressionante no dia 14 de Janeiro de 1971.
Focus:
Kabiyesi, VM. costumava lutar box,
ainda pratica?
Alaafin:
Eu também corro jogo futebol, mas as
pessoas me conhecem mais pelo box. Já obtive prêmios nestes e noutros esportes.
E ainda corro e faço caminhadas. Faço por volta de seis quilômetros diários
quando o tempo permite, e não tenho compromissos oficiais, nos sábados e
domingos. Eu ainda me seguro bem. E devido solicitação da minha responsabilidade,
tento não ter momentos de monotonia na minha vida. Tenho boa saúde.
Focus:
Qual a comida favorita de Kabiesy?
Alaafin:
Como Amala, Abula e Ogi. Comida normal,
simples!
Focus:
Existe algum choque entre a sua fé como
muçulmano e as solicitações de seu oficio da tradicional custódia a suas
heranças culturais?
Alaafin:
A raça Ioruba é das mais organizadas no
mundo. Somos liberais no sentido de que não é permitida à religião galgar o
governo.
Eu não me incomodo qual a fé que você
pratica, dentro do meu gabinete de Alaafin, o que me importa é a sua
contribuição para melhorar a nossa comunidade. Isso é essencial.
Como pai de todos os Alaafin pratica
sua própria religião sem discriminar ninguém na escolha de sua inclinação
religiosa.
Posso recitar o Corão assim como fazer
referências à Bíblia. Mas também me sinto à vontade com os sacerdotes de Ifá
assim como posso me comunicar com as divindades de Xangô nas suas próprias línguas.
Sou liberal naquilo que concerne à
religião. Mas não brinco com minhas preces como muçulmano porque eu aprecio
muito o Corão. Deve ser do vosso interesse saber que fui criado num lar
estritamente cristão, em Lagos, onde também frequentei uma escola católica. Sou
uma livre mistura.
Fonte:
Focus Magazine
A civilização começou do reino Ioruba.
Friday, August 22, 2003
London, UK
© 1999-2006 NIGERIAWORLD.COM
Minha tradução
Civilisation Started From Yoruba
Kingdom
Retrato:
Alafin de Oyó retratado em 1978, no palácio
real de Oyó.
Sua Majestade o Alafin de Oyó
Iku Baba Yeye Oba Lamidi Olayiwola
Adeyemi III
Atual presidente vitalício de conselho
de obas e chefes.
Coleção do Palácio Real
Maio de 1978 no Palácio Real de Oyó
Nigéria
Tela SM. O Alafin de Oyó
Artista John Howard Sanden